Romney fala de 'superioridade cultural israelense' e revolta palestinos
Além de afrontar Palestinos, Mitt Romney arrecada dinheiro em Israel. Polônia é o próximo destino do candidato republicano à Presidência dos EUA
O giro internacional de Mitt Romney, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos voltou a provocar polêmica. Após dizer no último domingo (29/07) que Jerusalém é a capital de Israel, o ex-governador de Massachusetts voltou a irritar os palestinos na manhã desta segunda-feira (30) ao afirmar que a prosperidade econômica de Israel, em comparação à crise econômica vivida nos territórios reivindicados pelos palestinos, se deve a aspectos culturais. Líderes palestinos disseram-se ofendidos e classificaram as frases do candidato como “racistas. As informações são do jornal britânico The Guardian e da agência Reuters.
Romney fez as declarações no início do dia, durante um café da manhã que angariou 1 milhão de dólares para sua campanha (cada convidado pagou 25 mil dólares de entrada) no hotel King David, em Jerusalém.
Aos seus doadores, o candidato afirmou que “leu muitos livros” e contava com sua “experiência empresarial” para entender porque a diferença econômica entre os dois povos era tão grande. “Quando chego aqui e vejo essa cidade e os feitos desse povo e dessa nação, eu reconheço o poder ao menos da cultura e de algumas outras coisas”, afirmou.
O republicano também citou como razões do sucesso o clima de inovação, a cultura judaica para superar adversidades e a “mão da providência”, afirmou.
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Assimetrias
“Vejam o PIB per capita de Israel, por exemplo, que gira em torno de 21 mil dólares e compare-o com as áreas administradas pela ANP (Autoridade Nacional Palestina), que é pouco mais de dez mil dólares per capita. Vocês perceberão uma diferença dramática e gritante de vitalidade econômica”. No entanto, o republicano errou feio nos números, mesmo que a diferença seja ainda mais dramática: segundo o Banco Mundial, o PIB per capita em 2011 de Israel foi pouco mais de 31 mil dólares, enquanto Gaza e Cisjordânia (sem contar Jerusalém Oriental) é de cerca 1,5 mil.
Romney realizou seu discurso em uma mesa em forma de “U” sentado ao lado de Sheldon Adelson, magnata de dupla nacionalidade norte-americana-israelense, dono de uma rede de cassinos e do Israel Hayom, jornal de maior circulação no país – que apóia incondicionalmente as ações do governo do premiê Benjamin Netanyahu.
“Estou incrivelmente impressionado com a mão da providência, sempre que ela decide agir. E também com a grandeza do espírito humano, e como indivíduos que alcançam a grandeza e tm um propósito para eles mesmos são capazes de construir e realizar coisas que só poderiam ser feitas por uma espécie criada à imagem de Deus”, completou o candidato.
Resposta
Pouco após as declarações do republicano, Saeb Erekat, membro do Conselho Parlamentar Palestino, criticou duramente o norte-americano. “É um comentário racista. Esse homem é incapaz de perceber que a economia palestina está impossibilitada de atingir seu potencial em razão da ocupação israelense”, afirmou.
“Me parece que faltam informação, conhecimento, visão e entendimento a esse homem. Falta-lhe conhecimento até mesmo sobre os israelenses. Nunca ouvi qualquer governante de Israel falar em superioridade cultural”, afirmou.
Outro dirigente palestino, Nabil Abu Rudeineh, assessor do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, afirmou que as declarações de Romney não contribuíram em nada para as negociações de paz, além de contradizer as posições prévias defendidas pela administração norte-americana.
O secretário-geral da OLP (Organização de Libertação da Palestina), Yasser Abed Rabbo, disse que “os formuladores de política norte-americanos devem abandonar a hipocrisia e parar de tentar ganhar votos à custa dos direitos do povo palestino”.
“Lapso”
Em nenhum momento o republicano se referiu à história de ocupação israelense dos territórios reivindicados pelos palestinos, que já dura 45 anos, nem do bloqueio econômico e marítimo imposto à Faixa de Gaza, tampouco as restrições impostas sobre a movimentação de pessoas e produtos, sem mencionar o acesso a fontes de água na região da Cisjordânia. Todos esses fatores causaram forte impacto na economia palestina.
É consenso entre economistas até mesmo de órgãos como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) que, enquanto Israel continuar a restringir importações e exportações, assim como a movimentação de seus produtos, a economia palestina continuará a fracassar em desenvolver suas fundações.
Romney não visitou nenhum território da Faixa de Gaza ou da Cisjordânia, e cancelou e última hora um encontro com membros do Partido Trabalhista, de oposição ao governo do premiê Benjamin Netanyahu, amigo pessoal e ex-colega de faculdade do republicano.
No domingo, Romney chegu a dizer que Jerusalém era a capital israelense, frase que Erekat classificou como “inaceitável”. “O que este homem está fazendo aqui é apenas promover o extremismo, a violência e o ódio, e isso é absolutamente inaceitável”.
Os palestinos pleiteiam a região oriental de Jerusalém como a capital de seu futuro Estado. No entanto, através de uma emenda constitucional, Israel declarou unilateralmente em 1981, a cidade como sua capital “eterna e indivisível”. Ela já estava sob ocupação desde 1967.
“Condenamos as suas declarações. Aqueles que falam sobre a solução de dois Estados devem saber que não pode haver Estado palestino sem Jerusalém Oriental”, disse Erekat. A maioria dos países, incluindo Estados Unidos, não reconhece a ação de Israel e mantêm suas embaixadas na cidade de Tel Aviv.
Turbulência
Além de Israel, Romney também causou mal-estar no aliado Reino Unido, quando questionou o sucesso do país para organizar os Jogos Olímpicos. Já em território polonês, última etapa de sua viagem, o republicano prestará homenagens aos movimentos anti-comunistas no país. A imprensa local e norte-americana afirmam que o candidato prepara uma série de críticas à Rússia, especialmente na terça-feira, em visita à Universidade de Varsóvia. Nesta segunda já se encontrou com o ex-presidente Lech Walesa.
Romney, que deverá ser o principal concorrente do democrata Barack Obama na eleição presidencial do dia 6 de novembro, já se encontra na Polônia , local de encerramento de sua agenda internacional, onde deverá fazer críticas à Rússia. As candidaturas dos dois ainda precisam de algumas formalidades para serem oficializadas.
Opera Mundi e Prensa Latina