Redação Pragmatismo
Xenofobia 13/Mai/2023 às 20:31 COMENTÁRIOS
Xenofobia

Estudantes de Portugal voltam a fazer campanha pelo apedrejamento de brasileiros

Publicado em 13 Mai, 2023 às 20h31

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa diz que abriu um processo disciplinar para apurar ameaças contra brasileiros. Cerca de 20% dos alunos da instituição de ensino são cidadãos do Brasil. No doutorado, eles representam 58% dos inscritos

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Um estudante da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa foi acusado recentemente de fazer alusão ao apedrejamento de brasileiros. A direção da faculdade afirmou ter aberto um processo disciplinar para avaliar a conduta do aluno.

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Em 2019, na mesma instituição, um grupo já havia feito ataques xenofóbicos contra estudantes brasileiros. Na ocasião, uma caixa com pedras foi exposta com a indicação “grátis para atirar em um zuca [brazuca]”.

O novo episódio xenofóbico ocorreu na Reunião Geral dos Estudantes, em 20 de abril, quando um aluno-conselheiro da faculdade pediu a palavra para criticar uma carta entregue por brasileiros à comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que realizava uma viagem a Lisboa.

No documento, os brasileiros relatam dificuldades enfrentadas pelos imigrantes no país europeu, incluindo questões relacionadas ao ensino superior. O conteúdo aborda de questões burocráticas junto ao órgão migratório até o valor pago pelos estrangeiros, diferente do montante nas mensalidades para locais.

O grupo também chamou a atenção para casos de discriminação e relembrou o episódio com a caixa de pedras ocorrido em 2019. Naquela ocasião, o grupo satírico Tertúlia Libertas, que colocou a caixa no salão de entrada da faculdade, negou que a intenção fosse xenofóbica. Segundo eles, tratava-se de uma mensagem satirizando a grande quantidade de brasileiros na instituição.

Na reunião realizada em abril, o aluno Hélder Semedo, ex-presidente da Associação Acadêmica da Universidade de Lisboa, pediu a palavra para rebater os pontos apresentados pelos brasileiros. Além de criticar a carta e as denúncias, o estudante português rechaçou a menção ao episódio com a caixa com pedras, descrito por ele como uma brincadeira ocorrida há anos e da qual ninguém se lembrava.

Semedo também criticou o fato de os estudantes tratarem o presidente apenas como “Lula”. Em Portugal, a praxe é sempre incluir o sobrenome das autoridades, o que faz com que o chefe de Estado brasileiro seja citado como Lula da Silva em declarações oficiais e na imprensa.

O estudante expressou então sua interpretação da intenção dos autores com a carta: “Lula, é só para dizer que Portugal é um país péssimo, que somos super maltratados e mesmo assim somos tão burros que continuamos a ir para lá”. Ele finalizou dizendo que os autores “de fato mereciam levar com uma pedra”.

Acusado de xenofobia, Semedo foi suspenso das reuniões. Alunos brasileiros relatam, porém, o que veem como uma tentativa de abafar o caso, porque, sob a justificativa de desrespeito ao regimento, as falas de Semedo foram excluídas da ata do evento —e incluídas depois apenas por pressão dos brasileiros.

Aluno de mestrado na faculdade, o brasileiro Pedro Marangoni relata que o episódio causou indignação. “É claro que repudiamos [as declarações] e o fato de a associação de estudantes ter omitido isso da ata da reunião”, diz. Os estudantes brasileiros organizam um ato contra a xenofobia para a próxima terça (16).

Um dos organizadores, Carlos Diego, que fez parte do grupo que entregou a carta dos brasileiros à ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), reafirma a importância do conteúdo apresentado. “As declarações ofensivas foram feitas em uma reunião importante da universidade. Foi grave”, diz.

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