Uma noite, na ditadura
André Falcão*
Devia ter entre seis, dez anos (1970/1974). Vez em quando íamos dormir na casa de meus avós maternos, Togo e Juracy, lá na Des. Amorim Lima. Por lá também havia outros velhinhos adoráveis, como a d. Marinete e seu esposo, “seu” Djalma.
Aos domingos, missa nos Capuchinhos, logo cedo, pra mim cedíssimo, mas eu gostava, porque me sentia mais próximo de Deus e de vovó. Algo como: estou indo à missa com a minha avó e isto é muito importante! E o companheirismo ditado pelo exercício daquele compromisso cristão, fazia-me amá-la ainda mais nesses momentos. Mesmo quando eu, impaciente, torcia pra missa acabar logo.
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Naquela época, sabe-se, havia o delicioso e então possível hábito de familiares e amigos sentarem-se à calçada à porta de casa, para jogar conversa fora. E não éramos exceção, embora, ao que me recorde, meu avô não compartilhava muito desse ritual: preferia ficar lendo algum livro ou vendo o noticiário. Eu achava o máximo desfrutar daqueles momentos; havia uma sensação, real, de enorme cumplicidade e união entre todos nós. Como se sentar-se ali pra bater papo fortalecesse os laços que já existiam. E fortaleciam.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político