Conquistas populares
A permanência de Lula, por oito anos, na Presidência da República alterou fundamentalmente o rumo seguido pelo Brasil. Abriu caminho para que as amarras oligárquicas de um passado colonizado sejam extirpadas da consciência cidadã dos brasileiros que poderão continuar a construir um Estado democrático
Zillah Branco
O voto popular será para garantir a continuidade das conquistas essenciais que têm a produção nacional e a maioria da população que ainda é pobre, como alvos principais do desenvolvimento iniciado. O empenho de todas as classes sociais não deverá visar mais o enriquecimento de uma elite egoísta, mas sim o engrandecimento da nação para todos.
Esta mudança na consciência do brasileiro, proporcionada por dois mandatos de um governo que impôs metas realmente democráticas, é visível na superação de velhos preconceitos – raciais, sociais e de povos ainda condenados pelo imperialismo –, na prioridade de investimentos em áreas mais pobres do país, em grandes linhas de crédito voltadas para a infra-estrutura nacional e os grandes problemas sociais de abastecimento doméstico de água e energia elétrica, de construção de habitações populares, de atendimento médico e educacional, na promoção dos direitos humanos e no combate ao crime organizado. A prioridade da ajuda aos setores mais pobres e discriminados do país não prejudicou o êxito financeiro de empresas bem organizadas que exerceram as suas funções no sistema capitalista – de produção ou investimento – adaptadas à orientação governamental. Obtiveram seus altos lucros e enfrentaram a crise econômica mundial com melhor capacidade que suas congêneres internacionais, apoiadas na dinâmica do desenvolvimento popular e nacional do Brasil lançado pelo governo Lula.
O processo de democratização foi implantado nos programas governamentais e começa a fazer parte das instituições do Estado corrigindo a tendência elitista anterior. Precisamos eleger quem continue a imprimir o mesmo rumo democrático iniciado por Lula com a sua equipe governativa. Voltar atrás teria um custo altíssimo para a população, não só para os que sairam da miséria e para a crescente classe média brasileira, mas para todos os que participam do sistema produtivo nacional.
A democratização de um país não se dá com passe de mágica. É um processo que promove o ajustamento das diferentes maneiras de estar na sociedade, pobres e ricos, povo e elites antes privilegiadas, para corrigir os erros do passado, superar as deficiências herdadas e os preconceitos que discriminavam a maioria da população que aceitava as injustiças sociais. A democratização demonstra a igualdade de direitos entre todos os cidadãos e a necessidade da participação de todos nos projetos de transformação e organização da sociedade brasileira. Hoje, cada vez mais amplamente, a democracia efetiva é reconhecida como essencial ao crescimento do mercado além de satisfazer a justiça social.
O esforço nos últimos oito anos para criar as bases para a implantação da democracia no Brasil – nos conceitos culturais, nas leis, nas instituições públicas, da consciência cidadã ao compromisso social de todos os setores da vida nacional – conquistou a admiração de todos os povos e pode somar-se às iniciativas semelhantes que têm ocorrido em vários países da América Latina e em outros continentes que estavam esmagados pelo subdesenvolvimento em um movimento planetário pela emancipação dos povos.
Construir um Estado democrático leva tempo devido às formas de oposição ainda existentes. À resistência política dos partidos adversários somam-se oportunismos e irresponsabilidades pessoais dos que vivem para o seu egoismo mesquinho. Vemos, por vezes, que ações isoladas de alguns funcionários impedem que as novas medidas, que aperfeiçoam o atendimento nos serviços públicos, possam ser implantadas. A correção de todas as arestas leva tempo e exige constante participação popular, tal como a proteção da natureza.
Estamos, no Brasil, no caminho certo. Precisamos continuar sem desistências o rumo democrático. O Estado “mínimo” que o neocapitalismo defendeu, em governos anteriores, privatizando os serviços públicos, não interessa a uma sociedade democrática. Hoje vemos até o Presidente dos Estados Unidos tendo que lutar para poder oferecer atendimento médico a uma população pobre (38 milhões de norte-americanos) que não tem acesso aos convênios que privatizaram os serviços de saúde no país. O Governo de um “Estado mínimo” depende da autorização de uma elite económica para criar alguma condição de atendimento aos mais pobres, o que revela a ausência da democracia naquele país. Em oito anos demos, no Brasil, passos largos na construção de uma sociedade mais justa, e nesse aspecto estamos à frente de nações mais ricas.