Alemães agridem jornalistas brasileiros na Eurocopa
"A dor não é física, é moral e psicológica. Parece que o resto da vida vamos ter de nos desculpar por sermos negros e minoria". Jornalista Sônia Blota foi chutada por torcedores da Alemanha e o cinegrafista Fernando de Oliveira, negro, levou um tapa no rosto; agressores ainda proferiram xingamentos racistas
Uma equipe de reportagem da TV Bandeirantes foi hostilizada e agredida verbal e fisicamente por torcedores da Alemanha em Paris durante a Eurocopa.
Entre ofensas racistas, o cinegrafista Fernando Henrique de Oliveira, 33 anos, foi agredido com um tapa no rosto, enquanto a repórter Sonia Blota, 45, recebeu um chute. Desde o início do torneio, há sete dias, 323 hooligans de várias nacionalidades já foram detidos e 196 foram mantidos em prisões em razão de distúrbios violentos.
O incidente envolvendo a equipe de jornalistas brasileiros aconteceu às 16h30, em frente à estação de trens Gare du Nord, no centro da capital. Lá passam os trens que levam ao Stade de France, e por essa razão havia um grande movimento de torcedores alemães e poloneses, além de franceses que acompanhariam o jogo Alemanha x Polônia, em Saint-Denis.
A equipe tinha a intenção de conversar com torcedores dos dois países para falar da expectativa do jogo, mas foi abordada por um grupo de torcedores alemães.
“Um cara acompanhado de um grupo de cerca de uns 50 torcedores veio e gritou: ‘Get out, niggars!'”, contou o cinegrafista, que é negro. O torcedor tinha um bastão, com o qual empurrou Oliveira, antes de chutar Sonia. “Pedi para que não batessem nela e, quando nós estávamos saindo, ouvi de novo o ‘Get out niggars!’ e levei um tapa na cara”, diz Oliveira. “A dor não é física, é moral e psicológica. Parece que o resto da vida vamos ter de nos desculpar por sermos negros e minoria.”
Os jornalistas brasileiros, que têm imagens dos agressores, prestaram queixa à polícia, que em um primeiro momento se recusou a intervir no caso.
Iniciada na última sexta-feira, a Eurocopa tem sido um sucesso de público, com estádios lotados, mas grupos minoritários de torcedores, em especial ingleses e russos, têm preocupado as autoridades. Segundo dados divulgados nesta quinta pelo Ministério do Interior, 24 pessoas foram conduzidas à fronteira e expulsas do país por participarem de distúrbios.