Brasil dividido: um muro para a intolerância
Mailson Ramos*
Somente alguém com o grau de egoísmo extrapolado, com a essência latente do despreparo poderia sugerir a divisão do Brasil por um muro.
Este Romeu Tuma Jr. e aqueles que concordam com suas opiniões não mereciam uma simples linha escrita em nenhum blog ou portal de noticias brasileiro; não mereciam um reles comentário ou post nas mídias sociais para despertar a mais frívola das discussões; gente de caráter maldoso, separatista e xenofóbico deve pertencer a outros níveis sociais reduzidos à baixeza de suas opiniões. E depois de séculos de luta, de homens históricos que doaram suas vidas pela união da nação, um sujeito desprovido de qualquer bom senso democrático expõe a ideia de dividir o país.
Sempre, depois das vitórias do PT, existe uma luta intensa contra o nordeste. As agressões começam nas mídias sociais e são levadas a cabo com troca de ofensas dos dois lados. O erro primeiro é não respeitar a escolha dos eleitores nordestinos. É não aceitar seu direito de escolha. Onde fica a democracia cantada em verso e prosa pelos eleitores de Aécio que agora não aceitam a derrota? Só existiria democracia se o candidato tucano vencesse? Onde está escrito na Constituição que o sudeste e sul brasileiro decidem a vida política do país?
Romeu Tuma Jr. deve ter se esquecido das aulas de história do Brasil e da política do café-com-leite, quando Minas Gerais e São Paulo se revezavam no poder. Nós contemporâneos nos achamos muito evoluídos em termos de pensamento: naquela época o nordeste e os outros estados poderia se rebelar contra mineiros e paulistas? As oligarquias dos fazendeiros de café e dos produtores de leite eram as grandes beneficiárias destas eleições. E onde ficava o nordeste, o norte e o centro-oeste do país nesta divisão? Poderiam eles também sugerir um muro de divisão?
Não estou dizendo com isso que o apoio do nordeste aos governos petistas é uma vingança histórica. É simplesmente o privilégio de manter uma estrutura que fez e faz avançar políticas públicas nunca antes referendadas pelo poder central do país. Ganhamos vulto na área da educação superior, famílias deixaram a miséria, existe hoje uma condição de êxodo urbano reforçado pela ideia de que as zonas rurais preservam melhores condições de vida com água, luz e tecnologia necessárias para superar a vida difícil nos grandes centros urbanos.
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A partir de 2008, as pesquisas dão conta de que a presença nordestina tem diminuído em São Paulo, embora, São Paulo, como território brasileiro, coberto pelas leis da Constituição que privilegiam o direito de ir e vir pertença a todos nós e não apenas aos seus gentílicos.
Envergonha o fato de que algumas pessoas muito mal intencionadas queiram transformar o estado paulista em território quase independente. A verdade é que estas considerações esdrúxulas de divisão do país surgem num momento de derrota política, mas uma derrota que pode ser vista como pressuposto de diálogo com o governo.
O que preocupa esta gente mal intencionada é a ojeriza e o ódio que ela conserva em relação ao PT. Como dialogar com algo que abomino? E isso não é política. Este Romeu Tuma Jr. e todos aqueles que concordam com suas proposições devem acordar do mundo das ilusões e colocar os pés no chão como fez o candidato derrotado Aécio Neves, quando disse em sua entrevista coletiva que a presidenta deveria, como primeiro ato de vitória, unir o país após os desgastes. Percebe-se que Aécio conserva um grau de entendimento político não diluído entre seus eleitores. A eles restam as ideias malfadadas e a indignidade de morar seja em São Paulo, seja no nordeste. Neles não há nada de brasilidade.
*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Opinião e Contexto. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político. Contato: [email protected]