O que se pode dizer, até agora, sobre a delação de Delcídio Amaral?
Nesses tempos de informação online, há uma tendência massacrante de pretender produzir notícias de imediato, em resposta a fatos explosivos. É bom separar fatos objetivos, deduções e factoides
Nesses tempos de informação online, há uma tendência massacrante de pretender produzir notícias de imediato, em resposta à fatos explosivos.
É bom separar fatos objetivos, deduções e factoides.
O que se pode dizer:
Sobre a delação
O texto da suposta delação parece verossímil. Tudo indica que é real.
As discussões sobre se é delação ou não são porque, para se tornar delação, depende da aprovação do Ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Qual o motivo do vazamento? Ou é o Procurador Geral da República (já que a delação foi feita a ele) pretendendo vazar o relato para pressionar Teori; ou são pessoas visando anular a delação por quebra de sigilo.
Sobre o papel de Delcídio
Delcídio é personagem chave de toda a estratégia política do governo no Congresso. A base era composta pelo PT, por parcela do PMDB – incluindo seus principais operadores. E o botim era mais amplo, dividido também com parlamentares do PSDB, como o senador Aécio Neves (vide Furnas). Delcídio era o operador mor desse esquema. Conhece todos os podres não apenas da sua base como do Congresso.
Com a reeleição, Dilma Rousseff investiu vigorosamente contra o esquema, precipitando, aliás, a crise política. Portanto, jamais viu Dilma com bons olhos.
Sobre o direcionamento da delação
As fontes da revista preocuparam-se em informá-la que a delação atinge parlamentares de todos os partidos, para salientar sua suposta isenção. Nenhum prócer do PSDB, nem do PMDB – Renan, Temer e muito menos Aécio Neves, do PSDB –, nenhum de seus grandes parceiros aparecem na delação. Apenas pequenos chantagistas do baixo clero, como o deputado Francischini.
Sobre a qualidade das denúncias
A maior parte das supostas denúncias refere-se a rumores já disseminados através da mídia, dentro da guerra de informações da qual delegados e procuradores tornaram-se vozes (em off) ativas.
Relata a preocupação de Dilma com a prisão de dois presidentes de empresas-chave para o país. E duas tentativas de cooptar candidatos a Ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) para sua libertação. Ambas as supostas tentativas circulavam em forma de boato pela mídia. Aconteceu a interferência? Não, porque um não aceitou a indicação e o outro renunciou à relatoria.
Ou a reunião de Lisboa, entre a presidente Dilma, o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski para comprometer as investigações. Houve algum ato concreto? Não, porque Lewandowski não teria aceito, porque o candidato ao STJ não aceitou etc.
É provável que o relato tenha se dado sob forma do questionário induzido: “Você sabia se houve uma reunião assim, assim, assado, em que se tentou tal e tal coisa?”. E o interrogado se limita a responder que: “Sabia”.
A melhor maneira de tirar a prova do pudim seria, em algum momento do futuro, o PGR divulgar a gravação do interrogatório. E divulgar a íntegra para saber se, mais uma vez, houve a blindagem de Aécio na delação ou apenas na edição da IstoÉ.
Sobre os R$ 50 mil a Cerveró
Delcídio foi flagrado oferecendo R$ 50 mil mensais a Cerveró. Está sendo processado pelo crime de suborno. Pela conversa grampeada pelo filho de Cerveró, sabia-se que Delcídio tinha uma relação histórica com ele. O maior prejudicado pela delação de Cerveró seria o próprio Delcídio. Na delação, Delcídio diz que quem mandou pagar foi Lula.
Sobre Pasadena
“Acusa” Dilma de conhecer as tais cláusulas polêmicas, que, segundo o próprio Delcídio, seriam absolutamente normais em contratos daquela natureza. Se eram normais, a única acusação que pesaria contra Dilma é o da ignorância de apresentar como suspeitas cláusulas normais.
Mas, pela relevância de Delcídio na base de apoio, não se deve desqualificar de antemão todo o seu relato.