Redação Pragmatismo
Direita 23/Mai/2023 às 08:10 COMENTÁRIOS
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Vereadora de BH quer rebatizar viaduto com nome de Olavo de Carvalho

Publicado em 23 Mai, 2023 às 08h10

Viaduto professor Olavo? Vereadora de BH apresenta projeto de lei para mudar o nome do elevado Helena Greco, mãe de Heloísa e ícone do combate à ditadura militar instaurada no Brasil em 1964

Vereadora Flávia Borja
Vereadora Flávia Borja

Leandro Aguiar, TAB

Na fria manhã de segunda-feira, 15 de maio, a professora aposentada de história Heloísa Greco, 71, tomou um susto. Um amigo que trabalha na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte telefonou para dar uma informação que logo tornou-se notícia nos jornais da cidade: a Comissão de Legislação e Justiça tinha sob sua análise um projeto de lei para mudar o nome do elevado Helena Greco, mãe de Heloísa e ícone do combate à ditadura militar instaurada no Brasil em 1964.

Não só: a vereadora Flávia Borja (PP), autora do PL, também propôs que o viaduto passe a ser chamado “Professor Olavo de Carvalho”, prestando honras a um “gigante pensador”. “Olavo foi um grande referencial para o pensamento político brasileiro, descrevendo com maestria conceitos filosóficos complexos e tendo também escrito uma série de livros, inclusive best-sellers”, justificou, no projeto.

Se aprovado, o PL não será a primeira homenagem dos vereadores belo-horizontinos a Olavo. Em 10 de abril, uma sessão solene foi dedicada à memória do principal ideólogo do bolsonarismo. A ideia partiu de Uner Augusto (PRTB), que herdou a vaga de Nikolas Ferreira (PL), que partiu para Brasília para assumir o cargo de deputado federal no início do ano. A passagem de Uner pela Câmara, porém, foi rapidíssima: uma semana depois da homenagem, ele teve o mandato cassado devido a fraudes nas cotas de gênero constatadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A família Greco ficou indignada. De sua sala no Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, no pacato bairro de Santa Tereza, Heloísa contatou vereadores alinhados à esquerda, consultando-os sobre a possibilidade de aprovação do PL. Neta de Helena, a designer Júlia Greco, 29, levou a discussão ao Twitter. “Essa vereadora vai ter que passar por cima da minha família, que é pequena mas não é bagunça”, postou.

De Castelo Branco a Helena Greco

Dona Helena, como era conhecida, dedicou décadas a defender os direitos humanos. Nascida em 1916, engajou-se na militância aos 61 anos, quando um congresso de estudantes foi violentamente reprimido em BH.

O ano era 1977, e a pressão sobre a ditadura só aumentava: casos de tortura e assassinatos praticados por militares vinham à tona, um após o outro. Helena tomou parte na manifestação em repúdio à violência contra os estudantes, e a partir daí não parou mais. Tornou-se figura fácil na porta das delegacias, aonde ia acompanhar os presos políticos, denunciando abusos do Estado e causando dores de cabeça aos poderosos — e reações brutais de seus apoiadores.

A casa de dona Helena ficava no centro de BH, próxima ao então elevado Castelo Branco, nomeado em 1971 em homenagem ao ditador que tomou o poder em 1964. Ali passou a funcionar o Movimento Feminino pela Anistia e o Comitê Brasileiro de Anistia de Minas Gerais, fundados e presididos por Greco.

Ponto de apoio aos perseguidos pela ditadura, a casa teve o telefone grampeado, a correspondência violada, e foi destinatária de panfletos ameaçadores. Certa noite, em 1978, o Grupo Anticomunista, célula terrorista de extrema direita da época, tentou levar as ameaças a cabo, arremessando uma bomba no alpendre da casa. Por sorte, a explosão não feriu ninguém.

Nada que tenha intimidado Helena, que seguiu organizando protestos que reuniam familiares de exilados e de presos pela ditadura. Autodeclarada “feminista radical”, foi também uma das responsáveis pela retomada das manifestações de 8 de março, Dia Internacional da Mulher, na capital mineira, ainda na década de 1970.

