Bolsonaro sempre ensinou que a morte é a solução
Bolsonaro anda quieto desde que perdeu as eleições, mas sua mensagem para a posteridade é que os seguidores nunca desistam de fazer o que é errado se acreditarem, de coração, que na verdade só eles estão certos. A morte, para Bolsonaro, nunca foi um problema, e sim uma solução. Para seus seguidores, também. Foi ele quem ensinou, muito tempo antes de se tornar presidente, que esse país só iria pra frente “quando nós partirmos para uma guerra civil”. A ideia era fazer “o trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil”. Com um detalhe: numa guerra do tipo, ensinava Bolsonaro, “vai morrer (sic) alguns inocentes”, mas “tudo bem”
Matheus Pichonelli, Yahoo
De uma coisa Jair Bolsonaro (PL) pode se orgulhar: em quatro anos de governo, ele conseguiu despertar o pequeno Bolsonaro que habitava em uma multidão de potenciais criminosos espalhados pelo país.
Nas investigações que apuram as circunstâncias de um atentado frustrado em Brasília, um dos suspeitos contou à polícia que sua ideia era explodir bombas em aeroportos e torres de transmissão elétrica.
Era como se, engajados em reverter a derrota das urnas do presidente, os terroristas prestassem homenagens ao jovem militar que sonhava em instalar bombas em unidades militares em protesto contra baixos salários.
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Bolsonaro anda quieto desde que perdeu as eleições, mas sua mensagem para a posteridade é que os seguidores nunca desistam de fazer o que é errado se acreditarem, de coração, que na verdade só eles estão certos.
Vale tudo para vencer, fugir da responsabilidade e da admissão das derrotas. Inclusive buscar refúgio em realidades paralelas onde só é bem-vindo quem pensa igual.
No auge da pandemia, Bolsonaro escreveu em pedra o seu tratado a respeito do desprezo pela vida e pela dor da perda. Suas palavras ditas na época hoje servem como modelo e inspiração.
A morte, para ele, nunca foi um problema, e sim uma solução. Para seus seguidores, também.
Vai ver é por isso que o potencial morticínio que seria detonado junto com as bombas de seus seguidores não serviu como argumento de desmobilização.
Pelo contrário.
Foi seu mestre quem ensinou, muito tempo antes de se tornar presidente, que esse país só iria pra frente “quando nós partirmos para uma guerra civil”. A ideia era fazer “o trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 mil, começando com o FHC”.
Com um detalhe: numa guerra do tipo, ensinava Bolsonaro, “vai morrer (sic) alguns inocentes”, mas “tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”.
Uma vez eleito presidente, Bolsonaro não fez outra coisa se não guerrear.
Na pandemia, ele alvejou quem estivesse à frente de seu plano, detalhado ao longo da CPI da Covid, para provocar a tal imunidade de rebanho às custas de inocentes sem histórico de atleta. Lutou até onde pode contra vacinas, a ciência e as orientações sanitárias.
Não teve dia em que, diante da morte, Bolsonaro não tenha corrido para posar como a versão do tenente-coronel Bill Kilgore, de “Apocalypse Now”, ao dizer como adorava o cheiro de napalm pela manhã.
Na reta final de seu mandato, não se sabe se Bolsonaro se recolhe por tristeza ou pela excitação em ver tanta gente convertida em sua versão reduzida, talvez piorada.
O militar indisciplinado que se tornou “indigno para a carreira das armas”, segundo o próprio jornal oficial do Exército, certamente se orgulha em ver tanta gente obediente prostrada na frente de quartéis a exigir que os habitantes da caserna façam por ele a guerra que sempre sonhou.
Faltava um plano com atentado a bombas para que seus seguidores se convertessem em uma versão dos velhos tempos do ídolo incendiário que tanto idolatram. Não falta mais.
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