O Sequestro do Voo 375: como piloto evitou tentativa de matar Sarney
“O Sequestro do Voo 375” chegou aos cinemas com um enredo baseado em fatos reais sobre a história do que quase se tornou uma das maiores tragédias da aviação no Brasil.
O que aconteceu?
Raimundo Nonato Alves da Conceição, que estava desempregado em setembro de 1988, durante mais uma crise econômica brasileira, sequestrou um avião que partiu de Porto Velho rumo ao Rio de Janeiro. Quando partia da sua última escala, em Belo Horizonte, o sequestrador ordenou que o voo fosse para Brasília.
O objetivo de Raimundo era jogar a aeronave contra o Palácio do Planalto para matar José Sarney, o então presidente — a quem culpava pelo desemprego e problemas financeiros.
Cerca de 20 minutos após a decolagem, ele resolveu colocar seu plano em prática.Levantou-se do seu assento e foi em direção à cabine de comando. Antes de chegar à porta, o comissário de bordo Ronaldo Dias tentou impedir sua aproximação. Raimundo reagiu, dando um tiro, que pegou de raspão na orelha do comissário.
O barulho foi suficiente para que os pilotos percebessem que algo errado se passava dentro do avião e, rapidamente, trancaram a porta da cabine. O sequestrador começou a atirar contra a porta -naquela época, elas ainda não eram blindadas.
Mudança de rota e copiloto morto
Fernando Murilo de Lima e Silva, piloto do avião, conseguiu acionar o código 7500 no transponder. Esse é um código internacional usado para avisar aos órgãos de controle de tráfego aéreo de que o avião está sob “interferência ilícita”. Com o alerta, um caça Mirage da FAB (Força Aérea Brasileira) decolou da base aérea de Anápolis (GO) para acompanhar o voo.
Ainda sem saber as reais intenções do sequestrador, o comandante seguiu as orientações dele e mudou o rumo da aeronave. O controle de tráfego aéreo entrou em contato pelo rádio para confirmar a mudança de rota, sem mencionar que já havia recebido o alerta do comandante.
Quando o copiloto Salvador Evangelista se abaixou para pegar o rádio e confirmar a mudança de rota, Raimundo Nonato colocou o revólver em sua cabeça e atirou. Evangelista caiu morto sobre o manche do Boeing 737.
Avião de cabeça para baixo
Uma tática usada por Fernando para evitar o Planalto foi convencer o sequestrador que o clima estava ruim em Brasília e não conseguiria sobrevoar a região.
O piloto ainda alegou estar com pouco combustível para percorrer a distância até a capital federal. Sarney foi avisado do plano e o caça acompanhava o voo 375, enquanto Fernando conseguiu convencer Raimundo de que deveriam desviar a rota para Goiânia.
Quando o sequestrador ordenou uma nova mudança, para São Paulo, e mantinha o piloto com a arma na cabeça, Fernando fez uma manobra ousada, um “tonneau”, que consiste, de maneira simplificada, em virar o avião de cabeça para baixo e, depois, voltar à posição normal de voo.
A manobra é comum em caças, mas ninguém sabia, até então, que era possível realizar com um avião comercial. Sem sucesso em afastar Raimundo, ele mergulhou o avião em parafuso rumo ao solo. O sequestrador foi jogado para fora da cabine na manobra, dando tempo para o pouso em Goiânia.
Troca de tiros na pista
O sequestrador ainda ficou cinco horas dentro da aeronave, pedindo um avião menor para fugir.
O sequestrador desceu do Boeing 737 levando o comandante e dois comissários como reféns. Em troca de tiros, os comissários conseguiram correr para um matagal ao lado da pista. O sequestrador descarregou seu revólver na direção do comandante, que acabou atingido na perna. Outros policiais que estavam no local atiraram contra o criminoso, que foi atingido três vezes.
Raimundo foi encaminhado para o hospital após levar três tiros e morreu dias depois. A causa da morte foi descrita como um quadro infeccioso por ter anemia falciforme – uma doença genética e hereditária causada por anormalidade de hemoglobina dos glóbulos vermelhos.
No voo, Gilberto Renhe, que também trabalhava na Vasp, foi baleado na perna. Ele sobreviveu.
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