Nove empreiteiras, muitos segredos
André Falcão*
Para quem torcia para a Operação Lava-Jato ser a bala de prata a ferir de morte o governo recém reeleito, o tiro está saindo pela culatra.
Dezenove poderosos diretores das maiores construtoras do país foram presos. Embora com o estardalhaço de sempre, como costuma ocorrer com as operações policiais no Brasil — e aí minha preocupação com eventuais inocentes lançados na lambança —, tem-se as melhores expectativas quanto ao seu sucesso.
Realmente, a despeito dos golpes midiáticos ocorridos durante as eleições e acirrados nos dias que se lhe antecederam — “vazamento” seletivo de suposto conteúdo que atingiria o governo federal, pinçado de depoimentos produzidos em delação premiada a delegados da Polícia Federal, os mesmos que às vésperas se prestavam a atacar agressivamente a presidenta da república e o ex-presidente Lula em seus perfis nas redes sociais (e há quem imagine estarmos numa ditadura ou caminhando para uma), até à malfadada reporcagem levada a cabo por aquela revista semanal de extrema-direita, que definitivamente enterrou o jornalismo político que já realizou há um bom tanto de anos atrás —, não dá pra não ter esperança de que se tenha inaugurado uma nova época no país.
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Nesse ponto, não se pode ser tolo para imaginar não haja envolvimento de gente do PT ou de aliados nas maracutaias. Mas muito menos ser cínico para fingir que o muro de corrupção que se ergueu dentro da maior e mais rentável empresa do país é resultado da obra e graça desse partido, restrito aos últimos doze anos em que está no poder.
Os ladrões do erário sempre por lá meteram suas garras sujas. A diferença é que antes suas cafajestadas não vinham à tona. Para se ter uma ideia, as quatro maiores empreiteiras do país nasceram sob os auspícios da ditadura militar (1964-1985), sobreviveram sem ser incomodadas a todos os governos que se lhe seguiram, inclusive por aquele do sociólogo cujos escândalos eram abafados por uma mídia vendida e por um representante do ministério público que se tornou conhecido pela triste alcunha de engavetador-geral da república.
Das nove sob investigação — olha, só —, ao menos seis delas financiaram a campanha para presidente do rapaz xodó da “elite branca” deste país, num valor superior a R$ 20 milhões de reais.
Para o “salve-se quem puder”, a delação premiada está aí. Não existe corrupto sem corruptor. E quem for podre, meu caro leitor, que se quebre. Com o perdão pelo chavão. Não pela rima. Paupérrima, mas involuntária.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político