Refinaria que Bolsonaro vendeu para árabes valia R$ 10 bilhões a mais do que foi pago
Um mês após retornar de Abu Dhabi, Bolsonaro vendeu refinaria da Petrobras para os árabes a preço de 'banana'. Levantamento do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis que a refinaria foi vendida por pelo menos R$ 10 bilhões a menos do que valia
No dia 30 de novembro de 2021, pouco mais de um mês após a comitiva do então presidente Jair Bolsonaro (PL) retornar do Oriente Médio, o governo brasileiro vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada em São Francisco do Conde, na Bahia seus ativos logísticos associados para o Mubadala Capital, fundo financeiro de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes.
A negociação levou meses – desde a aprovação de compra em março até ser concluída em novembro – e, após o cumprimento de todas as condições, a refinaria foi vendida pela Petrobras por US$ 1,8 bilhão (o equivalente a R$ 10,1 bilhões na época).
O valor ainda foi ajustado, pois inicialmente foi vendida por US$ 1,65 bilhão, mas sofreu correção monetária e das variações no capital de giro, dívida líquida e investimentos até o fechamento da transação.
Na época, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) alegou que a refinaria foi vendida pela metade do preço que valia. A partir de cálculos estimados pelo instituto, eles avaliavam o valor da refinaria entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões.
O valor de venda da refinaria chegou a ser questionado em audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados daquele ano.
Contudo, o argumento da Petrobras era que os valores haviam sido ajustados por causa dos impactos da pandemia do coronavírus. Para o Ineep, a ideia de que a pandemia teria provocado profundas mudanças nos parâmetros foi equivocada.
Com a venda, a Acelen, empresa criada pelo Mubadala Capital para a operação, assumiu a partir de 1º de dezembro de 2021 a gestão da Refinaria Landulpho Alves, que passou a se chamar Refinaria de Mataripe.
Joias para Michelle
O valor da refinaria vendida naquele ano voltou a ser debatido nos últimos dias com a repercussão do caso das joias avaliadas em R$ 16,5 milhões que o governo Jair Bolsonaro tentou trazer ao Brasil de forma ilegal.
As joias – apreendidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, no dia 26 de outubro de 2021 – estavam na mochila de Marcos André dos Santos Soeiro, assessor do então ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque, que retornava ao Brasil na comitiva após uma visita ao Oriente Médio.
Os bens seriam presentes para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro, de acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo.
Representantes do governo Bolsonaro foram 151 vezes à Arábia Saudita
A Arábia Saudita foi destino frequente de viagens oficiais do governo Bolsonaro. Sob o mandato do ex-presidente, representantes do Brasil, foram 151 vezes ao país entre 2019 e 2022. O número é quase cinco vezes maior do que as 32 viagens oficiais realizadas nos três anos anteriores, entre 2016 e 2018, período de Michel Temer. A proximidade de Bolsonaro com o mundo árabe não se restringiu aos sauditas, já que ele também teve bom trânsito em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
O levantamento do Brasil de Fato, feito com base em dados do Portal da Transparência, mostra que logo no primeiro ano do mandato de Bolsonaro, em 2019, foram 82 viagens. No ano seguinte, mais 23 e, em 2022, outras 40. Em 2021, ano marcado por restrições de circulação internacional causadas pela pandemia da covid-19, seis viagens foram registradas. No total, foram gastos cerca de R$ 2,2 milhões contra R$ 539 mil das 32 missões realizadas entre 2016 e 2018.
Além da Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos foram destino de viagem oficial do governo Bolsonaro. Em novembro de 2021, em sua segunda viagem oficial pelo país, o clã Bolsonaro fez questão de deixar claro o clima amistoso entre o ex-presidente e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, o sheik Mohammed bin Zayed.
Na ocasião, pelo Twitter, Eduardo Bolsonaro disse que seu pai e o sheik “mais pareciam bons amigos se revendo”, acrescentando que a “relação amistosa” entre ambos era positiva para o Brasil, pois se convertia em investimentos árabes no país. O deputado citou o fundo Mubadala, que tem sede nos Emirados Árabes Unidos e do qual o sheik Zayed é o presidente.
O Mubadala é o fundo soberano de Abu Dhabi e reúne reservas de capital usando esses recursos em investimentos. Na ocasião, tinha cerca de US$ 243 bilhões (cerca de de R$ 1,3 trilhão no câmbio atual) investidos em mais de 50 países e vinha aumentando seus aportes no Brasil. Comprava ativos a preços baixos e crescia enquanto a economia brasileira patinava. Ainda naquele mesmo mês de novembro de 2021, poucos dias antes do amigável encontro entre Bolsonaro e Zayed, o fundo anunciou a aquisição do controle da concessionária Metrô Rio. Antes disso, em 2019, já havia comprado parte do controle da Rota dos Bandeirantes, rodovia pedagiada em São Paulo, que pertencia à Odebrecht.
🇦🇪 Presidente @jairbolsonaro encontra com o Princípe Herdeiro de Abu Dhabi, Sheik Mohammed bin Zayed, mas mais pareciam bons amigos se revendo.
E essa relação amistosa se converte em investimentos emiráticos no Brasil, como o fundo Mubadala que…
(Continua👇) pic.twitter.com/OWgqNHesj2— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) November 15, 2021
Com EM e RBA