Crises econômicas: os ciclos sincronizados do capitalismo
Eric Gil*, Pragmatismo Político
Enquanto vivermos em um sistema capitalista teremos crises econômicas a cada mais ou menos dez anos. A atual crise no Brasil é parte da mesma que se iniciou em 2007-2008 nos EUA e que atingiu o mundo inteiro (de formas, períodos e intensidades diferentes).
Apesar de tudo apontar para isto, grande parte dos analistas econômicos – sejam economistas ou jornalistas – insistem que a crise econômica que enfrentamos hoje possui causas internas (deve ser coincidência que ocorra neste contexto mundial de recessão) e muito pouco tem a ver com a economia internacional. Aproveitando o ensejo já gritam que isto tudo ocorre por um excesso de gastos públicos com aumento irresponsável de investimentos em Educação, Saúde, Previdência e Assistência Social. Logo, desvinculações de receitas da União e reforma previdenciária tornam-se as palavras de ordem.
As crises são cíclicas
Para quem tiver memória curta, pode ver no gráfico abaixo que no Brasil a coisa não é diferente.
Gráfico – Taxa de crescimento do PIB brasileiro (1971 – 2014)
Mas muitos dirão que esta instabilidade é porque falamos do Brasil, um país subdesenvolvido e que não sabe cuidar de sua própria economia. Então vamos para um gráfico apenas com países desenvolvidos, ou como gostavam de falar em algum momento de nossa história, de primeiro mundo: Alemanha, Canadá, EUA, França e Reino Unido.
Gráfico – Taxa de crescimento do PIB da Alemanha, Canadá, EUA, França e Reino Unido (1971 – 2014)
O resultado foi o mesmo, a cada mais ou menos dez anos, a maldita crise econômica aparece. Várias são as explicações para este fenômeno (para saber sobre este debate no campo da teoria marxista aconselharia a dissertação de mestrado do agora professor de Economia da UFF, Marcelo Carcanhlo), mas o que gostaria de chamar a atenção com este último gráfico é para a sincronia dos países. Só no ano de 1991 temos um país com um resultado totalmente destoante do restante, com a Alemanha crescendo a 13,22% enquanto que os outros países variaram entre um pequeno crescimento de 1,21% (Reino Unido) a uma recessão de 2,09% (Canadá). A regra é clara, além de cíclica a economia mundial anda mais ou menos em sincronia (mais ou menos sincronizada dependendo das relações comerciais internacionais de cada país).
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As economias são contagiadas pela crise que estoura em um determinado local através de diversos mecanismos, como demanda por produtos de importação, preços internacionais de commodities, fluxos de capitais, etc. A desaceleração chinesa, por exemplo, impactou grande parte da atividade econômica de outros países por conta da sua queda da demanda por minérios, fazendo com que os preços destes baixassem.
E o Brasil?
O Brasil sofreu o primeiro impacto da crise econômica mundial ainda em 2009, quando o PIB sofreu uma retração de 2,5% no terceiro trimestre daquele ano. Em resposta a isto, várias políticas econômicas anticíclicas distorceram este fenômeno e, incentivando naquela época a atividade econômica, postergou os efeitos para o ano de 2014.
É, no mínimo, estranho um argumento que descontextualize o Brasil da situação econômica mundial. Economias importantíssimas nem sequer chegaram ao nível do PIB per capita anterior à crise (aqui me refiro ao ano de 2007), como França, Inglaterra e Itália, e outras estão quase que ao mesmo nível daquele período, que é o caso do Japão, que de 2007 a 2014 aumentou pouco mais de 600 dólares per capita no seu PIB.
Se um governo não pode impedir a existência de uma crise, o que resta para ele? Dilma escolheu, sim, quem pagará a maior parte da conta. Os cortes na Educação, na Saúde e no seguro-desemprego, o compromisso com a reforma da Previdência, veto à Auditoria da Dívida Pública e um longo etc., contrastam com as bilionárias isenções por parte do Governo Federal aos empresários (esses sim responsáveis por verdadeiros furos no orçamento do Governo), taxas de juros altíssimas (uma das coisas que explicam os recordes de lucros dos bancos) e insistência no superávit primário.
Se a crise econômica é inevitável, o lado que se toma entre patrões e empregados é optativo.
*Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político