Redação Pragmatismo
Michel Temer 29/Jun/2016 às 11:14 COMENTÁRIOS
Michel Temer

O que Eduardo Cunha e Michel Temer trataram na “conversa sigilosa”?

Publicado em 29 Jun, 2016 às 11h14

Tudo indica que a “conversa sigilosa” do presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o interino Michel Temer, na noite deste domingo (28), foi para fechar um acordo. PSOL envia sete perguntas sobre reunião não agendada e diz que razões do encontro devem ser públicas

Michel Temer Eduardo Cunha encontro
Michel Temer e Eduardo Cunha (divulgação)

A liderança do Psol na Câmara protocolou nesta terça-feira (28) um requerimento de informações para que o presidente interino Michel Temer explique o teor de sua “conversa sigilosa” com o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu da Operação Lava Jato em duas ações penais em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).

O documento (Requerimento 1831/2016) foi encaminhado ao ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e quer saber mais sobre a versão oficial de que a reunião, na noite do último domingo (26), serviu para discutir o “cenário político”.

“O senhor presidente da República interino está ciente de que o senhor Eduardo Cosentino da Cunha teve o pedido de cassação do seu mandato aprovado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, e empenha-se agora em protelar, através de recurso, a apreciação desta sanção pelo Plenário da Casa?”, questiona o Psol em uma das perguntas.

O encontro no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência da República, foi confirmado pela assessoria do Palácio do Planalto, mas não por Cunha – que, embora afastado de sua função de comando, mantém articuladores políticos no governo Temer – como o próprio líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE), um de seus mais fiéis aliados – e na própria Câmara, onde luta para não ser cassado.

Veja a lista de mais questionamentos do Psol:

— Ocorreu, em 26 de junho de 2016, reunião ou encontro entre o Presidente interino Michel Temer e o Sr. Eduardo Cosentino da Cunha, no Palácio do Jaburu?

— Tal encontro estava previsto na agenda oficial do Presidente interino? Em caso negativo, por que razão?

— Qual foi o objetivo do encontro? Quais assuntos foram tratados?

— O Sr. Presidente da República interino está ciente de que o Sr. Eduardo Cosentino da Cunha foi afastado de seu mandato parlamentar e, consequentemente da Presidência da Câmara dos Deputados por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal prolatada em 05 de maio de 2016?

— O Sr. Presidente da República interino está ciente de que o Sr. Eduardo Cosentino da Cunha teve o pedido de cassação do seu mandato aprovado pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, e empenha-se agora em protelar, através de recurso, a apreciação desta sanção pelo Plenário da Casa?

Acordo

Segundo a Folha de S.Paulo, o objetivo principal da conversa era fechar um acordo: o peemedebista só renuncia se o sucessor na cadeira da Câmara não colocar em risco o seu mandato como deputado.

O teor da conversa também foi relatado por interlocutores de Temer ao jornal O Globo: uma discussão sobre qual deputado não o abandonaria, caso se elegesse presidente da Casa, e pudesse proteger o seu mandato. O deputado em questão é Rogério Rosso (PSD-DF), a quem Cunha ainda garante manter trânsito.

Por outro lado, o acordo beneficiaria o governo do interino, que vive uma agenda instável junto ao provisório Waldir Maranhão (PP-MA), além dos respingos da cassação contra Cunha recaírem sobre seu governo.

As fontes ouvidas acreditam que a renúncia “é ótima para o governo”. “Não dá para a Câmara ficar parada deste jeito, com um presidente interino que deixa uma semana toda sem votar nada. Há algum tempo teria sido mais fácil viabilizar este tipo de acordo. Mas deixa ele (Cunha) tentar, vamos ver no que dá”, teria afirmado um auxiliar de Michel Temer.

Para viabilizar a eleição de Rosso ou de um nome do peemedebista ao posto, Cunha insinuou necessitar ajuda de Temer, por não ter condições de articular sozinho, devido ao isolamento. “Não dá para querer que ele renuncie sem o compromisso de que o sucessor não lhe seja hostil”, disse o assessor, indicando a troca de favores.

Rogério Rosso, por sua vez, preenche os requisitos para o momento atual: pertence a um partido médio, tem um perfil conciliador e ganhou certo reconhecimento na presidência da Comissão Especial do Impeachment. Mas ainda falta articular apoio suficiente dos partidos da antiga oposição.

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