O papel do PT
Publicado em 01 Set, 2010 às 19h09
É evidente que não são apenas candidatos do PT que, movidos pelaeuforia da provável vitória da sua candidata à presidência, esquecem defalar dela e se voltam apenas para a promoção de sua própriacandidatura. Candidatos de outros partidos coligados também o fazem,embora haja aqueles que fazem questão de associar-se ao nome e à figurada candidata do PT.
Mas o PT talvez não possa dar-se ao luxo de permitir que seja seguidopelo exemplo negativo. Se tal postura se disseminar, como já afirmamosem outros comentários, as conseqüências podem ser desastrosas, apesarda crise em que se encontra a candidatura Serra. O problema dessepartido consiste em que a grande mídia ainda não desistiu dederrotá-lo, nem à sua candidata. A grande imprensa possui um arsenal,impossível de subestimar, e pode aproveitar-se de qualquer descompassode candidatos petistas na promoção, ou falta de promoção, da candidatado PT à presidência.
A grande mídia, ou o quarto poder da República, por um lado, continuatentando criar um fato político de repercussão, que reviva trapalhadasdo tipo “aloprados”, e freie a tendência de crescimento da candidatapetista. O suposto vazamento, pela Receita Federal, de dados sigilososde pessoas ligadas a Serra está dentro dessa busca desesperada parareverter a tendência principal da disputa.
Por outro lado, esse quarto poder continua operando para forçar umsegundo turno, abrindo ainda mais espaço para Marina e demaiscandidatos da oposição de esquerda, que divulgam a idéia de que Dilma eo PT estão a serviço do grande capital. Em linha paralela e contrária aesta, regurgita a idéia, ainda presente em alguns poucos setores dopróprio PT, de que a grande aliança histórica desse partido deveria sercom o PSDB. Com isso, procura desqualificar a aliança com o PMDB ecriar uma cunha na coligação.
Ou seja, a grande mídia opera por todos os flancos no sentido deintroduzir dúvidas e reduzir o ímpeto da campanha presidencial do PT.Ela parece ter claro que a atual disputa presidencial pode ser o acertofinal de contas com a herança nefasta de FHC. O que parece não estarsuficientemente evidente para segmentos consideráveis do próprio PT,nem para alguns de seus aliados e adversários.
Este é um dos motivos pelos quais a campanha presidencial do PTapresenta limites que não pode transpor, sob pena de perder apoios noprocesso eleitoral. O que impõe à campanha uma certa posição defensivaem questões polêmicas e discrepantes na coligação. Por outro parte,para a maior parte da população brasileira, para aquela massa que viviaenjeitada e abandonada, e para a qual as políticas implementadas pelogoverno Lula passaram a representar uma esperança de mudança real, apossível vitória da candidatura Dilma apresenta uma expectativa que vaialém da simples continuidade do governo Lula.
Essa maioria da população e do eleitorado quer um governo que chegueainda mais perto de suas esperanças e expectativas. Não é por acaso queSerra, mesmo não tendo legitimidade para isso, tenha se esforçado paraconvencer de que faria muito mais. Como não é por acaso que o próprioLula tem declarado que uma das tarefas que está se impondo, após passaro governo, será batalhar pela reforma política.
Essa situação também impõe à candidatura Dilma uma posição ofensiva emquestões que dizem respeito ao futuro das grandes massas populares, dopaís e da própria América do Sul, sob pena de também perder apoios senão tiver posição definida a respeito delas. Nessas condições, se acandidatura Dilma não exercer uma combinação adequada entre seuslimites, no âmbito da coligação política, e suas necessidades, noâmbito das demandas democráticas e populares, ela poderá terdificuldade em responder adequadamente ao fogo adversário e continuarampliando seu potencial de votos.
O desgaste da candidatura Serra, tanto pelas promessas populistas defazer tudo em toda parte, quanto pelo reacionarismo demonstrado numasérie de temas econômicos, sociais e mesmo de diplomacia externa, éevidente. Mas seria ilusão supor que, apesar disso, a grande mídia vaiabandonar os temas polêmicos e evitar colocá-los em debate. Talvezocorra justamente o oposto. Isto é, quanto mais a candidatura Serraafundar, mais ferrenha e violenta pode se tornar a campanha do quartopoder.
Este teste, aparentemente, será um teste da candidata e da suacoordenação coligada. Na verdade, porém, será principalmente um testeque colocará em pauta o papel do PT e de sua direção como principalpartido na disputa. Se ele não entender isso, poderá sair enfraquecido,mesmo que Dilma vença no primeiro turno. A política, como a vida, semove à base de contradições. E há indícios de que essa é uma daspresentes na atual campanha eleitoral.
Wladimir Pomar