Menina de 11 anos é abusada por colegas na frente da professora
Garota de 11 anos sofreu violência sexual por parte de sete colegas de classe na frente da professora. Uma das agressoras era sua amiga
“Eu senti muita vergonha, porque todo mundo estava vendo o meu peito.” Foi assim que a aluna de 11 anos, do 5 ano da Escola Municipal Plínio Ayrosa, na Freguesia do Ó, respondeu ao jornal Diário de SP sobre o que sentiu quando sete colegas tiraram a sua blusa e seu sutiã e tocaram seus seios dentro da sala de aula. Uma professora substituta estava no local e nada fez. A violência é investigada pela 4 Delegacia da Mulher como abuso sexual.
O caso aconteceu na última quinta-feira, dia 26, durante a aula de matemática, mas só foi apurado ontem (01/10). A estudante foi chamada por uma “colega” para o fundo da sala. Empurrada, foi cercada por cinco meninos e duas meninas. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, todos os envolvidos estão “na faixa dos 10 anos”. O jornal confirmou que pelo menos uma das meninas tem 14 anos. Um outro menino também teria essa idade. A pasta, após ser confrontada com esses dados, informou ontem, cinco dias após o acontecido, não saber a idade exata dos alunos.
Os sete levantaram a blusa da estudante e começaram a pegar em seus seios. Ela gritou, mas não foi socorrida pela professora. A agressão só parou quando um dos meninos tentou colocar a mão dentro da calça da garota. “Eu estava menstruada. Fiquei com mais vergonha ainda. Empurrei um menino e só assim consegui sair.”
Na diretoria, enquanto ela contava o caso para o coordenador, uma das agressoras entrou na sala, “várias vezes”, para inibi-la. “Ela me esperou na saída para ver se eu tinha falado dela”, contou.
A agressão aconteceu por volta das 17h, mas a mãe da menina só ficou sabendo cerca de duas horas depois. Para ela, a família sofreu duas agressões. A segunda foi quando chegou na escola e os professores, segundo a mãe, foram hostis. “Eles falavam que ela tinha mudado e não estava indo bem nas matérias. Isso não justificava o que tinha acontecido.”
Depois que a agressão foi registrada na polícia, a escola procurou a família e informou que um psicólogo iria atender a criança. “Não quero só psicólogo. Quero outra escola para ela. Minha filha está com medo”, disse a mãe.
A delegada da 4ª DDM, Magali Celeghin Vaz, aguardava, ontem, o diretor da escola levar o nome dos pais dos alunos acusados pela menina.
Estudante
‘Tentaram colocar a mão dentro da minha calça. Fiquei com mais vergonha’
Leia também
-
Flávio Dino manda apreender livros jurídicos com trechos homofóbicos e misóginos
-
Mulheres ocupam 28% dos cargos de secretariado no país
-
Eleições 2024: mulheres candidatas recebem 68,2% dos comentários ofensivos no 2º turno
-
Agredida pelo ex-marido, bolsonarista Cintia Chagas volta atrás em fala sobre submissão feminina
-
Caso Anic Herdy: corpo é encontrado na casa de Lourival, que diz ter matado a advogada a mando do marido
Um dia antes do aniversário de 11 anos, no dia 27 de setembro, a estudante do 5 ano da Escola Municipal Plínio Ayrosa viveu minutos de terror dentro da sala de aula. A garota sofreu violência sexual por parte de sete colegas de classe. Uma das agressoras era sua amiga.
Confira entrevista do Diário de SP com a menina abusada:
Por que você foi até o fundo da sala?
A menina que me chamou era minha amiga. Não imaginava que ela ia fazer aquilo comigo.
O que eles fizeram?
Levantaram a minha blusa e o meu sutiã. Começaram a passar a mão no meu peito.
Por que eles pararam?
Quando um dos meninos ia colocar a mão dentro da minha calça, eu fiquei com mais vergonha porque estava menstruada. Empurrei ele. Só assim eles pararam.
