Dá pra virar? Não. Nenhum candidato
Publicado em 03 Set, 2010 às 20h20
A campanha de Serra tenta evitar que tudo piore ainda mais e buscafôlego em slogan surrado – “hora da virada”- diante do fracasso dosfactóides. O fato é que não houve virada em nenhuma das cinco eleiçõesrealizadas após a retomada da disputa pelo voto direto, em 1989, já coma propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
O histórico das competições presidenciais, polarizadas entre o PSDB e o PT, aponta para a decisão no primeiro turno.
Em 1989, não havia essa polarização e 22 candidatos competiam. FernandoCollor foi para o segundo turno com o dobro das intenções de voto emLula (22% contra 11%, em percentuais redondos) e ganhou a eleição.Leonel Brizola teve menos de 500 mil votos do que Lula.
Em 1994 e 1998, o tucano FHC liquidou a fatura contra Lula no primeiroturno. Valeu-se da estabilidade da moeda, proporcionada pelo PlanoReal, criado no governo Itamar Franco.
Lula admite, hoje, com razão, que seria um desastre se vencesse aquelas eleições que embalaram sonhos generosos, mas ingênuos.
A exemplo do que ocorreu em 1989, houve um grande número deconcorrentes na eleição de 2002. Ciro Gomes (PTB) e Anthony Garotinho(PSB) foram os que, fundamentalmente, impediram a vitória de Lula noprimeiro turno. Com 34% das intenções de voto, o petista entrou nohorário eleitoral à frente de Ciro Gomes (25%) e de José Serra (14%),além de Garotinho (11%), e ganhou a eleição no segundo turno do tucano,que subiu 4 pontos no horário eleitoral e chegou a 18%, em segundolugar.
Em 2006, após cruzar a tormenta das denúncias do chamado “mensalão”noano anterior, Lula disputou a reeleição contra o ex-governador, tambémpaulista e também tucano, Geraldo Alckmin. A história se confirmou.Lula entrou na etapa da propaganda eleitoral gratuita à frente deAlckmin, com mais que o dobro das intenções de voto: 46% contra 21%.
Por que a eleição foi esticada para o segundo turno, por muito pouco,já se sabe. Houve a denúncia contra os chamados “aloprados”do PT. Mas oimpacto não foi provocado pelos programas do horário eleitoral. Adenúncia foi explorada ao máximo pelo Jornal Nacional e teve forterepercussão na mídia escrita. Mesmo assim, mantendo o histórico daseleições, Lula venceu.
É atrás de escândalo semelhante ou mais forte que a oposição anda. Umfato novo, real, que possa ser manipulado para impactar a opiniãopública. Mentira não cola.
A vitória de Dilma, se confirmada, jogará por terra, mais uma vez, ainfluência da mídia sobre eleitores de renda mais baixa e de menorescolaridade. É um mito alimentado pelo preconceito. A imprensabrasileira, em ação implacável contra a candidatura Dilma, talvezaprenda que pobres e ricos só votam por interesse concreto. Votoideológico, à esquerda ou à direita, é instrumento político de minoria.
Por essas razões, a margem de erro é muito curta quando se diz “Não” emresposta à pergunta angustiada feita pela oposição: “Dá pra virar?”
Maurício Dias
CartaCapital, edição impressa