Redação Pragmatismo
EUA 29/Mar/2023 às 17:31 COMENTÁRIOS
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Responsável por atentado em escola nos EUA era "muito talentosa" e "boa aluna"

Publicado em 29 Mar, 2023 às 17h31

Audrey Hale, que é ex-estudante da escola evangélica onde cometeu o massacre, passou a se identificar nos últimos meses como uma pessoa transgênero. Atentado surpreendeu a mãe de Audrey, que é uma conhecida ativista defensora das leis de controle de armas de fogo nos EUA. Polícia não descarta que o preconceito e a crise de identidade de gênero estejam na origem do ataque

Audrey Hale
Audrey Hale

Foi de colete balístico, chapéu vermelho, espingardas, pistola em punho e sem antecedentes criminais que Audrey Hale entrou na “The Covenant School”, uma escola cristã privada, fundada em 2001, com cerca de 200 alunos. Disparou e tirou a vida de seis pessoas, três delas crianças, com oito e nove anos. As demais vítimas são funcionários da instituição, com idades entre 60 e 65 anos.

A polícia recebeu chamadas sobre o massacre às 10h13m da manhã de segunda-feira (27) e 14 minutos depois neutralizou a agressora, que morreu no confronto com as autoridades.

Audrey Elizabeth Hale nasceu mulher no dia 24 de março de 1995, em Nashville, Tennessee, EUA. Sandy Durham, vizinha da família, mostrou-se surpreendida com o ataque perpetuado pela jovem que conhecia desde bebê: “Ela era muito querida. Não sei o que aconteceu, mas é muito assustador”.

“Não há nada que me levasse a crer que ela fosse capaz de tal coisa ou que ela, ou qualquer pessoa daquela família, teria acesso ou sequer usado uma arma de fogo. Eles não pareciam ser uma família que gosta de armas. Muito pelo contrário”, referiu um outro vizinho à ‘ABC News’.

Audrey Hale é descrita por quem a conhecia como uma pessoa “muito simpática” e “religiosa”. O reitor da Universidade de Arte e Design de Nashville, onde Audrey se formou em 2022, se pronunciou sobre a ex-aluna, lembrando que ela era uma “artista talentosa e boa aluna”.

No perfil onde apresentava o seu currículo, Audrey descrevia-se como designer gráfica e ilustradora. Além da arte, dizia “gostar de videogames, de ver filmes, e praticar esportes”. “Há uma parte infantil em mim que adora ir correr no parque. Os animais são a minha segunda paixão, por isso também gosto de passar tempo com os meus dois gatos”, escreveu a jovem.

Mas a aparente tranquilidade e normalidade que vivia parecem ter sido assombradas pelas dúvidas e inquietações de alguém que não se identifica com o gênero atribuído ao nascimento.

Nos últimos meses de vida, Audrey assumiu-se como uma pessoa transgênero, ou seja, não se identificava com o sexo feminino, mas sim com o masculino. Começou a usar os pronomes masculinos no Instagram e LinkedIn (apagados posteriormente) e iniciou a transição social. No entanto, as autoridades identificaram a autora do massacre como uma mulher.

Quando questionado se a crise de identidade de gênero poderia estar na origem do ataque, o chefe da polícia de Nashville, John Drake, afirmou que as investigações não descartam essa hipótese. “Há alguns indícios a esse respeito, mas estamos investigando todas as pistas”.

A “The Covenant School” é ligada à Igreja Evangélica Protestante na América. Em 2020, a Igreja condenou a homossexualidade e classificou as pessoas trans como “pecadores”, de acordo com o “New York Times”. As autoridades acreditam que Audrey ficou ressentida pelo tempo que passou naquela instituição, onde pode ter sido vítima de rejeição e preconceito sucessivas vezes.

Plano detalhado

As autoridades acreditam que Audrey premeditou o tiroteio, por causa dos mapas da escola, onde estavam detalhadas as entradas do edifício e a localização das câmaras de segurança, encontrados pela polícia na casa onde ela residia com os pais. A polícia encontrou ainda um manifesto onde estava descrito que “vai haver um tiroteio em massa em vários locais”, disse John Drake.

Numa breve entrevista telefônica à “ABC News”, a mãe da atiradora, Norma Hale, pediu privacidade e falou que este é um momento muito difícil para a família. “É muito, muito difícil este momento. Perdi a minha filha”, sublinhou.

Norma Hale é uma conhecida ativista anti-armas dos EUA, com várias publicações nas redes sociais que pedem regulamentação contra o acesso fácil e descontrolado às armas de fogo.

Mortes por armas de fogo nos EUA

Ataques a tiros mortais são comuns nos Estados Unidos, onde existem cerca de 400 milhões de armas de fogo em circulação que causaram mais de 45 mil mortes em 2020 por suicídio, acidente ou homicídio, segundo os últimos números publicados pelos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC).

Nesse ano, pela primeira vez, as armas tornaram-se a principal causa de morte entre menores de 1 a 19 anos, com 4.368 mortos, à frente dos acidentes de trânsito e das overdoses, segundo a mesma fonte.

Os massacres em escolas constituem uma pequena parte do total, mas deixam uma marca indelével na sociedade.

Um massacre ocorrido em 2018 em uma escola de ensino médio na Flórida desencadeou um movimento nacional liderado por jovens para exigir uma supervisão mais rigorosa das armas de fogo nos Estados Unidos.

Apesar da mobilização de mais de um milhão de manifestantes, o Congresso dos Estados Unidos não adotou uma lei mais dura porque muitos congressistas estão sob a influência da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), um grupo pró-armas.

Em um país onde milhões de americanos consideram que portar uma arma é um direito constitucional, os avanços legislativos recentes seguem sendo marginais, como a generalização de verificações de antecedentes criminais e psiquiátricos para poder comprar uma arma.

Segundo uma pesquisa da ‘ABC News’ e do ‘Washington Post’, realizada em fevereiro, 51% dos americanos são contra a proibição e apenas 47% são a favor.

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