Por que o silêncio em torno do escândalo do HSBC?
No mundo inteiro, jornais garimparam nomes de integrantes da lista do Swissleaks – o escândalo das contas secretas do HSBC. No Brasil, onde o caso envolve mais de 15 bilhões de reais sonegados, impera um silêncio assombroso e uma discreta cobertura midiática
Paulo Nogueira, DCM
Simplesmente inaceitável o silêncio no Brasil em torno do vazamento das contas secretas do HSBC na Suíça. Passo pelos sites das grandes empresas jornalísticas e a cobertura ou é nula ou é miserável.
Os números justificariam barulho. Muito barulho. No caso brasileiro, são 8 667 contas num total de 7 bilhões de dólares sonegados.
Me chamou a atenção, também, a atitude dos colunistas. Onde a indignação? Onde a estridência habitual? Onde o sentido de notícia?
Passei no twitter de Noblat. Nos últimos dois dias, uma centena de tuítes. Zero sobre os chamados Swissleaks.
Também dei uma olhada em Reinaldo Azevedo, verborrágico, torrencial nos textos. Nada sobre o HSBC.
São dois entre tantos.
A ausência deles do debate mostra uma coisa que sempre tive clara. A valentia deles vai até onde não existe risco de publicar algo que contrarie interesses de seus patrões.
É o colunismo sabujo, o colunismo papista, o colunismo patronal – ou, simplesmente, o colunismo chapa branca.
E se algum patrão dos colunistas estiver na lista? Na Argentina, o Clarín encabeça o pelotão dos sonegadores.
Melhor, então, ignorá-la.
No mundo inteiro, jornais garimparam nomes de integrantes da lista. No Brasil, apareceu – parece piada de humor negro – com algum destaque um morto: o banqueiro Edmond Safra.
Graças a um site angolano, soube-se que o Rei do Ônibus do Rio, Jacob Barata, também está listado.
A última vez que vi Barata no noticiário foi no casamento de uma neta. Gilmar Mendes foi um dos padrinhos.
Imagine, apenas imagine, que haja consequências jurídicas para Barata, e que o caso chegue ao Supremo.
Como agiria Gilmar?
Jornalista, como pregava o maior de nós, Pulitzer, não tem amigo. Porque amizades interferem no noticiário.
Da mesma forma, juízes não deveriam ter amigos. Mas, no Brasil, têm.
Não me surpreende a mídia no escândalo do HSBC. Conheço-a bem para esperar qualquer coisa diferente.
Mas e o governo: não tem nada a dizer?
Estamos tão bens de dinheiro nos cofres públicos para desprezar a busca dos bilhões sonegados?
Não é o que parece.
Considere o que a Espanha está fazendo. O ministro das Finanças, Cristóbal Montoro, anunciou que estuda “medidas legais contra o HSBC por sua participação em fraudes fiscais, lavagem de dinheiro e outros atos criminosos cometidos por cidadãos espanhóis”.
Em 2010, o governo espanhol teve acesso a 650 nomes de pessoas com conta secreta no HSBC na Suíça.
Foi atrás de um por um. A família Botin, que controla o Santander, fez um acordo extrajudicial com o governo. Pagou 200 milhões de euros, cerca de 600 milhões de reais.
A oposição de esquerda na Espanha luta para que a legislação seja alterada para que sejam publicados todos os nomes de todos os envolvidos em evasão fiscal.
No Brasil, o quadro é completamente distinto – e para pior.
Pouco antes de Joaquim Levy ser nomeado ministro da Fazenda, o banco em que ele trabalhava, o Bradesco, foi pilhado numa história de sonegação no paraíso fiscal de Luxemburgo.
A Globo carrega uma espetacular história de sonegação já há dois anos – sem quaisquer consequências legais ou financeiras.
A Globo continua a receber seu mensalão publicitário como se honrasse todos os seus compromissos com o Tesouro.
Ou os espanhóis – e o mundo – estão errados, ou errados estamos nós.
Faça sua escolha.