Redação Pragmatismo
Notícias 02/Mai/2023 às 21:53 COMENTÁRIOS
Notícias

Votação do PL das Fake News é adiada na Câmara a pedido do relator

Publicado em 02 Mai, 2023 às 21h53

Pressão das Big Techs e ações orquestradas da oposição deram resultado: governo não consegue votos para aprovar o PL das Fake News e relator pede adiamento da votação. Ofensiva dos evangélicos também fez grande diferença. Usando o argumento de que "o PL vai acabar com a liberdade religiosa", grupo conseguiu virar diversos votos. Mas o posicionamento mais surpreendente foi o do PSDB, que de última hora declarou voto contrário ao PL, sendo que o autor da proposta é um tucano

pl das fake news
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, acolheu pedido do relator do PL das Fake News, Orlando Silva (PCdoB-SP), pelo adiamento da votação da proposta. Lira já havia dito que não colocaria o projeto em votação com risco de derrota. Na prática, o adiamento da votação representa uma vitória parcial dos bolsonaristas.

Quer receber as notícias do Pragmatismo pelo WhatsApp? Clique aqui e faça parte do nosso grupo!

Mesmo após mais de três anos de discussão sobre o tema, a extrema direita e as grandes empresas que controlam as redes sociais se aliaram para combater o PL. Unidos, plataformas e parlamentares bolsonaristas apelaram para as mentiras. Diante da pressão, o Parlamento rachou. “Peço para retirar da pauta de hoje. Para que possamos consolidar a incorporação de todas as contribuições que foram feitas, em um movimento de combater desinformação”, pediu Orlando.

O relator lembrou, ainda que de forma sutil, que o PL não tem nada a ver com as críticas da extrema direita. Bolsonaristas e bancada evangélica acusam a matéria de censura. Contudo, o foco do PL está na transparência dos atos e manuseio de algoritmos. O projeto busca combater crimes disseminados nas redes sociais e garantir a liberdade de discurso, como explicou Orlando. “Precisamos garantir liberdade de expressão, responsabilidade para as plataformas e transparência na internet. Esse é o tema. Não é do governo nem da oposição. É um tema do Brasil. Queremos produzir o melhor texto possível”.

O líder do Psol, Guilherme Boulos (SP), criticou o adiamento, mas aceitou a demanda do relator. “A cada dia que não votamos esse projeto, é terra sem lei na internet. Na semana do massacre em creche em Santa Catarina, o Ministro da Justiça apresentou mais de 400 perfis do Twitter de gente que estimulava massacre, o Twitter recusou retirar do ar. Vai continuar esse vácuo. A cada dia que essa Casa tarda, é um dia a mais que o Supremo Tribunal Federal (STF) vai tomar decisões. Mas respeitamos o pedido de Orlando de adiamento por mais alguns dias”, disse.

Posicionamento das lideranças

O líder do bloco do União Brasil, PP e demais partidos, André Fufuca (PP-MA), defendeu o adiamento. “É de consenso que fica inviável hoje a aprovação ou tramitação dessa matéria para a votação de todos. O relator recebeu mais de 90 emendas para um projeto que muitos querem se aprofundar. Então, gostaria de, pela boa-fé, que pudéssemos adiar essa votação para construirmos um texto que seja aprovado com ampla maioria. Peço a retirada de pauta, esse é o encaminhamento do maior bloco da Casa”.

Já o líder do bloco Republicanos, MDB, PSD e Podemos, Hugo Motta (Republicanos-PB) destacou a boa condução dos trabalhos por Orlando. Ele frizou o bom diálogo do deputado e concordou com o adiamento.

“Cumprimento o deputado pelo brilhante trabalho. Ele teve a capacidade de, ao longo da relatoria, ouvir sugestões. Procurou ser acessível a todos deputados na construção do relatório. Isso é unânime na Casa, a capacidade de diálogo de Orlando. Mas nosso bloco entende que deve haver regulamentação. Porém, diante da contaminação pela polarização na Casa, fruto do resultado da eleição, está inviabilizada a apreciação dessa matéria”, disse.

O voto contrário do PSDB

Antes do adiamento da votação, o líder da federação PSDB–Cidadania na Câmara, Adolfo Viana (PSDB-BA), publicou um vídeo nas redes sociais do partido tucano declarando sua orientação contrária ao PL das Fake News. A autoria do projeto, porém, é do senador Alessandro Vieira (SE), também do PSDB e favorável ao relatório apresentado por Orlando Silva (PCdoB-SP).

“Nós queremos que a população brasileira tenha total liberdade de expressão. No projeto, com agência reguladora ou sem agência reguladora, esse controle passará pelo Poder Executivo: hoje, do presidente Lula. Amanhã, de outro presidente. Nós não queremos que nenhum presidente tenha o controle da liberdade de expressão da população”, declarou.

Colega de partido de Viana e autor do projeto, Alessandro Vieira rebateu: “A decisão da bancada merece o meu total respeito, mas nada no projeto dá ao governo controle sobre a internet ou sobre os conteúdos postados em redes sociais. Pelo contrário, o projeto assegura ao usuário direitos na relação com as plataformas e protege crianças e adolescentes”.

Os evangélicos

A força-tarefa dos evangélicos foi considerada decisiva para o adiamento da votação. O grupo fez uma ofensiva nas bancadas para virar votos e conseguiu, inclusive com o Republicanos. O presidente da sigla, Marcos Pereira (SP), afirmou que não havia compromisso da bancada na votação do mérito, mas indicou votação favorável na urgência como um gesto a Lira.

O argumento dos evangélicos é de que a regulamentação das redes sociais poderia atingir a liberdade religiosa. Para rebater o discurso, o relator chegou a gravar um vídeo ao lado do deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), ex-presidente da frente, para garantir que a Bíblia é “intocável”.

Pressão das Big Techs

Parte da resistência se deveu à campanha das plataformas contra o projeto. O Google colocou uma mensagem em sua página oficial: “O PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”.

A atitude gerou reação das autoridades. O Ministério Público Federal encaminhou questionamentos à empresa.
O governo federal acionou a Secretaria Nacional do Consumidor, órgão vinculado ao Ministério da Justiça, para entrar com uma medida cautelar contra o Google.

A empresa negou privilegiar conteúdos negativos sobre o PL, mas apuração da ‘Folha de S.Paulo’ mostrou que nas buscas no Google foram privilegiados resultados contrários ao PL das fake news.

Quer receber as notícias do Pragmatismo pelo WhatsApp? Clique aqui e faça parte do nosso grupo!

Recomendações

COMENTÁRIOS