Pondé quer ensinar direitistas a "pegar mulher"
Luiz Felipe Pondé aponta o problema maior do jovem de direita no Brasil: ele não "pega mulher"
O colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, um dos expoentes do movimento neoconservador, que se diz filósofo, talvez de botequim, acaba de lançar uma tese polêmica. Jovens tendem à esquerda no meio universitário porque este seria o caminho mais simples para “pegar mulher”. Por isso, ele propõe uma “direita festiva”, que livre os chamados “coxinhas” da solidão.
Abaixo, publicamos os textos dos jornalistas Fernando Brito e Marcos Sacramento em resposta à coluna de Luiz Felipe Pondé:
Pondé, a indigência mental do “filósofo pegador” da nova direita
Fernando Brito
Não costumo perder meu tempo lendo o que escreve o filósofo (ai, jesus!) Luiz Felipe Pondé, elevado pela Folha à condição de pensador existencial.
Mas hoje tive o descuido de ler sua coluna na Folha, intitulada Por uma direita festiva.
E deparei-me com abjeções em série.
“Ser jovem e liberal é péssimo para pegar mulher. Este é o desafio maior para jovens que não são de esquerda.”
Pegar mulher, sim, senhores. Uma coisa que se pega, não é?
Aliás, neste sentido primário, não me parece que, a não ser por desinteresse, jovens e liberais, do rei dos camarotes ao funk-ostentação, não têm muita dificuldade em “pegar mulher”…
Mas segui adiante, achando que pudesse ser ironia ou a tentativa de ser um “Macaco Simão” da filosofia.
“Um dos maiores desafios dos jovens que não são de esquerda não é a falta de acesso a bibliografia que seus professores boicotam (o que é verdade), nem a falta de empregos quando formados porque as escolas os boicotam (o que também é verdade), mas sim a falta de mulheres jovens, estudantes, que simpatizem com a posição liberal (como se fala no Brasil) ou de direita (quase um xingamento).”
Ah, estamos vivendo sob uma ditadura marxista, onde os livros do pensamento conservador são censurados e as empresas – verdadeiras células da ditadura do proletariado – discriminam os “jovens que não são de esquerda”. Então, os caríssimos mauricinhos estão, além de privados de livros e empregos, vivem à míngua de companhia feminina…
Para mal dos meus pecados, não era brincadeira ou ironia. Pondé esclarece:
“Vou repetir, porque eu sei que questões altamente filosóficas são difíceis de se entender: o maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é pegar mulher (no meio universitário e afins), sendo liberal.”
Vejam que primor de explicação ele nos oferece:
“Os cursos em que você encontra jovens liberais (economia, administração de empresas, engenharia e afins) têm muito poucas mulheres e as que têm não têm muito interesse em papo cabeça e política. O celeiro de meninas que curtem papo cabeça e política são cursos como psicologia, letras, ciências sociais, pedagogia e afins, todos de esquerda.”
O cidadão está meio atrasado.
Isso vem mudando faz tempo e, embora ainda sejam minoria na área de Exatas, as mulheres, na maioria destes cursos, estão longe de serem “muito poucas”, como se pode ver no exemplo da USP, registrado na tabela abaixo.
“Papo-cabeça”, política, ao que parece, na visão de Pondé, seriam como aqueles “assuntos de mulher” da primeira metade do século 20. Frivolidades, desperdício de tempo. E, ao “pegador”, aconselha ele, “pelo amor de Deus, não fale de economia”. As meninas destetam economia…
Será que é por uma inferioridade cerebral, professor Pondé?
Ao contrário, diz ele, “se você é de esquerda, pegar mulher é a coisa mais fácil do mundo”.
Ele imagina até o cenário da “pegada”: Um pouco de vinho barato, quem sabe, um baseado? Um som legal, uma foto grande do Che (aquele assassino chique) na parede.
Claro, porque, “sem álcool e conversa (…) a humanidade teria desaparecido porque mais da metade das meninas não iam querer transar –principalmente quando descobriram a dor do parto”.
Com toda a sinceridade, por mais que eu esteja acostumado com a mediocridade mental da nossa “nova direita”, não deixo de ficar chocado com estes episódios de selvageria mental explícita.
É algo comum aos Constantinos e Azevedos: alcançar a notoriedade pela grosseria e pela – perdoem, mas a palavra é inevitável – escrotidão mental.
Não ouçam as dicas do Pondé para “pegar mulher”
Marcos Sacramento
Em sua última coluna na Folha, o “filósofo” Luiz Felipe Pondé escreveu um manual com dicas para o jovem liberal se dar bem com a mulherada. Com um título que parece um manifesto, “Por uma direita festiva” parte do pressuposto de que os estudantes esquerdistas são sempre bem sucedidos quando se metem em dialéticas com o sexo oposto.
Diz ele, meio irônico, meio fanfarrão, confessando sua vida dura:
Vou repetir, porque eu sei que questões altamente filosóficas são difíceis de se entender: o maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é pegar mulher (no meio universitário e afins), sendo liberal. Claro, charme pessoal, simpatia, inteligência, grana, repertório cultural, sempre são fatores importantes, mas a esquerda tem um ponto a favor dela que é indiscutível: se você é de esquerda, pegar mulher é a coisa mais fácil do mundo. Qual o segredo da esquerda? É ser festiva.
(…)
A esquerda festiva (que é quase toda ela) reproduziu porque teve muitas mulheres à mão. Imagine papos como: “Meu amor, se liberte da opressão sobre o corpo da mulher!”. Agora, imagine que você esteja num diretório de ciências sociais no final da noite ou num apê sem pai nem mãe (dela) por perto. Um pouco de vinho barato, quem sabe, um baseado? Um som legal, uma foto grande do Che (aquele assassino chique) na parede.
Não sei de onde ele tirou essa história. Durante a faculdade, na Federal do Espírito Santo, frequentei reuniões do diretório acadêmico, simpatizava com as Farc, com o Subcomandante Marcos, participava de grupo de estudo sobre o Manifesto Comunista e era goleiro de um time de futsal chamado Pravda.
Mesmo com um currículo desses, não era nenhum Don Juan.
E, até onde sei, a situação não era diferente da de outros garotos do movimento estudantil. Aliás, ninguém ali era de esquerda para se dar bem com as meninas. Nem alguém que acreditasse que a Albânia era o melhor lugar do mundo teria uma ilusão dessas.
Mas, apesar das conquistas modestas, posso elencar umas dicas bem mais úteis para os jovens de direita do que as sugeridas pelo Pondé.
Antes de tudo, relaxem. Deixem de lado essa paranoia de que o Brasil está sob a ameaça de uma ditadura comunista. É um pensamento antigo, que cheira a mofo. Pense bem, que mulher vai querer beijar um sujeito que curte um macartismo no escuro?
Acordar e dormir pensando na “ameaça bolivariana” produz cortisol, o hormônio do stress. Além de detonar sua saúde, deixa você com o cenho franzido. Isso não é nem um pouco sexy.
Uma boa dica é deixar de lado essa mania de dividir o mundo entre dois pólos opostos. Você repele as moças, que são seres complexos demais para quem tem uma visão maniqueísta das coisas. Sei, é pedir demais de vocês.
Não gastem tanto tempo diante do computador destilando bílis nas seções de comentários dos sites de notícia.
Parem de ler o Pondé.
Repito: não sei de onde o colunista tirou essa ideia de que os jovens esquerdistas são grandes conquistadores. Mas, se eu tinha alguma dúvida de que as coisas seriam bem mais difíceis para mim se eu fosse um direitista esquisitão nos tempos da faculdade, agora não tenho mais.