Depois do espetáculo, Venina é descartada por 'falta de informações relevantes'
Ministério Público Federal descarta Venina como testemunha da Operação Lava Jato por falta de informações relevantes. Dispensa da geóloga evidencia a irresponsabilidade do jornalismo da Globo, que concedeu a Venina 30 minutos no Fantástico e mais algumas horas de repercussão durante a semana
O Ministério Público Federal (MPF) e o juiz federal Sergio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava Jato, dispensaram os depoimentos da ex-gerente de Abastecimento, Venina Velosa da Fonseca, subordinada ao ex-diretor Paulo Roberto Costa.
Venina respondeu a todas as perguntas do MPF: em suas respostas afirmou que alertou a presidente da Petrobras, Graça Foster, sobre o esquema de desvio de dinheiro da estatal; isentou a área de Abastecimento da Petrobras de responsabilidades na fiscalização das obras da empresa, dirigida pelo réu confesso Paulo Roberto Costa, e afirmou que o setor de ambos sequer tinha contato com as empreiteiras.
Mas quando os advogados que defendem empreiteiras interviram e fizeram perguntas a Venina, as respostas não foram completas. O advogado Antonio Sergio de Moraes Pitombo, da Engevix, carregou uma lista de questões. Em boa parte delas, a interrogada respondeu que não sabia, porque a área responsável pela assinatura de novos compromissos era a de Engenharia e Serviços, setor vinculado a Renato Duque – o denunciado que não quis ser delator e sofreu tentativas de extorsão de informações por parte do juiz Sergio Moro.
Perguntas relacionadas a licitações, fiscalização ou execução das obras da Petrobras eram todas respondidas por Venina colocando a culpa na diretoria de Serviços.
Em respostas genéricas, Venina era novamente questionada pelos advogados. Em uma das perguntas, Pitombo disse: “O senhor Paulo Roberto Costa se vangloriava de ser próximo ao governo? Próximo ao acionista controlador, como a senhora chamou?”.
A pergunta que dirigia questões contra o delator mais de uma vez protegido pela Justiça do Paraná foi interrompida por Sergio Moro, que impediu que Venina respondesse.
O advogado Fábio Tofic Simantob, também da defesa de executivos da Engevix, reclamou ao juiz a rejeição das perguntas. Disse que para as dúvidas do MPF, todas foram respondidas pela interrogada. “Durante as perguntas do Ministério Público, o depoimento foi praticamente ‘de ouvi dizer’. Agora que afeta realmente coisas que a testemunha em tese teria que saber, ela se esquiva”, criticou Simantob.
Moro rebateu: “Desculpe, doutor, mas ela respondeu que não é da área dela”.
Venina Velosa foi genérica ao comentar que todas as decisões da estatal são colegiadas, fazendo entender que Graça Foster, José Sérgio Gabrielli, ou demais diretorias poderiam terconhecimento de tudo.
Em pergunta direta sobre a sua área, sobre a escalada de preços na obra de Pernambuco, quando Venina e Paulo Roberto Costa foram conselheiros da Refinaria Abreu e Lima, disse que os valores maiores “causaram estranheza”, e que a sua reação no momento foi pedir informações à área de Duque.
Além da dificuldade imposta pelo próprio juiz que guia o caso e que estava conduzindo o depoimento, das perguntas técnicas sem aprofundamento do Ministério Público Federal, Venina também não economizou em termos extremamente técnicos e burocráticos, o que dificultou a compreensão para os advogados dos réus das empreiteiras e impediu novos rebatimentos.
A conclusão a que chegaram o MPF e o juiz Sergio Moro é de que o depoimento de Venina – o mais tenso de todos já realizados na Operação Lava Jato – não teve contribuição significativa, uma vez que muitas informações apenas diziam respeito à diretoria de Serviços e, portanto, não seria de acréscimo para outros interrogatórios do cartel das empreiteiras – como nas próximas audiências sobre a Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e Mendes Junior. Assim, as outras participações da ex-gerente de Abastecimento foram canceladas.
Jornal GGN e Agência Estado