O teste de coragem para os possíveis desbloqueados de Elon Musk
Duas figuras da extrema direita, que seriam beneficiadas pelo desbloqueio de contas nas redes sociais, como vem ameaçando o fascista Elon Musk, não teriam condições de desfrutar dessa medida.
O ex-deputado Roberto Jefferson, em prisão domiciliar, estaria sem condições de reagir, por perda de memória, e o também ex-deputado Daniel Silveira está preso, condenado a oito anos e nove meses de cadeia por tentativa de impedir o livre exercício dos poderes. Silveira ameaçava ministros do Supremo.
Todos os outros poderiam, em tese, voltar a fazer o que sempre fizeram: também atacar ministros do STF, defender o golpe, disseminar mentiras, propagar o ódio e fazer ameaças aos que consideram inimigos do fascismo.
Mas quem teria a petulância de aceitar o jogo de Elon Musk e desafiar as determinações de Alexandre de Moraes, que ordenou o bloqueio das contas?
O primeiro nome em quase todas as listas de bloqueados, o empresário Luciano Hang, voltaria a atuar nas redes se Musk o liberasse para dizer o que pensa?
O autoproclamado véio da Havan, bloqueado desde agosto de 2022, como participante de um grupo de tios do zap acusado de tentar impedir a posse de Lula, se ele vencesse a eleição, voltaria ao Twitter?
Depois da eleição de Lula, ele disse em vídeo que, por estar no mesmo avião pilotado pelo presidente, torcia por seu governo e se retirava do ativismo político. Só faltou dizer que é um militante lulista.
Mas Mauro Cid, na delação à Polícia Federal, aponta Hang como um dos empresários que foram ao encontro de Bolsonaro, em novembro, depois da eleição, para dizer que ele deveria exigir das Forças Armadas que “virasse o jogo”, ou seja, aplicasse o golpe.
Os outros mais conhecidos da lista de bloqueados são o blogueiro Allan dos Santos, com prisão decretada e foragido nos Estados Unidos (e que voltou a postar no Twitter); o youtuber Monark, que também mora nos Estados Unidos; o também blogueiro Oswaldo Eustáquio; o jornalista Bernardo Kuster; o militar reformado da Marinha Winston Lima; o empresário Edgar Corona, dono da rede de academias de ginástica Smart Fit; o empresário Meyer Nigri, que participava do mesmo grupo do zap de Luciano Hang; e os jornalistas Guilherme Fiuza, Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino. Os dois últimos se apresentam como “exilados” nos Estados Unidos.
Todos eles defendem o direito de dizer o que pensam, em nome da democracia, para atacar a democracia, as instituições e as autoridades. Foi o que motivou o bloqueio das contas pelo ministro Alexandre de Moraes, agora atacado por Elon Musk.
É bom lembrar que alguns deles são investigados desde março de 2019, no inquérito das fake news, que trata do gabinete do ódio e das milícias digitais.
O véio da Havan está nesse inquérito desde o começo e já sofreu duas buscas e apreensões da Polícia Federal. Dois celulares do sujeito estão em poder da PF.
Em agosto do ano passado, ficamos sabendo, por informação do ministro Alexandre de Moraes, que a PF não conseguiu devassar os aparelhos e por isso desconhece seus conteúdos. O véio se nega a fornecer as senhas.
O inquérito das fake news completou cinco anos. Não há nenhum condenado entre dezenas de investigados. Talvez por estarem impunes, eles se sintam à vontade para pedir socorro a Elon Musk.
No que essa turma aposta? Que o tempo os favoreça, como vem acontecendo. Que, com a eleição de Donald Trump, combinada com a sobrevivência de Bolsonaro e vitórias importantes nas eleições municipais no Brasil, a maioria consiga escapar.
Elon Musk entrou pesado nesse jogo para defender seu negócio, o fascismo e os fascistas brasileiros. Há quem perceba essa guerra como um duelo de Musk com Moraes.
É bem mais do que isso, é o ataque de um extremista estrangeiro à democracia brasileira. Mas Alexandre de Moraes não pode tudo, enquanto a maioria continua com a bunda pesada afundada na poltrona dos isentões, vendo Netflix. Principalmente os juristas ‘especialistas’ ouvidos pelos jornalões.
País Soberano
Abaixo, a íntegra da nota publicada no Twitter pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo, Paulo Pimenta:
“O Brasil é um País soberano, democrático, com uma Constituição Federal e um sistema de Justiça independente e respeitado. Somos uma democracia sólida com instituições autônomas e uma imprensa livre e com total liberdade de expressão. Não vamos permitir que ninguém, independente do dinheiro e do poder que tenha afronte nossa Pátria. Não vamos transigir diante de ameaças e não vamos tolerar impunimente nenhum ato que atende contra a democracia. O Brasil não é a selva da impunidade e nossa soberania não será tutelada pelo poder das plataformas de internet e do modelo de negócio das big techs”.
O Brasil é um País soberano, democrático, com uma Constituição Federal e um sistema de Justiça independente e respeitado. Somos uma democracia sólida com instituições autônomas e uma imprensa livre e com total liberdade de expressão. Não vamos permitir que ninguém, independente…
— Paulo Pimenta (@Pimenta13Br) April 7, 2024
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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