A diplomacia não pode falhar
Não se revolve um massacre com outro; em nenhum caso. O Direito Internacional e seus tratados e convenções devem prevalecer sempre
Israel Aparecido Gonçalves*
O Hamas é um grupo terrorista e fez um massacre no dia 7 de outubro. Israel deve se defender e pode fazer muito, mas perante o Direito Internacional e a civilidade, não poderia fazer tudo. Este conflito não é o único que está em curso no mundo. Temos os russos contra os ucranianos; os armênios perderam a região de Nagorno-Karabakh para o Azerbaijão, a guerra civil no Iêmen (a chamada guerra esquecida), também há conflitos no Sudão, Sudão do Sul, Mali, Níger, Mianmar, Congo, Síria entre outros que completam a lista de atrocidades.
A guerra de Israel contra o Hamas, que virou contra a população civil da Faixa de Gaza, é a mais mortal, em vista do seu pouco tempo, estima-se em 5 mil o número de mortos em menos de duas semanas de massacres. É fato que a mãe judia sofre pela filha morta, assim como a mãe árabe, e nenhuma dessas filhas ou filhos mortos são culpados pela guerra sem fim, na região. Proteger as crianças, em qualquer lugar, deveria ser (e é) um direito inalienável desse ser indefeso (Convenção sobre os Direitos da Criança, 1989).
Renato Russo, o nosso poeta já cantou “Mais uma guerra sem razão/Já são tantas as crianças/Com armas na mão/Mas explicam novamente que a guerra/Gera empregos, aumenta a produção/Uma guerra sempre avança a tecnologia/Mesmo sendo guerra santa/Quente, morna ou fria […] O senhor da guerra, não gosta de crianças…” (A Canção Do Senhor Da Guerra, Legião Urbana).
O infanticídio das guerras não comove os países. No caso do atual conflito no Oriente Médio, todos os países parecem (e estão) enrolando para de fato cobrar as responsabilidades do Estado de Israel e punir de forma séria todos os grupos terroristas do mundo e de seus massacres à população civil. Quando um estado, com leis e burocracia moderna, mata e desloca crianças em um êxodo forçado, sem água, comida ou energia, é um crime contra a humanidade (Estatuto de Londres, 1946; Estatuto de Roma, 1998). E tudo isso, filmado e registrado por meio de comunicações formais, oficiais e pelas redes sociais.
Na via diplomática, o Brasil preside neste semestre o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). O país busca criar uma resolução, que deve ser aprovada por 9 países de 15, sem o veto dos cinco países permanentes no Conselho: Rússia, China, Estados Unidos (EUA), França e Inglaterra para ter algum efeito. Um fato difícil, pois a polarização entre os EUA e a Rússia está estressada devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia, aliada dos americanos. Os países árabes, em especial os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), fingem não entender o problema humanitário dos palestinos, como a Arábia Saudita, Kuwait, Iraque, Indonésia, Líbia, Nigéria, Catar e Emirados Árabes Unidos. Pior é o governo persa, com seus chiliques extremistas só conseguem aumentar a tensão na região e instigam o Estado israelense a manter o cerco em Gaza. O fato é: sem esforço diplomático assistiremos à morte de 2 milhões de pessoas, ao vivo. O escritor Guy Debord no livro “A Sociedade do Espetáculo” (2003), já analisou que os fenômenos sociais, na atual sociedade, viram espetáculos, mesmo o inaceitável.
Após uma primeira tentativa, em 13 de outubro, sem sucesso no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil reelabora seu projeto de resolução, acolhendo ideias e até parágrafos prontos de outros países para buscar uma solução consensual ao conflito de forma rápida. Lembrando que uma proposta de resolução da Rússia não foi aprovada no dia 16 de outubro. O Conselho de Segurança iria se reunir novamente dia 17 de outubro, mas o pedido de uma reunião urgente dos Emirados Árabes Unidos e da Rússia, acabou transferindo a reunião do dia 17 para o dia 18 de outubro. No grande dia, mesmo com apoio de 12 países, a resolução que poderia arrefecer o conflito entre Israel e o povo palestino foi vetada pelo EUA, que tem este poder e demostrou desdém com as mortes ocorridas entre as crianças palestinas. É evidente que o governo americano apoia o massacre do povo palestino. E mais, os americanos financiam e dão armas à Israel para manter os crimes contra à humanidade.
É importante considerar que a demora de uma resolução rápida do conflito entre Israel e o Hamas, no qual o povo palestino vem sofrendo ataques diretos e indiscriminados pelo Estado Judeu, é relevante para os russos e israelenses. Com a guerra dos russos contra os ucranianos se tornando cada vez menos noticiada pela imprensa internacional, a Rússia poderia usar mais armas de alto impacto e, por sua vez, a Ucrânia teria menos chances de ter seus pedidos atendidos pelos EUA e Europa, isto é, demorar para enviar armas e dinheiro.
Não se revolve um massacre com outro; em nenhum caso. O Direito Internacional e seus tratados e convenções devem prevalecer sempre. Porque sem o Direito e a diplomacia é a barbárie que vai imperar, e sem garantia de ordem mundial ou local, o mundo, infelizmente, será um lugar pior para todos.
*Israel Aparecido Gonçalves é mestre em Ciência Política (UFSCar) e doutorando em Sociologia e Ciência Política (UFSC).
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