Mulher de Cachoeira gasta R$ 60 mil por viagem para visitá-lo em presídio
Da mordomia à solitária: Cachoeira experimenta sensação térmica de 40 graus e companhia de grandes criminosos do Brasil em sua nova morada. Um deles, o traficante Fernandinho Beira-Mar
Dentro da cela número 17 – grupo do macaco no jogo do bicho –, no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande Norte, o contraventor Carlinhos Cachoeira tem experimentado, todos os dias, uma sensação térmica de 40 graus. Entre seus vizinhos de xadrez está o traficante mais famoso do Brasil, Fernando Beira Mar. Para sair do sufoco de seu cárcere de sete metros quadrados, Cachoeira pode tomar banho de sol, no pátio, durante duas horas ao dia. Para aplacar a solidão, tem direito à companhia de até cinco livros por semana, a serem retirados da biblioteca da cadeia. Às quintas-feiras, porém, desde seu encarceramento, em 29 de fevereiro, ele recebe ao menos um bálsamo: a visita de sua atual companheira Andressa Alves Mendonça. Ex-mulher do suplente do senador Demóstenes Torres, Wilder Moraes, Andressa chega à cidade num jatinho fretado, ao custo estimado de R$ 60 mil pela viagem de ida e volta com origem em Goiânia. A rotina de Cachoeira em Mossoró é em tudo diferente da que ele desfrutava quando estava em liberdade e era reconhecido como o homem mais poderoso de Goiás.
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O segundo mais entre 14 irmãos, Carlinhos Cachoeira é o líder de uma grande família. A mesma família, com dezenas de primos, sobrinhos e agregados, que ele gostava de reunir, aos sábados, em sua chácara de dez alqueires, em Anápolis, para torneios de futebol. “Craque”, define um dos frequentadores dessas reuniões, a respeito das qualidades futebolísticas do contraventor, que gosta de jogar no meio-de-campo. Sua paixão pelo futebol o levou a organizar diversos jogos amistosos, em estádios das cidades de Goiânia e Anápolis, dos quais participavam artistas conhecidos nacionalmente, como o sertanejo Daniel. Era costume da turma de Cachoeira jogar em estádios vazios, cedidos pelas municipalidades. Depois dos jogos, o chefão gostava de ouvir, ao vivo, duplas sertanejas que ele mesmo patrocinava.
Afeito à uma vida social intensa, Cachoeira tem entre os seus muitos sobrinhos o colunista Marcos Bakura, titular da coluna Resumo, publicada regularmente no Jornal do Estado. Com circulação às quartas e sábados, o veículo é de propriedade de Cachoeira. A Operação Monte Carlo da Polícia Federal deu uma blitz e recolheu, ali, uma série de documentos. Bacura, a exemplo de vários outros parentes de Cachoeira, tem cargo remunerado na Secretaria da Indústria e Comércio de Goiás.
Na casa em que foi preso pela Monte Carlo, no condomínio Alphaville Ipês, em Goiânia, Cachoeira gostava de reunir amigos, à noite, para rodadas de vinho tinto. Com piscina, churrasqueira e ambientes amplos, a residência pertenceu ao governador Marconi Perillo, que a vendeu, no ano passado, para o empresário Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão.
Santiago tem uma interessante ligação com Cachoeira, além da circunstância de, oficialmente, emprestar a casa para o contraventor viver. A Faculdade Padrão funciona nas dependências do Jockey Club de Goiás. Cachoeira, desde 2007, passou a comprar títulos de associados do clube, de modo a tornar-se um dos majoritários. O mesmo movimento foi feito pelo associado Ibrahim Arantes, irmão do deputado federal Jovair Arantes (PTB), citado em grampos realizados pela Operação Monte Carlo. O que se acredita em Goiânia é que Cachoeira e Arantes determinam os destinos do Jockey. Tanto assim que o contrato de cessão de espaço para a Faculdade Padrão ter sido considerado, pelos demais associados, lesivo aos interesses do clube. Um inquérito foi aberto pela polícia civil de Goiás para descobrir o que pode estar por detrás de um acordo pelo qual a Faculdade Padrão fechou num contrato de uso de suas instalação por 20 anos renováveis por mais 20. A escola assumiu uma dívida de R$ 6,6 milhões do clube, mas, para quitá-la, tem a obrigação, apenas, de pagar dez salários mínimo a cada mês. O terreno do Jockey, numa área nobre de Goiânia, teve seu preço estimado no mercado em R$ 200 milhões. O Ministério Público de Goiás também está investigando o caso.