Danilo Espindola Catalano
América Latina 20/Nov/2023 às 12:56 COMENTÁRIOS
América Latina

Uma nova direita e a morte de uma antiga

Danilo Espindola Catalano Danilo Espindola Catalano
Publicado em 20 Nov, 2023 às 12h56

Imagem (Noticias R7)

 

Não acredito que seja possível o susto com a vitória de Javier Milei na Argentina, pois como dizia Foulcalt, a história é em espiral, as coisas ocorrem no mundo como um Deja Vu eterno, em que as coisas ocorrem iguais, mas mudam os contextos explicitados, o que no caso é bem diferente do que aconteceu no Brasil em 2018, mas há pontos característicos e que devem ser bem analisados e observados.

 

Para iniciar, me parece interessante pensar no processo da crise Argentina e na posição de Herói que se colocou Milei, como o primeiro Messias a resolver de uma vez por todas a crise que nasceu no final do século XX, como se uma crise tão solida de dependência do BID – Banco Internacional de Desenvolvimento e ao Banco Internacional, seja possível ser salvo com o dólar e com o fim do Banco Central. Sabemos que não é possível ao exemplo do Equador, que vive atualmente uma crise intensa por utilizar a moeda e não ter um controle financeiro nacional com um Banco Central.

 

Este tipo de coisa, como nos ensina Rafael Correa, é nada mais do que se manter as veias da América Latina abertas para as potencias internacionais. Mas a quem isso importa e qual a intenção? Quando pesamos no interesse de manter os países latino-americanos dependentes das ordens monetárias internacionais, logo pensamos nos Estados Unidos e me parece que é o principal fator, como um resultado da luta atual do país para manter sua hegemonia internacional, pois a cada intercambio internacional, seja com o país que for, a economia do país recebe uma parte, por conta do uso do dólar.

 

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Mas pensando de forma regional e da história do continente, podemos ter em conta que as oligarquias vigentes estão vendo um processo de decadência e a vitória de Milei ou de Bolsonaro, são um último grito para a sua sobrevivência, isso porque temos hoje nascente na região um movimento de direita que anda ganhando adeptos e até mesmo maravilhando os olhos de políticos de esquerda.

 

Estou falando justamente de Bukelização, que é uma nova direita, que deixa de lado qualquer influência de potencias internacionais, sejam elas de esquerda ou de direita, o que importa é a forma de se fazer a política dentro do país, a forma do próprio político e não aceitar pitacos ou formas exteriores, como até mesmo o presidente de El Salvador, Nayib Bukele disse em seu discurso da ONU de 2023, parecendo uma ideologia da esquerda, mas que na verdade acredito ser de direita por conta de algumas de suas atitudes. Podemos chamar a sua lógica política de decolonial, pois não aceita mais os antigos poderes oligárquicos por dentro do país, criando o que ele acha melhor para os cidadãos de seu país.

 

O que podemos utilizar os ditos de Aníbal Quijano de que a esquerda que fez nascer a decolonialidade na América, mas isso está mudando, pois como mostrou claramente em seu discurso Nayib Bukele, a direita está disposta a fazer o mesmo e suas influencias estão cada dia mais ganhando adeptos, pois suas medidas estão dando resultados benéficos, pelo que ele exporta, como, por exemplo, o uso de Bitcoins para as importações e exportações, abolindo o dólar e também a criação de políticas próprias e apropriando-se de doações recebidas tanto dos Estados Unidos, como da China, que são usados com algo que ele acredita que seja importante e não deixando que esses países influenciem com suas ideias.

 

As ideias nascentes com a Bukelização vão de longe ao que pensam Javier Milei e Jair Bolsonaro, que é a de abraçar alguma potência e não soltar mais, se excluindo totalmente e isso é uma lógica que temos como característica desde a colonização, pois como colônia, aprendemos a abraçar a metrópole que sempre foi o centro de tudo na ordem política, econômica e social dos que hoje são países formados.

 

É importante pensarmos que estes movimentos estão sendo presenciados ao mesmo tempo no continente, tornando-se fenômenos ligados entre si, que marcam o fim de um conflito entre esquerda e direita, para um conflito entre direitas, mas que nem sei se devemos chamá-las desta forma, porque ainda estamos pensando em conceitos eurocêntricos, por isso, me parece importante deixarmos em evidencia os antigos governos populistas da região.

 

Se pensarmos que na região, podemos realizar uma análise que se mescle ao que vimos no século XX com governos de Juan Perón e Getúlio Vergas com estes novos governos de direita, sobretudo o de Nayib Bukele, em que o apoio das massas é evidentemente gigantesco, principalmente por seu “Plan de Control Territorial”, que segundo a população, está sendo eficaz para retirar Las Maras do poder dos bairros e pacificá-los, ao gosto de tratar os membros da gangue pior que animais.

 

Neste momento, vale deixar claro que estamos em um processo de inicio do fluxo de mudança política e social, que pode transformar as maneiras de se atuar dos governos latino-americanos e isso está assustando os poderes hegemônicos da região, mas a duvida que fica, é porque não está assustando a típica esquerda latino-americana, que se baseia nas revoluções do século passado?

 

 

 

 

 

*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola, Especialista em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil e formado em licenciatura em Letras Português/Espanhol.

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