As lições do 8 de janeiro: sem punição forte o golpismo se fortalecerá
O dia de ontem deve representar um marco na história política nacional, mas também um marco de uma virada na atuação das lideranças e instituições que devem proteger a Democracia e o Estado de Direito
Matheus Firmino*
Os atos golpistas de ontem em Brasília foram sem dúvida o ataque mais severo à democracia no Brasil desde o Golpe de 1964, porém, não foi o único, não foi isolado ou sequer espontâneo. Foi construído, programado, ensaiado e “fermentado” durante anos. Isso não é uma novidade.
Não são novidades as declarações de ameaça à democracia por parte do ex-ocupante do Palácio do Planalto, de Generais das Forças Armadas, de blogueiros e agitadores de extrema direita. Não é novidade a campanha de disseminação de ódio contra as minorias, contra as políticas sociais e contra a própria política, campanha esta baseada em mentiras para atacar o sistema eleitoral brasileiro e abrir caminho para a mais arriscada, porém ainda não última, cartada dos golpistas.
Porque ainda não é a última?
É simples e está tão visível aos olhos que parece ser imponível de tão obvio. Tudo que vem acontecendo no país são tentativas de causar o caos e gerar uma instabilidade sem precedentes e dessa forma ir testando todas as formas possíveis de derrubar a democracia.
O golpe de 2016 que derrubou o Dilma foi uma nova forma de dar Golpe com “ares” de legalidade, e ainda não se pode perder de vista que a eleição de Bolsonaro foi um recado da aliança ELITE/MILITARES que dizia “nós aceitamos qualquer coisa, menos um governo democrático e que seja a favor de políticas sociais fortes”.
O fato é que a democracia tem resistido e a eleição de um novo Governo Lula foi uma derrota imensa para essa aliança antidemocrática, as últimas eleições também significaram que as formas mais “softs” de golpe não estão mais dando certo. Assim o jogo virou e eles entenderam muito bem.
O dia de ontem deve representar um marco na história política nacional, mas também um marco de uma virada na atuação das lideranças e instituições que devem proteger a Democracia e o Estado de Direito. Lula precisa assumir de fato o papel de Comandante Supremo das Forças Armadas, pois até agora ele vem apenas tolerando todo tipo de insubordinação, como a renúncia antecipada dos Comandantes das FFAA e a troca de comando antes do prazo previsto, tudo isso porque os generais não aceitaram o fato de Lula agora ser seu chefe. Lula precisa ainda demitir de imediato o Ministro da Defesa, José Múcio, que foi sim uma imposição dos Generais.
É preciso ainda que o Judiciário e o Legislativo deem encaminhamentos necessários aos processos que possam julgar e punir imediatamente todas as forças políticas e econômicas que fomentaram e coordenaram todos esses atos, de parlamentares à empresários financiadores, de youtubers ao tiozão do zap que invadiu um dos palácios. É preciso ainda convocar os Governadores lhes responsabilizar sobre qualquer ato de omissão ou participação de oficiais das Polícias Militares estaduais em qualquer intento golpista, o alinhamento com o pensamento fascista/bolsonarista nas PM’s também não é uma novidade.
As últimas horas nos dizem algo muito sério, que não há volta. Ou o Governo Federal coordena um grande processo de defesa do Estado Democrático de Direito e pune fortemente todos os responsáveis ou o ânimo dos golpistas só se fortalecerá.
Não há conciliação possível com golpistas, sem anistia!
*Matheus Firmino é licenciado em Ciência Sociais, mestre em Sociologia, professor e fotógrafo.
→ SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… considere ajudar o Pragmatismo a continuar com o trabalho que realiza há 13 anos, alcançando milhões de pessoas. O nosso jornalismo sempre incomodou muita gente, mas as tentativas de silenciamento se tornaram maiores a partir da chegada de Jair Bolsonaro ao poder. Por isso, nunca fez tanto sentido pedir o seu apoio. Qualquer contribuição é importante e ajuda a manter a equipe, a estrutura e a liberdade de expressão. Clique aqui e apoie!