Mujica bebe cerveja e come rabada no Rio de Janeiro
No Rio para uma homenagem e evento com estudantes da Uerj, Mujica come rabada, feijoada e bebe cerveja. Provando mais uma vez sua vocação para a simplicidade, o ex-presidente do Uruguai almoçou longe de qualquer restaurante badalado da cidade e optou pelo simples 'Bar do José'
O ex-presidente e senador do Uruguai José ‘Pepe’ Mujica provou mais uma vez sua vocação para simplicidade e almoçou longe de qualquer restaurante badalado do Rio de Janeiro: optou pelo ‘Bar do José’, na esquina das ruas Barão de Ubá e Santa Amélia, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Comandado há 14 anos pelo cearense José Alves Ferreira, de 62 anos, o bar serviu feijoada, rabada com agrião, cerveja e caipirinha para Mujica e sua comitiva.
No Rio para homenagem recebida na manhã de hoje e para evento à noite com estudantes na Universidade do Estado do Rio (Uerj), Mujica saboreou a culinária de boteco ao som de Amado Batista. “Escolhi a trilha sonora porque gosto e deu um clima mais legal pro almoço. Nunca imaginei ter um presidente aqui”, afirmou o José cearense, sentado na mesma cadeira de madeira onde horas antes sentara Mujica.
José Alves veio do Ceará para o Rio há 44 anos “tentar a vida”. Depois de rodar por bares como garçom, gerente e atendente, conseguiu abrir o pequeno bar numa esquina tijucana. Nas paredes, as garrafas de aguardente, conhaque e cachaça logo dividirão espaço com um grande poster. “Quero a minha foto com o Mujica naquela parede ali”, aponta ele, que “não conhecia muito bem” o uruguaio, e não espera ser visitado por um político daqui tão cedo. “Te falar? Político brasileiro é muito cheio de frescura. Aqui é só rabada, feijoada, mocotó…”, opinou.
A clientela cativa do bar se surpreendeu ao ver Mujica na hora do almoço. “Eu não aguentei: tive que dizer ao presidente que ele estava sentado na cadeira onde almoço todos os dias”, diverte-se Cláudio Ferreira, 58 anos, que trabalha na região. “Um cara humilde demais, o Mujica. Comeu bem a rabada. Tive que sugerir ao Zé para levar a laranja pra ele, se não a comida fica pesada demais”, contou.
Mujica e sua humildade viraram o assunto do bar nesta tarde. Houve quem lamentasse, por exemplo, o fato de um tradicional fusca que fica sempre estacionado na rua Santa Amélia ter saído da vaga. “Ele ia gostar de ver o fusquinha, bem cuidado igual ao dele!”. Quando o assunto é política, José Alves é cético. “Salvação deve ter alguma pro Brasil, mas não sei qual é. A roubalheira está demais”, afirmou o cearense, que votou no senador do PSDB Aécio Neves nas últimas eleições e é a favor da saída de Dilma Rousseff do governo. “Está muito difícil para quem tem bar”, lamentou.
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Mujica tornou o Uruguai um dos países de legislação mais avançadas com relação às drogas. Por aqui, na Tijuca, José Alves segue a mesma trilha do xará famoso. “Quem usa, usa mesmo. E tudo é pior se for escondido”, resumiu. Na vitrola, Amado Batista seguia cantando. Desta vez, dizendo que “vai levando a vida até quando Deus quiser”. “Trabalhei muito, a vida toda. Hoje é um dia feliz”, despediu-se o cearense ao ir atender mais uma mesa.
Leandro Resende, O Dia