Na abertura política, Greco ajudou a fundador o PT em BH, e em 1982 elegeu-se vereadora, cargo que exerceu até 1992. Fez aprovar a instalação de uma Comissão Permanente de Direitos Humanos na Câmara e coordenou o Movimento Tortura Nunca Mais, que em 1991 denunciou 12 médicos mineiros que fraudaram laudos de torturados pelo regime.

Também engajou-se numa lei para trocar o nome de uma rua

Existia, em BH, a rua Dan Mitrione, homenagem a um agende da CIA que se mudou dos EUA para a capital mineira a fim de ministrar cursos aos militares. Sua especialidade era uma prática de tortura que não deixava marcas no corpo, dificultando denúncias das vítimas. Na legislatura de Greco, o nome da rua mudou para José Carlos da Matta, estudante de direito e militante estudantil assassinado em 1973 durante sessões de tortura conduzidas por militares.

Dona Helena faleceu aos 95 anos, em 2011. Em 2014, quando o golpe de 64 completou 50 anos, o viaduto Castelo Branco foi rebatizado, recebendo o nome da matriarca dos Greco. É esse elevado que pode se tornar Professor Olavo de Carvalho.

#SomosTodosNikolas

Personificado pelo ex-vereador e hoje deputado federal Nikolas Ferreira, a ascensão eleitoral do bolsonarismo deixou pupilos na Câmara de BH. Entre os que se esforçam para ocupar o terreno deixado pelo jovem político está Flávia Borja, 51, que cumpre sua primeira legislatura, mas com números bem mais modestos: em 2020, ela recebeu 5.887 votos, enquanto Nikolas contabilizou 29 mil adesões.

Flávia e seus colegas conservadores têm buscado replicar a fórmula de Nikolas, investindo contra o que chamam de “ideologia de gênero”, o feminismo e os direitos humanos, e abraçando demandas bolsonaristas. Em 24 de abril, os vereadores aprovaram uma lei que proíbe a utilização da “linguagem neutra” em escolas da cidade.

“Minhas pautas são um reflexo do meu estilo de vida e da minha criação”, ela contou ao TAB, em dezembro de 2022.

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Formada na escola “Cristo para as Nações”, em Dallas, Texas (EUA), a vereadora é pastora na Igreja Batista da Lagoinha, reduto da direita em BH que, em 2022, recebeu Jair e Michelle Bolsonaro em seu púlpito, orando pela reeleição do ex-presidente. Foi lá que Flávia conheceu a senadora Damares Alves (Republicanos), a quem periodicamente recorre para aconselhamentos.

Flávia entrou na política por intermédio do marido, o também pastor Fernando Borja, que até 2022 exerceu o cargo de deputado federal pelo Avante. “Tanto eu como o meu esposo somos de famílias cristãs tradicionais em BH. Estamos juntos na política, que é um projeto de família”, contou.

Buscando dar continuidade ao projeto familiar, em 2022 Flávia candidatou-se a deputada estadual, enquanto Fernando tentou renovar o seu mandato na Câmara federal. O casal foi derrotado, e Fernando não digeriu bem a escolha dos eleitores. Em suas redes, compartilhou notícias falsas alegando que o processo “não foi justo, e todos já sabem”. Incentivou ainda um golpe: “Agora é só as Forças Armadas pra arrancar esses canalhas do Supremo”, postou em 8 de novembro, convocando seus seguidores às vigílias nas portas dos quartéis.

Já Flávia retornou à vereança, e em fevereiro deste ano uma proposta de sua lavra conseguiu aprovação do plenário: o reajuste de 10,5% nos salários da Câmara Municipal de BH. Fonoaudióloga por formação, ela pretende seguir na política para suprir o que considera uma carência no cenário nacional. “Percebi a necessidade de mais mulheres no meu perfil: conservadoras, de direita, mulheres de família, que lutem pelos valores que eu acredito”, resumiu.

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Elevado Helena Greco

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