Óleo da lata da sardinha faz mal para a saúde? Mito ou verdade?
Dados da literatura mostram que alguns nutrientes solúveis e importantes da sardinha migram para o óleo. Um exemplo é o ômega-3, diz engenheira de alimentos
Beatriz Coutinho*, O Globo
A sardinha enlatada tem, cada vez mais, conquistado o prato daqueles que não têm tempo e querem manter uma dieta. O sabor, os nutrientes e a praticidade acompanham a variedade que o alimento oferece, indo bem com saladas, patês, omeletes e até na pizza. Mas é no preparo que a dúvida surge: afinal, o óleo da conserva pode fazer parte da receita? A engenheira de Alimentos da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor Proteste, Mylla Moura, afirma que sim — e destaca benefícios da prática.
“Dados da literatura mostram que alguns nutrientes solúveis e importantes da sardinha migram para o óleo. Um exemplo é o ômega-3. Parte dos seus micronutrientes, como o EPA (ácido eicosapentaenóico) e DHA (ácido docosahexaenoico), passam da sardinha para o óleo”, explica a engenheira.
O ômega-3 é um ácido graxo insaturado que desempenha um papel importante no organismo humano, sobretudo na construção da estrutura celular. Porém, por não ser sintetizado pelo corpo, a alimentação — como óleos vegetais, peixes, verduras e frutas — torna-se um dos principais meios para suprir a demanda pelo nutriente.
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A Proteste avaliou seis marcas de sardinha em lata conservada em óleo e os especialistas se surpreenderam com o resultado. A associação afirmou que todas são de excelente qualidade, de acordo com as análises baseadas em regulamentos do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Metais pesados
O estudo também responde outra dúvida dos consumidores. Dessa vez, em relação aos metais pesados presentes no óleo ou no líquido em conserva. A engenheira disse que as tabelas nutricionais expostas nas latas, com valores em gramas, já consideram a mistura do pescado e do líquido em conserva. Assim, o estudo garante que além dos metais estarem dentro do limite previsto pela legislação vigente — tornando o alimento seguro para consumo —, a concentração estaria por todo o alimento da lata.
“O interessante nesse tipo de produto é que o próprio fabricante, a própria indústria e a Anvisa entendem aquela porção como sendo o produto da sardinha mais o óleo ou o líquido de conserva que estiver ali. Então, se você seguir a recomendação de consumo, você já terá, com os outros alimentos que irão compor sua refeição, uma dieta equilibrada”.
Benefícios para a saúde
Mais econômica para o bolso, o valor da sardinha está nos nutrientes. O pescado é rico em ômega-3, que pode diminuir em até 30% o risco para doenças cardiovasculares e os riscos de desenvolver câncer de mama. Também contém cálcio, presente nas espinhas, as quais, após o processo de enlatamento, tornam-se mais palatáveis e com menos risco de machucar na mastigação e deglutição.
Estudos apontam que, em 60 gramas da mistura de sardinha e do óleo em conserva, a concentração do cálcio pode variar entre 100mg e 200mg, valores similares encontrados em um copo de leite. A sardinha também é rica em proteína e vitaminas, entre as quais, destaca-se a B12, que auxilia no funcionamento do cérebro.
Sobre o uso do óleo, a engenheira deu dicas de substituições simples e inteligentes, que podem ser feitas no dia a dia. Para quem deseja seguir uma alimentação mais saudável e à risca, a opção também é investir em sardinhas conservadas em óleo de oliva extravirgem. Alguns óleos, vale lembrar, podem diminuir os níveis sanguíneos de LDL (colesterol “ruim”) e aumentar o HDL (colesterol “bom”), enquanto outros podem fazer exatamente o oposto.
“Quando você for preparar uma torta de sardinha, por exemplo, em vez de colocar um óleo de soja, você pode fazer uma substituição ou parte dessa substituição pelo óleo da conserva. Podemos aproveitar as vitaminas e principalmente o ômega-3. Temos pessoas tomando cápsulas do ômega-3 hoje em dia, então o que pudermos aproveitar, vamos aproveitar”, exemplificou Moura.
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E se o paladar quiser variar, uma outra opção é o atum enlatado. Embora tenha composição diferente da sardinha, este tipo de peixe também é rico em ômega-3, além de ser excelente fonte de proteína e minerais. Porém, quando o assunto é cálcio, a sardinha ainda leva a melhor, já que é processada com a espinha.
Moura concluiu destacando que apesar do consumo de pescado ser encorajado, toda dieta deve ser acompanhada de um nutricionista, que avaliará cada caso em particular.
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