Pesquisador viraliza por ter previsto terremoto que matou milhares na Turquia e Síria
Menos de três dias antes do terremoto, professor holandês publicou em sua conta oficial do Twitter que ocorreria um abalo de magnitude 7.5 na mesma região do local da tragédia. Ele também subiu um vídeo no Youtube para fazer o alerta. Apesar da impressionante precisão, especialistas criticam os métodos do pesquisador e falam em 'coincidência'
“Mais cedo ou mais tarde haverá um terremoto de 7.5 nesta região (centro-sul da Turquia, Jordânia, Síria, Líbano)”, escreveu Frank Hoogerbeets em uma publicação na sua conta oficial no Twitter no último dia 3 de fevereiro (veja abaixo).
Apenas três dias depois, a Turquia e a Síria seriam atingidas por um terremoto de magnitude 7.8. O abalo de segunda-feira (6) fevereiro foi o maior registrado na região desde 1939.
O tuíte com a previsão de Frank Hoogerbeets foi descoberto por internautas e logo se tornou uma das postagens mais curtidas da rede social sobre a tragédia. Até a publicação dessa reportagem, o post do pesquisador já acumula 177 mil curtidas e 48 mil compartilhamentos. Ele também havia publicado um vídeo no Youtube no dia 2 de fevereiro.
Por conta da publicação, diversos veículos da imprensa internacional tentaram entrevistar Hoogerbeets. “Meu coração está com todos os afetados pelo grande terremoto no centro da Turquia. Como afirmei anteriormente, mais cedo ou mais tarde isso aconteceria nessa região, assim como nos anos de 115 e 526. Esses terremotos são sempre precedidos por geometria planetária crítica, como tivemos de 4 a 5 de fevereiro”, disse o pesquisador holandês para o tabloide britânico Daily Star.
(continua após o post)
Sooner or later there will be a ~M 7.5 #earthquake in this region (South-Central Turkey, Jordan, Syria, Lebanon). #deprem pic.twitter.com/6CcSnjJmCV
— Frank Hoogerbeets (@hogrbe) February 3, 2023
Questionado por outros estudiosos
Especialistas em terremotos questionam os métodos de Hoogerbeets. Isto porque o holandês trabalha para o Solar System Geometry Survey (SSGEOS) — um instituto de pesquisa que diz monitorar a “geometria dos corpos celestes” para prever terremotos na Terra, sem qualquer ligação com institutos científicos ou equipamentos de medição de atividades sísmicas.
De acordo com o climatologista Brian Brettschneider, a ‘previsão’ de Hoogerbeets não passa de coincidência. “Para que todos saibam, o Sr. Hoogerbeets prevê continuamente terremotos com base em: A) alinhamentos planetários e B) clima. Ambos não fazem sentido e são obviamente absurdos. Se você está prevendo um grande terremoto todos os dias, mais cedo ou mais tarde estará correto e as pessoas pensarão que você é um gênio”, disse.
Hoogerbeets rebateu: “Um renomado climatologista afirma que eu ‘prevejo um grande terremoto todos os dias’. Muito se fala sobre o meu trabalho, mas pouco é verdade. Observe também as palavras ‘é claro que não fazem sentido’ — o que significa que não precisamos investigar porque não pode ser verdade”.
Terremoto na Turquia
Equipes de resgate na Turquia e na Síria conseguiram retirar mais de 8 mil pessoas dos escombros dos terremotos. O número de mortos ainda é parcial e passou de 7,2 mil. Desde a madrugada de segunda-feira (6), a Turquia registrou mais de 280 tremores secundários, e alguns abalos um pouco mais fortes. As autoridades turcas estimam que o número de prédios destruídos pode chegar a 11 mil.
Nesta terça-feira (7), o presidente Recep Tayyip Erdogan decretou estado de emergência em 10 províncias por três meses. Erdogan mandou abrir hotéis que estavam fechados para o inverno para receber os desabrigados e agradeceu o apoio da comunidade internacional. Disse que já recebeu ofertas de ajuda de 70 países e 14 organizações internacionais, e falou por telefone com 18 chefes de governo.
Na Turquia e na Síria, mais de 23 milhões de pessoas foram afetadas, 1,4 milhão delas são crianças. A coordenadora alemã da Cruz Vermelha elogiou o preparo dos serviços de emergência da Turquia, mas ressaltou que uma tragédia dessa dimensão excede a capacidade de qualquer país.
Para entender a tragédia
Segundo especialistas e centros de pesquisa de atividades sismológicas, os principais pontos que podem explicar, em parte, o tamanho da destruição provocada são:
1. O fato de que a Turquia fica espremida entre três placas tectônicas que se atritam — a da Eurásia ao norte, a da África-Arábia ao sul, e a Placa da Anatólia.
2. Desta vez, o epicentro do tremor, ou seja, o ponto da superfície onde o terremoto é primeiro sentido, foi perto da cidade de Gaziantep, uma região no centro-sul da Turquia bem perto da fronteira com a Síria e próxima do encontro dessas placas.
3. Segundo o Centro Alemão de Pesquisa em Geociências, esse epicentro foi a 10 quilômetros da superfície, uma profundidade considerada baixa, muito próxima ao solo. O tremor de 1939, por exemplo, aconteceu a uma profundidade de 20 quilômetros.
4. Além de toda essa enorme quantidade de energia liberada inicialmente, de acordo com o USGS, o terremoto desta segunda foi seguido, 11 minutos depois, por um tremor secundário de magnitude 6,7 e, horas mais tarde, por um de magnitude 7,5, que provocaram maiores destruições.
