Redação Pragmatismo
Saúde 10/Set/2024 às 08:21 COMENTÁRIOS
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Brasileira desenvolve doença rara e fica paralisada após tomar uma colher de sopa nos EUA

Publicado em 10 Set, 2024 às 08h21

Sopa industrializada deixa brasileira em estado grave nos EUA. Cláudia precisou ser intubada e transferida de helicóptero para o Swedish Medical Center. Para piorar, o hospital cobrou da brasileira uma conta de R$ 10 milhões pelo atendimento e tratamento

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Cláudia de Albuquerque Celada

Camila Corsini, VivaBem

A comerciária Cláudia de Albuquerque Celada, 24, chegou aos EUA em dezembro de 2023 para ficar quatro meses em Aspen, no Colorado, em um intercâmbio.

A intenção era voltar a São Caetano do Sul (SP), onde mora, em abril. Mas a ingestão de uma sopa industrializada mudou os planos dela em meados de fevereiro. “Foi apenas uma colher”, afirmou Cláudia ao portal VivaBem.

“Senti muito cansaço, tontura, visão turva. Dormi o dia inteiro. Comecei a sentir falta de ar pela madrugada. Liguei para brasileiras que conheci em Aspen [para pedir ajuda]”, relatou Cláudia Albuquerque.

O diagnóstico

“Pensamos ser algo corriqueiro e comum, mas quando o quadro se agravou as meninas ligaram para a minha irmã”, completou ela. O diagnóstico veio 15 dias depois: ela contraiu uma bactéria e desenvolveu botulismo, uma doença rara.

A irmã, Luísa Albuquerque, embarcou para os EUA uma semana depois do primeiro contato das amigas de Cláudia, após conseguir a emissão do visto emergencial de turista. Ela quis acompanhar tudo de perto.

Cláudia só teve noção da gravidade do seu caso quando foi entubada e transferida de helicóptero para o Swedish Medical Center, em Denver, ainda antes do diagnóstico. Com o corpo totalmente paralisado, ela permaneceu consciente a maior parte do tempo.

“Sempre estive consciente, somente o corpo não respondia aos comandos. Não via a hora de aquilo passar. Acompanhava tudo o que se passava ao redor, mas não conseguia me comunicar”, explicou Cláudia Albuquerque.

Dívida milionária

Diante de uma conta milionária no hospital, e sem rede de apoio por perto, a família de Cláudia organizou uma vaquinha para arcar com os custos da internação no exterior e da UTI aérea que traria a jovem para o Brasil.

Ela tinha um seguro saúde que cobriu parte das despesas, cerca de US$ 100 mil. Mas em uma conversa com a assistente social do hospital, Luísa descobriu que o montante já tinha se esgotado.

Pouco antes de retornar para o Brasil, Cláudia recebeu a visita da secretária de saúde da cidade de Aspen, que informou que ela estava inscrita em um programa de ajuda do governo dos EUA e que parte do valor da internação poderia ser absorvida por eles.

A família estima que a conta do hospital norte-americano chega a US$ 2 milhões (cerca de R$ 10 milhões). Como o Swedish Medical Center acabou bancando o transporte de Cláudia por UTI aérea para o Brasil, os pouco mais de R$ 230 mil arrecadados na vaquinha foram usados para abater parte da dívida.

Volta ao Brasil

“Montamos um quadro com uma contagem regressiva dos dias que faltavam para embarcarmos de volta ao Brasil”, relata ela. Cláudia deu entrada no Hospital São Luiz São Caetano do Sul em 4 de maio.

“Rever meu pai, meu namorado, meu cachorro, amigos e familiares após seis meses… a expectativa era tão grande que parecia que já estava curada”, exclamou Cláudia.

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Quando retornou, seu quadro ainda era considerado grave: ela estava no respirador artificial, se alimentando por sonda e praticamente sem movimentos. “Não conseguia segurar um celular. Já mexia os dedos e pulsos, mas sem força nenhuma.”

Recuperação

Foi preciso um esforço multidisciplinar da equipe de terapia intensiva da unidade para sua recuperação. Muitos profissionais, além de médicos, participaram do processo: fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, entre outros.

A primeira alta foi em 8 de julho, com auxílio de home care: ela andava alguns metros, mas ainda estava com sonda de alimentação e traqueostomia. Dez dias depois, retornou ao hospital ao ter um inchaço nas glândulas do pescoço.

Foram mais duas semanas internada até a alta definitiva, em 1º de agosto. “Desta vez já saí sem a traqueostomia e sem a sonda”, diz Cláudia.

“Agora faço fisioterapia para fortalecer a musculatura e ficar mais independente. [Retomar] a rotina ainda é impossível, devido à locomoção. Mas já saí com amigos de cadeira de rodas”, explicou Cláudia.

‘Sempre uma incógnita’

Segundo Luís Felipe Silveira Santos, supervisor médico da UTI adulto do São Luiz São Caetano, Cláudia chegou ao hospital após seu plano de saúde acionar a unidade.

“É sempre uma incógnita receber um paciente com tratamento avançado, intubado. De forma geral, foi bem tranquilo. [O quadro dela] não era de descontrole”, explica o profissional.

Luís Felipe explicou que o botulismo compromete os músculos de forma difusa e que o grande risco inicial da doença é a insuficiência respiratória, provocada pela possível paralisação do diafragma. É por isso que os pacientes são intubados após o diagnóstico. Mas existem preocupações secundárias, como o risco de infecções.

“O diagnóstico é difícil, porque o botulismo é muito raro. [Pelos sintomas] a gente acaba pensando em outras complicações, como doenças autoimunes, neurológicas, que acometem a medula, antes de pensar nele”, explicou Luís Felipe Silveira Santos, do Hospital São Luiz.

Ainda nos Estados Unidos, os médicos inicialmente suspeitaram de síndrome de Guillain-Barré. Eles só descobriram o botulismo após exames de fezes que identificaram a toxina botulínica.

O médico acredita que Cláudia não terá sequelas físicas. “Ela vai se recuperar. No quadro dela, não devemos ter sequelas. Só a parte psicológica, que abala qualquer um. Da parte física, só as cicatrizes mesmo.”

O que é botulismo

É uma doença grave causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Causa paralisia dos músculos, tem evolução rápida e pode levar à morte. Não é possível identificar a presença da bactéria a olho nu.

O contato com a bactéria pode ocorrer por meio de alimentos em conservas e embutidos de vegetais e frutas, carne e derivados, pescado, frutos do mar, leite e derivados.

Os primeiros sintomas são náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia e constipação. Os pacientes ainda têm dor de cabeça, vertigem, visão dupla e turva, pupilas dilatadas, dificuldade para falar e engolir, fadiga, paralisia dos músculos e falência respiratória, que pode levar à morte. O paciente permanece consciente.

O tratamento é feito com antitoxina. A substância busca neutralizar as toxinas e minimizar os sintomas.

A prevenção está nos cuidados com alimentos. É importante atenção na hora de higienizar os produtos e as mãos, e a recomendação é evitar ingerir alimentos em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas ou com alterações no cheiro e aspecto. Antes do consumo, o ideal é ferver ou cozinhar por 15 minutos produtos industrializados e conservas caseiras.

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