Valor corrigido de propina recebida pelo governo FHC é de R$ 1 bilhão
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras e um dos primeiros delatores da Operação Lava Jato, Nestor Cerveró, disse que uma das negociações envolveu uma propina de US$ 100 milhões ao governo tucano de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). As informações são parte de um resumo do depoimento que Cerveró prestou ao MPF antes de fechar seu acordo de delação premiada. Só vieram à tona com o mandado de busca e apreensão no gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS), no dia 25 de novembro – entre os documentos, estava esse resumo.
O acordo de delação premiada de Cerveró com os procuradores foi acertado no dia 18 de novembro, a nível de última instância, nas investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) para os detentores de foro privilegiado, e não com a equipe do juiz de primeira instância do Paraná, Sergio Moro.
O vazamento de que a venda da petrolífera Pérez Companc envolveu propina ao governo FHC de US$ 100 milhões, o equivalente a R$ 1,033 bilhão em valores atualizados, ocorreu somente após a apreensão de investigadores no gabinete do senador petista Delcídio Amaral, ex-líder do governo no Senado. Á época, suspeitava-se que o parlamentar estava tentando impedir o acordo de Cerveró, obstruindo investigações e com o oferecimento de dinheiro para a família do ex-diretor da estatal. Delcídio continua detido em Brasília.
O documento ainda inclui o envolvimento de Oscar Vicente, principal operador do ex-presidente argentino Carlos Menem (1989-1999), que teria se beneficiado com US$ 6 milhões.
“A venda da Pérez Companc envolveu uma propina ao Governo FHC de US$ 100 milhões, conforme informações dos diretores da Pérez Companc e de Oscar Vicente, principal operador de Menem e, durante os primeiros anos de nossa gestão, permaneceu como diretor da Petrobrás na Argentina”, disse Cerveró.
“Cada diretor da Perez Compancq recebeu 1 milhão de dólares como prêmio pela venda da empresa e Oscar Vicente 6 milhões. Nos juntamos a Perez Compancq com a Petrobras Argentina e criamos a PESA (Petrobras Energia S/A) na Argentina”, contou o ex-diretor já condenado na Lava Jato.
De fato, a estatal sob o comando do presidente Francisco Gros comprou 58,62% das ações da Pérez Companc e 47,1% da Fundação Pérez Companc, em outubro de 2002, representando um total de US$ 1,027 bilhão de remessa para a então maior empresa petrolífera independente da América Latina.
Em fevereiro do último ano, Fernando Henrique Cardoso disse que a corrupção da Petrobras começou com o PT. “Trata-se de um processo sistemático que envolve os governos da presidente Dilma (que ademais foi presidente do Conselho de Administração da empresa e ministra de Minas e Energia) e do ex-presidente Lula. Foram eles ou seus representantes na Petrobras que nomearam os diretores da empresa ora acusados de, em conluio com empreiteiras e, no caso do PT, com o tesoureiro do partido, de desviar recursos em benefício próprio ou para cofres partidários”, havia afirmado.
Agora, FHC defendeu que declarações “vagas como essa, que se referem genericamente a um período no qual eu era presidente e a um ex-presidente da Petrobrás já falecido (Francisco Gros), sem especificar pessoas envolvidas, servem apenas para confundir e não trazem elementos que permitam verificação”.