Terra do Nunca
Não é fácil uma transição do sonho para a realidade, mas não é tão complicado se dispor a encarar a verdade. Enxergando o que é ou não fantasia, se alivia a consciência do remorso por ter que ir levando as coisas no “banho maria”. É importantíssimo, portanto, para a saúde mental e espiritual saber onde se pisa, até onde se está ou não fazendo os outros de palhaço. Quem vê pelo menos um pouquinho mais à frente não pode embarcar na empolgação da imprensa na cobertura do que está acontecendo no Rio de Janeiro com o confronto entre Estado e traficantes. O fato é que, na melhor das hipóteses, 75% da polícia carioca é comprometida com bicheiros e traficantes de drogas e armas. Não dá para esconder que grande parte dos moradores das favelas agora “libertadas” dos criminosos sente saudade dos mesmos, que lhes davam o que os poderes públicos não proporcionavam.
A depuração da polícia acompanha a da sociedade como um todo. O processo é lento e quase interminável. As ações empreendidas neste momento são eivadas de imperfeições porque não é produtivo combater o crime utilizando agentes criminosos. Se não se parar após o fogo da euforia, as gerações vindouras terão como colher bons frutos. Toda essa mobilização emergencial é valiosa como é o Bolsa Família no tocante à questão social. Tem que haver a “porta de saída”. Tudo fica mais complexo devido a não se legitimar o jogo aberto, a transparência nas análises e nas proposições.
Quem tem medo de uma CPI do carnaval e do futebol? Por que os órgãos de comunicação, principalmente os que lucram bastante com a divulgação dos festejos carnavalescos, não se empenham em investigar a fonte de investimentos de um evento turístico de tão alta repercussão? Quais os motivos de não se ir à fundo nos bastidores administrativos do futebol brasileiro?
Enquanto barreiras “enigmáticas” não são quebradas, cabe a indagação: Será que o Brasil conviveria melhor com suas deturpações se tivesse sido imaginado por Michael Jackson? A nossa Terra do Nunca, lamentavelmente ou não, foi e é sonhada por Reginaldo Rossi, Roberto Carlos, Caetano Veloso e outros.