Progressistas, temos que ir pra rua contra o impeachment
Nicolas Chernavsky*
Existe uma discussão, extremamente válida, nos setores mais progressistas brasileiros sobre a conveniência ou não do progressismo realizar grandes manifestações de rua neste momento defendendo suas principais bandeiras, especialmente a rejeição ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Mas observando-se a situação atual e pesando-se os argumentos, fica cada vez mais claro que o conservadorismo caminha para colocar em prática a estratégia implementada recentemente na Tailândia, na Ucrânia e no Egito – para citar alguns exemplos – em que o conservadorismo foi às ruas e o progressismo não. Nestes países, isso gerou na opinião pública a ilusão de que a sociedade estava maciçamente do lado do conservadorismo, criando as condições políticas para, no caso da Tailândia, o Judiciário anular as eleições e as Forças Armadas darem um golpe de Estado, no caso do Egito, as Forças Armadas darem um golpe de Estado, e no caso da Ucrânia, o parlamento realizar o impeachment do presidente sem ter os votos exigidos por lei para isso.
No caso do Brasil, por ter uma democracia mais consolidada que Tailândia, Egito e Ucrânia, o caminho factível para o conservadorismo é o caminho do impeachment legal (não como na Ucrânia, onde o conservadorismo não tinha os votos necessários no parlamento e deu um golpe de Estado parlamentar). Assim, para ter os 2/3 da Câmara de Deputados e do Senado necessários para realizar o impeachment da presidenta Dilma, o conservadorismo precisa criar a impressão na opinião pública brasileira e mundial de que a população do país apoia em sua grande maioria o impeachment. Isso se faz através de enormes manifestações de rua conservadoras, como ocorreu nos três países já citados. A única forma de evitar essa falsa impressão é o progressismo também fazer enormes manifestações de rua, como aliás costuma ocorrer na Argentina e na Venezuela, sendo um fator essencial para esses governos progressistas continuarem em vigor.
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Poderia-se argumentar que o fato de que somente há cerca de 5 meses Dilma conquistou 51,64% dos votos deixa impressão suficiente de que ela tem um apoio considerável da população. Apesar de ser um argumento importante, ele perde força conforme passa o tempo. De fato, esse argumento explica bastante porque as primeiras manifestações pelo impeachment e por um golpe de Estado tiveram pouco apelo popular quando realizadas logo após o segundo turno da última eleição presidencial. Mas agora que já se passaram 5 meses, já pode-se começar a dizer que o momento é outro, e com 6 ou 9 meses, por exemplo, a eleição já vai estar longe o suficiente para que o conservadorismo alegue que Dilma já perdeu grande parte dos 51,64% dos votos que teve em outubro de 2014. Sabem como é, né, vão surgir “pesquisas de popularidade” que vão colocar a popularidade de Dilma lá embaixo, muitos progressistas vão acreditar, porque ainda não perceberam tanto esse tipo de manipulação, e o movimento pró-impeachment pode chegar a ter sucesso. Agora é rua, com fotos e vídeos nas redes sociais das enormes manifestações progressistas que têm que acontecer, rodando a Internet para não deixar que os meios de comunicação mais conservadores as ocultem.
Quanto ao argumento de que realizar grandes manifestações de rua progressistas serviria de “combustível” ou “provocação” para as manifestações de rua conservadoras, isso seria verdade em outro contexto, de manifestações de rua pequenininhas do conservadorismo. Agora, não, isso acabou, passamos a outra fase da disputa política, à disputa política da rua, com a diferença, em relação a 1964, por exemplo, que o conservadorismo praticamente não tem a carta do golpe militar. O conservadorismo está desesperado porque sem impeachment, e sem o fim da reeleição, seriam 4 anos de Dilma e provavelmente mais 8 anos de Lula, ou seja, mais 12 anos. Somados aos 12 anos de progressismo que já passaram, seriam 24 anos seguidos acabando com a fome, a miséria e transformando nosso país de um país pobre em um país de classe média. Pra rua!!!
*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político