Polícia Federal divulga novas mensagens que comprometem influencer de Renato Cariani
Renato Cariani passou as últimas horas nas redes afirmando que não sabia do que se tratava a investigação contra ele. As investigações apontam que a ascensão financeira do influencer pode ter ocorrido de maneira ilegal
O empresário e influenciador fitness Renato Cariani passou as últimas horas nas redes sociais fingindo que não sabia do que se tratava a investigação contra ele, além de postar uma seleção dos seus vídeos mais emotivos como coach, na tentativa de sensibilizar os milhões de novos usuários que visitavam o seu perfil.
A Polícia Federal, então, decidiu divulgar prints de mensagens que comprovam o envolvimento de Cariani em práticas criminosas. Em conversa com sua sócia na indústria química, o influencer fitness chama policiais civis de ‘vermes’.
“Arrumar tudo para esperar esses vermes [policiais]. Apaga agora essas mensagens”, diz Cariani. Em outra mensagem, divulgada anteriormente, Cariani diz: “Graças a Deus essa semana é curta. Poderemos trabalhar no feriado para arrumar a casa e fugir da polícia”.
Em outro trecho, o influenciador afirma: “Ainda falta a estação de efluentes, o corredor de estoques que ainda possui produtos vencidos. Também precisamos arrumar o mapa da [polícia] Civil, vão vir babando […] Acho que a polícia pode vir ainda essa semana, por isso quero que passe rápido”.
Em outra parte da conversa, a sócia de Cariani sugere que eles removam rótulos de produtos químicos com o objetivo de vendê-los para empresas que não possuem autorização da Anvisa para compra.
Cariani fez muito sucesso nas redes sociais e conquistou milhões de seguidores vendendo a ideia ser “um cara que veio do nada” e que conquistou seu “primeiro milhão aos 27 anos” de idade, “através de muito esforço, perseverança e inteligência”. Agora, as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo apontam que essa ascensão financeira ocorreu de maneira criminosa.
O Ministério Público coloca Cariani e sua sócia no topo da quadrilha sob suspeita, como integrantes do núcleo responsável pela venda dos produtos químicos destinados à preparação das drogas.
Outro integrante desse núcleo seria Fábio Spínola, que também é apontado como ‘principal elo entre as empresas químicas e os interessados nos insumos’. Spínola faz parte do ‘núcleo encarregado de intermediar o fornecimento das substâncias controladas à produção de entorpecentes’.
A Promotoria aponta ainda que o grupo ‘ocultava os reais beneficiários do esquema’ formado por 14 investigados que ‘agiram de modo a blindar os verdadeiros nomes da associação’.
VÍDEO com os prints:
A sociedade é hipócrita e está condicionada a viver num mundo de fantasias, onde a roupagem é determinante para o padrão de julgamento. Ou seja, as pessoas são julgadas pelo que elas parecem ser e não pelo que realmente são. De modo que um influenciador branco, carismático, que…
— Pragmatismo Politico (@Pragmatismo_) December 13, 2023
Tenha um propósito de vida, cumpra a jornada e conquiste resultados, isso fará de você uma pessoa inabalável 🔥🏆
— Renato Cariani (@renatocariani_) December 11, 2023
ELO DE CARIANI COM O TRÁFICO
De acordo com novas informações divulgadas pela Polícia Federal, o esquema de Renato Cariani abastecia uma rede criminosa de tráfico de drogas internacional comandada por criminosos do PCC.
O principal elo entre Cariani e a facção seria, segundo a investigação, Fábio Spinola Mota, apontado como membro PCC e preso no início deste ano em outra operação da PF, a Operação Downfall, que investigou esquema de “tráfico internacional e interestadual de drogas, com diversas ramificações no país”.
Durante essa outra investigação, a cargo do núcleo da PF do Paraná, em abril, foram realizadas prisões, apreensão de cerca de 5,2 toneladas de cocaína e bloqueio de bens estimados em R$ 1 bilhão.
Mota, que ficou preso até o mês passado, foi um dos alvos da operação da PF de São Paulo, a Hinsberg -além do próprio Cariani e de Roseli Dorth, a sócia do influenciador em uma empresa para venda de produtos químicos, a Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda., em Diadema.
A polícia chegou a pedir a prisão deles, o que foi negado pela Justiça. Na casa de Mota, os policiais encontraram R$ 100 mil em espécie.
COMO COMEÇOU A INVESTIGAÇÃO
Dois depósitos que somam R$ 212 mil em uma conta da empresa Anidrol fundamentaram o início das investigações da PF sobre desvio de produtos químicos para a produção de crack.
Documentos mostram que a empresa biofarmacêutica AstraZeneca pediu à PF, em julho de 2019, a instauração de um inquérito policial sobre notificações que havia recebido da Polícia e da Receita Federal referentes a supostos depósitos e movimentações financeiras que teria feito para a Anidrol.
A primeira notificação ocorreu em 17 de abril de 2017, sobre supostas infrações administrativas cometidas pela AstraZeneca ao fazer movimentações não informadas, referentes a três notas fiscais emitidas pela empresa da qual o influenciador é sócio.
Já a segunda intimação foi enviada pela Receita à empresa biofarmacêutica em meados de fevereiro de 2018. O órgão questionava dois depósitos realizados em 2015 e 2016, nos valores de R$ 103,5 mil e R$ 108, 5 mil, à Anidrol.
A empresa do influenciador, ainda segundo o pedido de abertura de inquérito, teria informado à Receita Federal que havia vendido cloreto de lidocaína para a AstraZeneca. A biofarmacêutica nega.
“A AstraZeneca nunca manteve qualquer relação comercial com a empresa Anidrol, a qual não está cadastrada na relação de fornecedores da AstraZeneca, o que impede que qualquer pagamento tenha sido realizado em seu benefício”, disse biofarmacêutica.
No dia 10 de maio de 2019, a AstraZeneca teria recebido nova intimação fiscal sobre emails que a biofarmacêutica teria trocado com um representante da Anidrol. Um homem identificado como Augusto Guerra seria o colaborador da AstraZeneca.
Mais uma vez, a biofarmacêutica negou que tenha trocado os emails e que o representante tenha ligação com a empresa. A AstraZeneca ainda anexou ao pedido de inquérito um print de uma busca em um site de domínios IPs em que o endereço utilizado por Guerra aparece como de sua própria titularidade, desvinculado da empresa.
“O senhor Augusto Guerra nunca foi colaborador da AstraZeneca, o que reforça as suspeitas de que o nome e os dados da empresa AstraZeneca estão sendo utilizados indevidamente por terceiros”, disse a empresa.
Renato Cariani
Renato Cariani é um fisiculturista brasileiro com 7 milhões de inscritos em seu canal no YouTube — o que o torna o maior influenciador fitness do Brasil. Graduado em Química pela Universidade Metropolitana de Santos, ele exibe em suas biografias nas redes sociais que é professor de química, além de professor de educação física, empresário e youtuber.
Somadas todas as redes sociais, Renato Cariani tem mais de 13,6 milhões de seguidores. Ele se apresenta como coach e instrutor de condicionamento físico. O influencer costuma exibir detalhes de sua vida luxuosa nas redes, com diversos carros importados e mansões.
Renato Cariani também é sócio da Supley, maior fabricante de suplementos da América Latina, responsável pelas marcas Max Titanium e Probiótica. O grupo faturou R$ 830 milhões no ano passado, e a projeção é superar R$ 1 bilhão em 2023.