O que será de Bolsonaro depois de outubro
Alexandre Ramagem pode ser visto como a maior expressão do bolsonarismo fiel e genuíno entre os candidatos a prefeito. Assim como Abilio Brunini representa em Cuiabá a essência do ainda líder da extrema direita brasileira.
Mas quem mais, com alguma importância relativa, pode ser apresentado como candidato do bolsonarismo nas capitais? Engana-se ou tenta enganar quem disser que Ricardo Nunes é um bolsonarista sob inspiração e proteção de Jair Bolsonaro.
Nem Sebastião Melo, também emedebista, candidato à reeleição em Porto Alegre, é um nome de Bolsonaro. É um ex-centrista que se agarrou a facções da extrema direita para governar, depois de construir uma trajetória como político moderado.
Há um grande esforço dos jornalões em mostrar que ‘candidatos de Bolsonaro’ estariam em vantagem nas capitais. Não são candidatos do bolsonarismo, nem tutelados por Bolsonaro. Podem ter a simpatia e o apoio do sujeito, de Braga Netto, de Damares e Malafaia.
Mas não há ninguém com alguma relevância, em nenhuma das capitais, que possa ser considerado candidato de Bolsonaro em posição de liderança inquestionável. Há gente da segunda linha do bolsonarismo.
Ramagem e Brunini, do time mais fiel, não estão bem nas pesquisas. Ramagem pode levar 7 a 1 de Eduardo Paes, e Brunini ainda luta para ir para o segundo turno.
E os outros? Que outros? Quem souber, que diga depressa, sem pesquisar nomes, quais são os candidatos relevantes do bolsonarismo ou dependentes de Bolsonaro que lideram nas capitais.
Quem? Onde? Marcelo Queiroga, esse sim bolsonarista-dependente, não sabe se vai para o segundo turno em João Pessoa? Bruno Reis, em Salvador, é um novo bolsonarista de confiança?
Outros, como Reis, que estão bem nas pesquisas, são candidatos da direita, da velha e da nova, uns ainda fingindo proximidade com Bolsonaro, outros se escondendo dele. Mas são da direita, muito antes de serem rotulados como bolsonaristas.
A maioria, incluindo Melo no Rio Grande do Sul e Reis na Bahia, esconde Bolsonaro. Como Ricardo Nunes, na reta final, gostaria de esconder, porque Tarcísio o ajuda e Bolsonaro o atrapalha.
O alagoano João Henrique Holanda Caldas, que até a semana passada era ‘socialista’, candidato à reeleição imbatível em Maceió, é um novo bolsonarista confiável? Mauro Tramonte é tão bolsonarista quando Bruno Englert em Belo Horizonte?
Quem de todos eles andaria na garupa da moto de Bolsonaro depois da eleição? Que importância Bolsonaro terá para nomes da direita, mesmo os que se aproximaram da extrema direita, depois de outubro?
Para a maioria, é provável que não signifique quase nada, apesar da dívida de gratidão por ter oferecido lastro à ascensão de muita gente e para a formação da maior bancada do fascismo na Câmara. Mas essa é uma dívida quase paga.
O bolsonarismo como ideia com compromissos políticos de reciprocidade pode ter chegado, nessa eleição, ao seu momento derradeiro.
Velhos e novos direitistas continuarão sendo o que sempre foram, alguns agora mais identificados com o extremismo, mas não necessariamente com Bolsonaro.
A conexão com as pautas do reacionarismo extremado não significa dependência de Bolsonaro ou do que ainda chamam de bolsonarismo.
A direita é tutelada muito mais pela expansão do hiperconservadorismo de imposição neopentecostal, principalmente na área dos costumes, do que pelo próprio Bolsonaro. Que vai sendo reduzido a um homem de empreitadas pelos fracassos na eleição e no golpe.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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