Marta Suplicy é mais uma vez vaiada por seus novos aliados
Jose Cassio, DCM
Sem poder contar com Eduardo Cunha, seu parceiro no golpe, já que não havia clima para a presença do presidente da Câmara dos Deputados no evento, Paulinho Pereira teve de se virar nos 30 para dar conta de animar o ato político que marcou a Festa dos Trabalhadores da Força Sindical, neste domingo, 1/05.
Para não dizer que houve falta de empatia com os 50 mil trabalhadores presentes (organizadores falaram em 500 mil), dois momentos proporcionaram alguma graça ao evento: as vaias durante o discurso da senadora Marta Suplicy (PMDB) e as gargalhadas da plateia com a performance do humorista Carioca, do Pânico, fantasiado de Dilma do Chef.
No mais, a Festa dos Trabalhadores da Força trouxe meia dúzia de deputados de segundo escalão – a estela do dia foi Bruno Araújo (PSDB-PE), autor do voto 342 na sessão de 17 abril que selou a autorização para ter prosseguimento no Senado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff – e a peonada de sempre.
O governador Geraldo Alckmin chegou a confirmar presença mas desistiu de última hora.
Marta minimizou as vaias.
— Faz parte, estou acostumada, disse ela. Sempre participei do ato da CUT, agora estou aqui. É normal que eles contestem.
Perguntei a ela que sentimento guardava do PT.
Antes de responder, pegou no meu crachá e conferiu nome e o veículo para o qual eu estava fazendo a cobertura.
— Não vim aqui para falar mal do PT.
— Não estou pedindo para você falar mal do PT, insisti. Quero saber que tipo de sentimento ficou após tantos anos de convivência.
A senadora sorriu antes de ir embora.
— Eu já respondi.
Sobre um eventual governo Temer, Marta cometeu pelo menos um ato falho.
Foi quando falou sobre a necessidade de um acordo entre trabalhadores e empresários para criar as medidas necessárias para tirar o país da recessão.
— Ninguém vai poder passar por cima da classe trabalhadora, disse ela, demonstrando ter consciência de que o setor empresarial vai tentar aproveitar o período Temer na presidência para garantir a flexibilização das leis trabalhistas.
Sobre este assunto, o vice-presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), José Avelino Pereira, o Chimelo, foi taxativo.
— Já nos reunimos com Michel Temer e o recado foi claro: não mexa com os direitos trabalhistas.
Segundo o sindicalista, se houver qualquer iniciativa neste sentido a resposta será nas ruas.
— Não vamos aceitar a mudança da Lei nem o retrocesso da política de valorização do salário mínimo, disse ele.
Chimelo, no entanto, aceita debater propostas sobre a terceirização do trabalho.
— A terceirização pode ocorrer desde que na atividade meio, não fim, comentou.
Segundo Chimelo, numa fábrica seria possível terceirizar serviços de limpeza, segurança e alimentação, por exemplo, desde que se mantenham garantidos os direitos dos trabalhadores envolvidos com o produto final.
— Com esses não se pode mexer, explicou o vice-presidente da CSB.
Sem entender nem a metade do que está ocorrendo no país, o público que prestigiou a Festa da Força estava mesmo é à espera do sorteio de 19 carros zero quilômetros.
— Você é a favor da saída da Dilma ou entende que o que está ocorrendo no país é um golpe contra a democracia e o estado de direito?
Essa foi a pergunta que fiz ao eletricista André Luiz, que foi ao evento com a mulher, Sheila, e duas filhas pequenas, Andressa e Ana Clara.
— A Dilma vai sair e não vai mudar nada, disse André. Golpe eles dão todos os dias contra nós, os trabalhadores. O Temer tem uma folha corrida de envergonhar qualquer um. O Eduardo Cunha é um notório corrupto. O Renan Calheiros. E que dizer dos juízes do STF que acabam de aumentar os próprios salários?
— E o que trouxe vocês aqui?, eu perguntei.
— Viemos para nos divertir um pouco, tirar as crianças de casa e, quem sabe, a sorte grande no sorteio. Nem os shows nós curtimos muito.
Enquanto a festa da Força ia chegando ao fim, já na volta pra casa liguei para o Zé Maria, presidente do PSTU que pela primeira vez organizou, na avenida Paulista, ato solo em comemoração ao Dia dos Trabalhadores.
— Como estão as coisas por aí, Zé Maria?
— Foi um ato grande, JC. Penso que conseguimos consolidar uma terceira via entre os defensores do Temer, que pedem o impeachment, e os governistas que buscam a manutenção da Dilma.
— E agora, qual o próximo passo?
— Temos reunião na segunda e não vamos desistir da greve geral e do chamamento de novas eleições.
O Domingo do Trabalhador, na praça Campo de Bagatelle e na avenida Paulista, foi de incerteza e descrença no Brasil do passado e do futuro.
Marta disse que em 10 dias vamos ver uma luz no fim do túnel. A resposta que teve do público foi uma sonora vaia.