Redação Pragmatismo
Notícias 19/Nov/2024 às 17:47 COMENTÁRIOS
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"Abortar": Mensagens mostram que militares tentaram matar Alexandre de Moraes

Publicado em 19 Nov, 2024 às 17h47

'Kids Pretos' estavam nas ruas para matar Alexandre de Moraes, mas plano foi abortado na última hora. Segundo os documentos obtidos pela PF, um imprevisto resultou na mudança do plano naquele dia e alterou o curso da história brasileira. Execução de Lula e Moraes envolvia armas pesadas e envenenamento e foi planejada na casa do general Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro

matar lula alexandre de moraes
(Imagem: Agência Brasil)

via Aguirre Talento e José Roberto Toledo

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (19) apresenta, com riqueza de detalhes, como os militares das Forças Especiais utilizaram técnicas avançadas do treinamento militar para tentar executar ações como a captura e o assassinato de Lula e de Alexandre de Moraes. Chegaram a colocar em prática um dos planos, posicionando militares perto da casa do ministro, mas cancelaram de última hora a ação.

A PF cumpriu a prisão de quatro militares das Forças Especiais, também conhecidos como “kids pretos”: o general da reserva Mário Fernandes e os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo.

O treinamento dos membros das Forças Especiais inclui táticas de guerrilha, ações de inteligência, infiltração em territórios inimigos e ações para desestabilizar adversários.

A investigação da Polícia Federal detectou que essas técnicas foram empregadas nas ações que iriam resultar no assassinato de Moraes, no dia 15 de dezembro de 2022, em Brasília.

“Os dados obtidos demonstram que militares, em perceptível integração criminosa, planejaram e executaram uma operação clandestina com emprego de técnicas típicas de agentes de forças especiais”, escreveu a PF no pedido de prisão.

O emprego de técnicas militares teve início nas reuniões para o planejamento das ações golpistas e a criação de um documento com o nome “Copa 2022”, que descrevia o planejamento.

As ações começaram a ser colocadas em prática com a aquisição de aparelhos celulares novos registrados em nome de terceiros e o uso de codinomes em um aplicativo de mensagens, para que os militares se comunicassem durante a execução das ações.

Em vez de cadastrarem seus nomes no aplicativo, eles usaram nomes de países como codinomes: Alemanha, Áustria, Gana, Japão.

A PF diz que seis militares das Forças Especiais atuaram na tentativa de assassinato de Moraes no dia 15 de dezembro de 2022 e que um dos líderes era o tenente-coronel Rafael Martins. Nessa data, todos combinaram posicionamentos específicos em Brasília. Usaram veículos alugados para tentar não deixar rastro. Havia militares próximos ao STF e outros em uma localidade a poucos quilômetros da residência do ministro.

Um imprevisto, entretanto, resultou na mudança do plano naquele dia. Um julgamento que ocorria no STF foi encerrado mais cedo do que o previsto. Diante dessa notícia, os kids pretos trocaram mensagens sobre o assunto por meio do aplicativo.

Áustria pergunta: “Tô perto da posição, vai cancelar o jogo?”. Outro integrante responde e distribui tarefas: “Abortar… Áustria… Vai para local de desembarque… Estamos aqui ainda. Gana… prossegue para resgate com Japão”.

A PF detectou que o militar situado próximo à residência do ministro Alexandre de Moraes optou por deixar o local a pé, sem pedir táxi ou algum meio de transporte, para evitar deixar qualquer tipo de rastro.

Na conversa, o tenente-coronel Rafael Martins diz aos colegas que era o momento de “exfiltração”. A própria PF traduz o termo em sua representação por meio de um glossário do Exército: “Técnica de movimento realizado de modo sigiloso com a finalidade de retirar forças, pessoal isolado ou material do interior de território inimigo ou por ele controlado”.

O grupo também fez deslocamentos em outros dias para locais próximos ao STF e à residência do ministro, com o objetivo de monitorá-lo para uma eventual execução.

A PF também detectou que esses militares atuaram para disseminar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e lançar dúvidas sobre o resultado do pleito, em uma outra tentativa de usar técnicas militares de “ações psicológicas” para tornar o ambiente propício a um golpe.

“Esse modo de atuação foi robustecido pelo emprego de técnicas de ações psicológicas e propaganda estratégica no ambiente politicamente sensível pelo “Kids Pretos”, instigando, auxiliando e direcionando líderes das manifestações antidemocráticas conforme seus interesses”, escreveu a PF.

O IMPREVISTO

“A ação foi planejada meticulosamente, custava uma grana de R$ 100 mil e foi abortada por mudanças no que eles chamam de cenário operacional. A vítima não estava no lugar combinado, não combinaram com o Alexandre de Moraes direito, ele não apareceu e daí tiveram que cancelar a ação”, observa o jornalista Roberto de Toledo.

“Não teve prisão, não teve confronto, não teve nada, mas estava evidente que o Alexandre de Moraes estava sendo monitorado e que tinha todo um plano para atacá-lo. Porque se você vai prender o Alexandre de Moraes, você vai mandar uma pessoa só, sem carro, ele vai tirar o Alexandre de Moraes de lá como? Era para matar o Alexandre de Moraes, é óbvio. Não tinha como, não tinha outra explicação”, acrescenta.

BRAGA NETTO

De acordo com a Policia Federal, o general Braga Netto, candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro na eleição de 2022, atuou no planejamento do golpe para executar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Segundo apurações da PF, Braga Netto colaborou na elaboração e na execução —malsucedida— do plano. O general inclusive ofereceu sua casa para reuniões golpistas.

No relatório, a PF informa que o monitoramento das autoridades “teve início, temporalmente, logo após a reunião realizada na residência de Walter Braga Netto, no dia 12 de novembro de 2022”.

O plano, de acordo com a PF, era instaurar “um Gabinete de Crise, no dia 16 de dezembro de 2022, após o golpe de Estado, composto em sua maioria por militares, sob o comando dos generais Augusto Heleno e Braga Netto, contando ainda com a participação do general Mario Fernandes e de Filipe Martins [assessor especial da Presidência de Bolsonaro]”. Mario Fernandes foi um dos alvos presos preventivamente pela PF na operação nesta terça-feira (19).

CRONOLOGIA DO GOLPE

12 de novembro de 2022: A Reunião na Residência do General Braga Netto

Participantes Identificados: General Walter Braga Netto, Tenente-Coronel Mauro Cid, Major Rafael Martins de Oliveira, Tenente-Coronel Ferreira Lima.

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