Redação Pragmatismo
Saúde 24/Mar/2023 às 10:59 COMENTÁRIOS
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Estudos investigam o perigoso peso das redes sociais sobre a imagem corporal

Publicado em 24 Mar, 2023 às 10h59

Revisão de 50 estudos sugere associação entre o uso de plataformas como Instagram e TikTok e o risco aumentado de distúrbios alimentares em jovens insatisfeitos com o próprio corpo. Mais comuns em mulheres, os casos têm aumentado entre os homens

Estudos investigam perigoso peso redes sociais sobre imagem corporal

Paloma Oliveto, Correio Braziliense

Com mais de 70 milhões de casos em todo o mundo, segundo levantamento Global Burden Disease, os transtornos alimentares seguem em linha ascendente, com uma estimativa de 48% mais internações por problemas como anorexia e bulimia, apenas nos Estados Unidos, desde 2019. A tendência acompanha a popularidade das mídias sociais, especialmente entre jovens, diz um artigo publicado na revista Plos Global Public Health. Ao avaliar 50 estudos de 17 países, as autoras, da Universidade College London, na Inglaterra, encontraram forte associação entre o uso dessas plataformas, desconforto com a imagem corporal e padrões de alimentação prejudiciais.

A mídia social não é uma causa direta dos transtornos alimentares, destacam as cientistas. Porém, serve de isca para adolescentes, jovens e adultos já vulneráveis. A revisão da literatura científica produzida na Austrália, nos Estados Unidos e em países europeus e asiáticos baseia-se em entrevistas com pacientes e em pesquisas que analisaram a relação entre o engajamento nessas plataformas e a incidência dos problemas de saúde mental. “Concluímos que o uso das mídias sociais é um fator de risco plausível para o desenvolvimento de transtornos alimentares”, diz Koma Bhatia, autora correspondente do artigo.

Bhatia destaca que os estudos asiáticos mostram que, ao contrário do que se imaginava, a associação não é exclusividade de sociedades ocidentais, mas um problema de todo o mundo. “Com base na escala de uso de mídia social entre os jovens, essa questão merece atenção como uma questão emergente de saúde pública global.” O preço dos transtornos alimentares, ressalta, não é pago apenas pelo indivíduo. O artigo destaca que os custos nos sistemas de saúde são significativos, com hospitalizações e serviços primários e ambulatoriais. Por fim, no nível social, há redução da participação do paciente na força de trabalho e na educação.

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Mulheres, pessoas com índice de massa corporal (IMC) mais alto e aquelas com preocupações preexistentes com a imagem correm mais risco de danos potenciais pelo uso das mídias sociais, segundo os estudos, que incluíram participantes de ambos os sexos com idades entre 10 e 24 anos. As autoras ressaltam que uma revisão recente de 94 pesquisas revelou que, em média, a prevalência de algum distúrbio alimentar é de 8,4% (mulheres) e 2,2% (homens). “Embora o sexo feminino ainda represente a maior proporção de casos, o maior aumento está ocorrendo entre homens e minorias de gênero”, destacam, no artigo.

Onze estudos da meta-análise publicada na Plos Global Public Health encontraram associações estatísticas significativas entre o uso de mídia social e distúrbios nos comportamentos alimentares, como compulsão, uso de laxantes e dietas extremas. Um deles descobriu que 51,7% das adolescentes e 45% dos meninos pulavam refeições e faziam exercícios excessivos após a exposição às redes sociais.

Comparações

Segundo as autoras, 90% de 21 estudos que exploraram as comparações de aparência nas plataformas sociais detectaram uma “relação significativa” entre os sentimentos de inequação e autoaversão. Nos artigos qualitativos, as pesquisadoras detectaram que, “geralmente, as meninas investem pesadamente em fotos de si mesmas, endossam o ideal de magreza, fazem mais comparações com os outros e se envolvem em níveis mais altos de patologia alimentar desordenada, especificamente dieta e alimentação emocional”. Já os rapazes seguem um ideal mais musculoso, com objetivos de funcionalidade e condicionamento físico, em vez de perda de peso.

Os artigos analisados também destacaram que pessoas com pontuações elevadas de risco de transtorno alimentar ou com histórico do distúrbio são mais inclinadas a buscar conteúdo prejudicial para elas, como os muito focados em adequação a padrões físicos. “Elas podem ser mais suscetíveis a comparações e estão em maior risco de outros transtornos alimentares”, diz o estudo.

“Nossas descobertas indicam que características específicas do uso de mídia social (plataformas focadas na aparência, investimento em fotos e engajamento com tendências de inspiração fitness e inspiração em magreza) levam a preocupações com a imagem corporal, patologia alimentar desordenada e desfechos de saúde mental”, afirma Koma Bhatia. “Através das lentes da mídia social, outra pessoa sempre pode parecer melhor, mais magra ou mais bonita. Da mesma forma, o conteúdo pró-distúrbio alimentar é abundante, e a tendência #inspiraçãofitness ‘saudável’ pode estar alimentando novas ondas de distúrbios alimentares e patologia do exercício. O resultado é uma população de jovens em risco de imagem corporal corroída e uma maior probabilidade de se envolver em comportamentos alimentares desordenados compensatórios, como nossa análise mostrou.”

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“A adolescência é um período vulnerável para o desenvolvimento de problemas de imagem corporal, distúrbios alimentares e doenças mentais”, concorda Gary Goldfield, do Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de Ontário, no Canadá. Ele é o principal autor de um estudo publicado, no mês passado, pela Associação Norte-Americana de Psicologia que mostrou relação entre tempo reduzido nas redes sociais e autoaceitação corporal.

Aqueles que diminuíram em 50% o uso dessas plataformas tiveram uma “melhora significativa” na forma em que se sentiam sobre o peso e a aparência geral, comparados com o grupo que manteve a frequência nas redes. “As mídias sociais podem expor os usuários a centenas ou até milhares de imagens e fotos todos os dias, incluindo as de celebridades e modelos de moda ou fitness, o que sabemos levar a uma internalização de ideais de beleza inatingíveis para quase todos, resultando em maior insatisfação com o corpo peso e forma”, destaca Goldfield.

A pesquisa canadense foi realizada durante quatro semanas com 220 estudantes de graduação de 17 a 25 anos, cuja frequência nas mídias sociais foi rastreada. “Reduzir o uso da mídia social é um método viável de produzir um efeito positivo de curto prazo na imagem corporal entre uma população vulnerável de usuários e deve ser avaliado como um componente potencial no tratamento de distúrbios relacionados à imagem corporal”, aconselha.

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