Juiz da Lava Jato que estava incomodando Moro e Deltan é afastado pelo TRF-4
Desde que decidiu ouvir as denúncias de Taclan Duran contra Sergio Moro, juiz Eduardo Appio se tornou um alvo em potencial. A esperança de Moro e Deltan é que o novo juiz da Lava Jato seja silenciado para sempre
O juiz Eduardo Appio, que vinha incomodando Sergio Moro, Deltan Dallagnol e o lavajatismo em geral, foi afastado da 13ª Vara de Curitiba por ordem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o mesmo TRF4 que engavetava pedidos de afastamento do ex-juiz suspeito.
E quem pediu e conseguiu o afastamento de Appio?
O desembargador Marcelo Malucelli, pai de João Eduardo Barreto Malucelli, sócio de Moro e da mulher dele, Rosângela Moro, no escritório Wolff & Moro Sociedade de Advogados.
João também é namorado de Júlia Wolff Moro, filha de Sergio e Rosângela.
A notícia, que atribui o pedido ao desembargador ligado à família Moro, foi furo agora à noite do site GGN, de Luis Nassif.
O desembargador pai do moço havia mandado prender Tacla Duran, o advogado que acusa Moro e Dallagnol de permitirem o funcionamento de um esquema de venda de delação premiada na Lava-Jato.
Agora está resolvido. Appio é afastado liminarmente da sua jurisdição, e Moro tem uma incomodação a menos.
Sai de cena, pelo menos provisoriamente, o juiz que já havia anunciado que iria ouvir Dallagnol sobre o caso Tacla Duran.
Hoje, em entrevista à Globo News, o juiz havia dito, como novo magistrado da Lava-Jato, a respeito da revisão de decisões tomadas por Sergio Moro em Curitiba:
“Isso é um acerto de contas com a verdade, não com as pessoas”.
Seu afastamento pode configurar um escândalo que deve provocar reações da magistratura.
O ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, que o TSE cassou como fraudador de registro de candidatura, já está no Twitter pedindo que o juiz seja demitido.
A extrema direita está em festa. Há muito tempo os fascistas esperavam por uma notícia boa para o fascismo.
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Abaixo, o texto do Globo sobre o que teria sido o motivo do afastamento:
“A corte especial do Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4) decidiu afastar cautelarmente o juiz Eduardo Appio da 13ª vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Lava-Jato. A decisão não é definitiva e o magistrado tem 15 dias para apresentar defesa.
O motivo do afastamento, segundo a corte, é que Appio teria relação com o telefonema anônimo com ameaças recebido pelo filho de desembargador do TRF-4 Marcello Malucelli, após ele tomar uma decisão que restabelecia, na prática, a prisão do operador financeiro Tacla Duran.
O filho do desembargador João Eduardo Malucelli é sócio do ex-juiz Sergio Moro e sua esposa Rosangela Moro em um escritório de advocacia em Curitiba. No telefonem que recebeu, o autor pergunta:
“O senhor tem certeza de que não tem aprontado nada?”, e depois encerra.
“Em resposta, a Polícia Federal remeteu ao TRF-4 laudo pericial dando conta de que, a partir da comparação da voz do interlocutor da ligação suspeita com a voz do juiz federal Eduardo Fernando Appio, se “corrobora fortemente a hipótese” de que a voz presente no vídeo que gravou a ligação telefônica recebida pelo filho do desembargador federal Marcelo Malucelli fora produzida pelo juiz federal Eduardo Fernando Appio, em nível “+3” (“o resultado corrobora fortemente a hipótese”), numa escala que vai do grau “-4” (“o resultado contradiz muito fortemente a hipótese (de origens diferentes)”) e “+4” (“o resultado corrobora muito fortemente a hipótese (de mesma origem)”), diz o documento da Corregedoria do TRF-4”.
E agora uma dúvida bem básica
O juiz foi afastado por ter ligado para o filho de um desembargador, que é sócio (o filho) de Moro e namorado da filha do ex-juiz.
Por que o juiz Sergio Moro, provável futuro sogro do filho do desembargador, nunca foi afastado da mesma vara, mesmo quando grampeou e entregou para a Globo o conteúdo do telefonema entre Dilma e Lula, em 2016?
Logo depois do grampo e de outras arbitrariedades cometidas, advogados se mobilizaram em todo o Brasil e pediram o afastamento de Moro da vara especial que vinha sendo agora ocupada por Appio.
Investigações conduzidas pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo corregedor-regional da 4ª Região foram engavetadas. Moro sempre foi muito bem tratado por corregedorias.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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