Redação Pragmatismo
Economia 05/Dez/2024 às 18:07 COMENTÁRIOS
Economia

BC vendeu dólar 113 vezes com Bolsonaro para conter alta do câmbio e apenas 1 vez com Lula

Publicado em 05 Dez, 2024 às 18h07

O Banco Central torrou grande parte das nossas reservas internacionais ao vender US$ 74 bilhões em dólar à vista no governo Bolsonaro para conter a alta do câmbio. Durante o governo Lula apenas US$ 1,5 bi foi vendido, o que escancara o caráter político de uma instituição que deveria ser técnica

Bolsonaro BC Campos Neto
Guedes, Bolsonaro e Campos Neto (Marcos Correa/PR)

Mariana Desidério, via UOL

O Banco Central atuou 113 vezes no mercado à vista para baixar o preço do dólar nos quatro anos da gestão Bolsonaro, e uma vez na atual gestão Lula. O dólar chegou à marca dos R$ 6 nos últimos dias.

Banco Central vendeu US$ 74 bilhões no mercado à vista entre 2019 e 2022, na gestão Bolsonaro. Em 2023, primeiro ano da gestão Lula, a autoridade monetária não fez nenhuma oferta de dólar à vista. Em 2024, fez uma única oferta, de US$ 1,5 bilhão, em setembro.

A oferta de dólar à vista é uma das ferramentas do BC para interferir no câmbio. Funciona assim: o BC vende a moeda americana no mercado para equilibrar a relação entre oferta e demanda. Com isso, ele busca atuar para baixar o preço do dólar.

O país ficou seis anos sem operar no mercado de dólar à vista, entre 2013 e 2018. Em 2019, vendeu US$ 36 bilhões. Em 2020, vendeu US$ 24,7 bilhões. Em 2021, US$ 11,9 bilhões. E, em 2022, US$ 571 milhões.

Saiba mais: Como sabotar o Brasil manipulando números e a conivência da imprensa

A atuação do BC reduziu as reservas internacionais do país. Em 2018, o país tinha uma reserva de US$ 374 bilhões em moeda americana. Com as sucessivas atuações do BC no câmbio, a reserva caiu para US$ 324 bilhões ao final de 2022 – menos US$ 50 bilhões. O número não é uma conta de subtração exata, pois a contabilidade da reserva considera também outros mecanismos de atuação do BC. Atualmente a reserva está em R$ 360 bilhões.

Outras ferramentas para conter o dólar

BC vendeu US$ 4 bilhões em novembro de 2024, com compromisso de recomprar mais tarde. Outra ferramenta do BC são as linhas de recompra. Nessa modalidade, o BC vende dólar com o compromisso de recomprar no futuro. A movimentação mais recente ocorreu em novembro, quando o BC vendeu US$ 4 bilhões, a serem recomprados entre abril e junho de 2025.

Em 2023, não houve venda de dólares em linha de recompra. Mas houve compra, num total de US$ 13 bilhões. O saldo dos contratos de recompra sob Lula é, portanto, positivo em US$ 9 bilhões. Ou seja, houve mais compra do que venda de moeda americana nesse tipo de intervenção.

Sob Jair Bolsonaro, o saldo dos contratos de recompra foi negativo em 750 milhões. Sendo assim, houve mais venda do que compra de moeda americana na modalidade. Em 2022, último ano do governo, o BC vendeu US$ 11,5 bilhões.

Saldo de contratos de swap cambial subiu 46% com Bolsonaro e 2% com Lula. Outra ferramenta do Banco Central são os contratos de swap cambial, usados para proteger agentes que têm dívida em dólar. Com esses contratos, o BC assume o risco do câmbio e alivia a pressão sobre a moeda. Entre 2019 e 2022 o saldo de contratos de swap cambial do BC subiu 46%, foi de US$ 68,8 bilhões para US$ 100 bilhões. Entre 2023 e 2024, o saldo subiu só 2% e está em US$ 102,8 bilhões, conforme dados de outubro.

Quando o BC interfere no dólar?

O Banco Central só atua no câmbio quando há disfuncionalidade. O Brasil opera no regime de câmbio flutuante, ou seja, o preço da moeda não é controlado, e flutua conforme o mercado. Por esse regime, a autoridade monetária só atua se entende que há algum fator de desequilíbrio.

Com o dólar a R$ 6, cresce a pressão por uma interferência do BC. As críticas são direcionadas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro. Dentre os críticos estão a presidente do PT Gleisi Hoffmann, e o líder do partido na Câmara, Odair Cunha. Na rede social X, Cunha citou atuação do BC para conter o dólar na gestão anterior. As decisões do BC não são tomadas individualmente pelo presidente.

Gabriel Galípolo disse que país não vai segurar moeda “no peito”. O atual diretor de política monetária, e indicado por Lula para presidir o BC a partir de janeiro, disse no início da semana que o BC não vai segurar o câmbio “no peito”. “Tem US$ 370 bilhões de reserva, por que não segura no peito? Mas quem está no mercado sabe que não é assim que funciona”, disse.

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Imagem: BC

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