O que você sentiu na hora?
Muita vergonha, porque todos estavam vendo o meu peito.
Mãe da estudante
Como você ficou sabendo o que havia ocorrido?
MÃE:Ligaram para a minha outra filha e pediram para ir na escola. Não falaram o que era. Não deixaram meus filhos entrarem na escola comigo.
Como ela estava?
Cheguei na sala e ela estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ela estava gelada.
O que os professores falaram?
Disseram que ela ia mal nas matérias, que as notas tinham piorado. Minha filha ir mal na escola não é desculpa para o que tinha acontecido.
O que você vai fazer agora?
Estou procurando outra escola para matricular minha filha.
Secretaria diz estar apurando o caso, mas esconde detalhes.
Para o MP, pais precisam estar ‘dentro’ da escola
O promotor Antonio Carlos Ozório Nunes def endeu parcerias em andamento entre o Ministério Público e a Secretaria Estadual de Educação como forma de enfrentar casos de agressão, preconceito e bulliyng dentro das escolas.
Sem entrar no mérito do que aconteceu na Escola Municipal Plínio Ayrosa, na Freguesia do Ó, classificado por ele como “pontual e, por isso, impossível de ser analisado de forma genérica”, Nunes disse que os pais devem participar da vida escolar dos filhos.
Em paralelo a isso, o MP elaborou folders para discutir o bullying. O material é distribuído, em sua maioria, nas escolas estaduais. Além disso, existe um curso à distância para educadores tratarem sobre conflitos dentro das escolas.
Batizado de Professor/Mediador, no qual um educador capacitado pela pasta e pelo Ministério Público repassa o que aprendeu para os outros docentes, o curso tem como objetivo principal prevenir o bullying, indisciplina e o vandalismo. Nos últimos três anos, o projeto teve a presença ampliada em 149%. Atualmente, são 2.885 professores/mediadores — em 2010, eram 1.156.
Segundo o coordenador do Sistema de Proteção Escolar, Felippe Angeli, 90% dos casos relatados pelos professores se referem a provocações agressivas, verbais ou físicas. Para isso, ele ressalta a importância de a testemunha denunciar à direção da escola. “Não pode haver silêncio quando algum tipo de injustiça é praticada contra outras pessoas.”
No programa Prevenção Também se Ensina, um jogo de RPG distribuído aos alunos do ensino médio orienta os jovens a prevenir o preconceito. “A atuação da secretaria é para que as escolas fortaleçam a parceria com os pais, famílias e comunidade escolar na discussão de temas tão sensíveis e importantes para as nossas crianças e jovens”, afirmou, ontem, o secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, durante o 2Seminário de Proteção Escolar .
Maiores de 12 anos já são punidos
Segundo Ricardo Cabezón, presidente da Comissão de Direitos Infantojuvenis da OAB-SP, a responsabilidade penal de uma criança começa com 12 anos. “A partir dessa idade, a criança já pode sofrer uma internação e ir, por exemplo, para a Fundação Casa. Lá, ela vai passar por uma avaliação psicológica a cada três meses”, diz o advogado. Uma criança menor de 12 anos não pode sofrer tal punição. Neste caso, o que acontece é uma medida de proteção, que está prevista no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Pais também têm responsabilidades
Os pais dos alunos que participaram das agressões à garota de 11 anos também podem ser responsabilizados criminalmente por danos físicos e psíquicos cometidos por seus filhos a outras pessoas. “Quando se comprova, e só quando se comprova, que os pais incentivaram seus filhos a cometerem a infração, eles também podem responder por isso”, afirma Ricardo. Para ele, a primeira providência da escola é abrir um procedimento administrativo interno para apurar o caso, o que já foi feito, segundo a Secretaria Municipal de Educação.
Assista reportagem do SBT sobre o caso:
com Diário de SP