Carta Maior: Serra, um caso de Procon ou pior que isso?
Guinadas sucessivas durante a campanha, às vezes num mesmo dia, nãoraro em intervalo de horas, já suscitam, até em aliados, a dúvidapertinente: afinal, o que é verdadeiro em José Serra?
De dia, o arestoso tucano acusa o governo Lula de cercear a liberdadede expressão; à noite, o personagem esquivo adula o Presidente daRepública e esconde FHC, o mandatário a quem serviu durante oito anos.
“Ingrata”, diz em relação a adversária que, em raciocínio tortuoso,acusa de menosprezar a obra do governante eclipsado em sua própriacampanha, cujo carro-chefe é não olhar o retrovisor.
Seu jingle eleitoral falsifica a voz de cantora famosa; no rádio,falsifica a voz de Lula; a favela onde falsifica popularidade é umasimulação reveladora da visão higienista adotada quando esteve à frentedo poder municipal e estadual.
O candidato que incorpora Carlos Lacerda num dia, afirma ter sidoelogiado por Brizola no outro; defende a liberdade de imprensa emdiscurso mas pede cabeças de jornalistas aos patrões pelo telefone.
‘Democrático’ em auto-elogio, implodiu a própria coligação na obsessiva rotina de centralização das decisões mais comezinhas.
O presidenciável que se propunha a unir o Brasil, agora desqualificaconferencias nacionais da cidadania com a participação ecumênica demilhares de delegados de todo o país.
Serra será apenas um caso de Procon, um oportunista desesperado? Ou umdistúrbio de personalidade perigosamente aferrado à idéia de ser oonipotente governante do país?