O que configura um fenômeno fascista: uma perspectiva marxista e da classe trabalhadora
Audi Roberto Rodrigues*
Nesse primeiro momento, torna-se necessário fazer uma diferenciação conceitual e ideológica, para que possamos evitar uma confusão que é muito bem explorada pelos conservadores, que é a seguinte: A palavra fascismo pode significar duas coisas diferentes. Temos: o Partido Nacional Fascista Italiano, de Benito Mussolini, criado em 1921. E o fascismo como fenômeno político-ideológico.
Concentremos nossa discussão no segundo, mas porque enfatizar logo de início essa diferença? Pois tonou-se bastante comum, fascistas utilizarem dessa confusão para dizer que não pertencem a respectivo campo ideológico. Argumentando que, “ o fascismo não tinha tal coisa”, se referindo ao fascismo histórico (1921-1945) e não ao que realmente interessa, que é o fascismo como um fenômeno político-ideológico, que não ficou no século passado.
Dito isso, não existe uma percepção/definição única e encerrada do que é fascismo. Porém, não podemos tratar o termo como apodítico, ou seja, algo que o próprio nome explica. Nesse sentido, segundo a tese da nacional comunista de 1933, exposta como recomendações sobre de que maneira, os trabalhadores deveriam tratar o fascismo, foi brevemente definido como:
“Fascismo é a ditadura terrorista aberta dos elementos mais reacionários, mais chauvinistas, e mais imperialistas do capital financeiro. O fascismo tenta assegurar uma base maciça para o capital monopolista entre a pequena burguesia, atraindo o campesinato, artesoes, funcionários de escritório e servidores civis que foram retirados de seu curso normal de vida, penetrando na vida desses trabalhadores“. (EXTRATOS DAS TESES DA DECIMA TERCEIRA PLENARIA SOBRE FASCISMO, VOLUME III, 1933)
De acordo com essa visão, o crescimento do fascismo durante os anos 20/30 do século passado significou mudanças estruturais no Estado burguês, mas que conseguiu manter seu estado de dominação intacto sobre a classe dominada. Outro ponto que vale reflexão, é que em todos os momentos de crise do capitalismo ele se utilizou de algo para manter seu projeto de exploração e dominação, nesse caso foi a ideologia fascista. Assim como no século passado, podemos observar que em nossos dias acontece basicamente a mesma coisa.
Por conseguinte, “nascido do próprio útero da democracia burguesa, o fascismo aos olhos dos capitalistas seria a forma de salvar o capitalismo do colapso”. (VOLUME III,1933) Tornando-se, nesse sentido, impossível dissociar o fascismo do próprio sistema capitalista. Atentando que, em todos os momentos de dificuldade do capital e alguma relativa organização da classe trabalhadora, esse (Capitalismo) se utilizou de forças que barrassem o ímpeto revolucionário e mantivesse todo a estrutura de dominação.
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Nessa perspectiva, o fascismo teria alguns pontos que merecem ser colocados:
1- o fascismo como sendo um fenômeno político-ideológico, não sendo apenas um fenômeno histórico que ficou no passado. Pelo contrário, sua visão de mundo e bases teóricas estão presentes como nunca em nossa sociedade.
2- É um fenômeno de massas, ou seja, ele consegue angariar apoio de ampla parcela da sociedade, para legitimar suas políticas e em casos como na Alemanha, suas atrocidades.
3- o Fascismo é conservador, reacionário.
4- Chauvinista, sendo entendido como grupos ou movimentos que se definem como ultranacionalistas, mas que isso, grupos que além de colocarem seu país em primeiro lugar, agem para descartar o outro e em último caso, elimina-lo.
No último ponto deixei o que ao meu ver, é o mais importante e que melhor define fascismo, nessa perspectiva que estamos trabalhando. Que seria: a defesa do capitalismo. Ou seja, o surgimento do fascismo está intrinsicamente atado a crise do capitalismo e ao declínio de suas instituições. Crise essa que é caracterizada por uma escalada de ataques a classe trabalhadora, rebaixando também a classe intermediária a níveis sociais mais baixos do sistema capitalista. Assim, segundo CLARA:
“As raízes do fascismo estão, de fato, na dissolução da economia capitalista e do Estado burguês. Já havia alguns sintomas da proletarização de camadas burguesas no capitalismo pré-guerra. A guerra destruiu a economia capitalista a partir de suas bases. Isso é evidente não apenas pelo empobrecimento assustador do proletariado, como também pela proletarização de amplas massas pequeno e médio burguesas, na situação de calamidade entre os pequenos camponeses e na aflição melancólica da ‘intelligentsia’“. (ZETKIN, 1923)
Em suma, nesse pequeno texto quis trazer alguns pontos interessantes para que possamos pensar o fascismo não só como um fenômeno de extrema direita e reacionário, mas como um movimento que acima de tudo defende os interesses do capital, se utilizando da própria estrutura do Estado burguês para angariar apoiadores e chegar ao poder. A possibilidade de evita-lo, depende das forças de luta do proletariado, mas que infelizmente estão paralisadas e desintegradas pelas forças da social democracia, camuflada em uma dita democracia burguesa mas que acaba sendo o suporte necessário que os fascistas precisam para se organizarem e colocarem em pratica a luta contra os trabalhadores.
Referências bibliográficas
Extratos das Teses da decima terceira plenária sobre fascismo, o perigo das Guerras, e as tarefas dos partidos comunistas. Dezembro de 1933 in, The. Documents, VOLUME 111, (1929-1943). Selected and Edited by Jane Degras.
ZETKIN, clara, como nasce e morre o fascismo, 1923.
https://www.youtube.com/watch?v=49yAYXn2n7s&t=223s
*Audi Roberto Rodrigues é graduando em história pela Universidade estadual da Paraíba. Pesquisador do Núcleo de história e linguagem contemporânea.
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