Revista Veja demite Marco Antonio Villa
Marco Antonio Villa é demitido da Veja e publica nota de despedida. Comentarista político se notabilizou nos últimos meses por cair em duas pegadinhas que escancararam o seu grau de desonestidade
Marco Antonio Villa, comentarista político ligado ao PSDB, foi demitido da Veja esta semana. Villa, que também é colaborador da rádio Jovem Pan, chamou a atenção duas vezes nos últimos meses pela desonestidade de suas observações.
Primeiro, caiu em uma pegadinha de Fernando Haddad, quando o prefeito de São Paulo substituiu propositalmente sua agenda política pela de Geraldo Alckmin. “Queria vê-lo comentar, uma vez na vida, o dia-a-dia de quem ele lambe as botas”, disse Haddad (relembre aqui).
Depois, usou Michel Temer como exemplo para criticar o mesmo prefeito de São Paulo e foi traído por si próprio ao não verificar a agenda do presidente interino e cometer uma gafe (relembre).
Em seu blog, ele sugere que a razão de ter sido descartado é que o grupo Abril passa por um momento de crise financeira. Leia a íntegra da nota publicada por Villa:
Na última quinta-feira fui comunicado que não mais participaria – como de hábito – do programa Sem Edição. A Tveja iria passar por uma reestruturação, de acordo com Sílvio Navarro.
É de conhecimento público que a revista Veja passa por sérios problemas financeiros e que está reestruturando o seu quadro de jornalistas e colaboradores.
Registro que não tive nenhum contato com o novo diretor de redação, que sequer conheço. Quando cheguei a Tveja foi através de Eurípedes Alcântara, então diretor de redação.
É importante deixar claro que a minha colaboração começou em 2010 e sempre foi muito bem avaliada. Recordo que participei das coberturas eleitorais de 2010, 2012 e 2014, dos debates sobre a conjuntura política e do julgamento do mensalão – só neste caso foram 60 programas!
Vale também ressaltar a excelente audiência dos programas – aferidos pela direção – e que sempre tive ampla liberdade de expressão.
Espero que Tveja e a revista Veja permaneçam no caminho da defesa da democracia, da liberdade e do enfrentamento do que o ministro Celso de Mello chamou de projeto criminoso de poder.
Marco Antonio Villa
No DCM, o jornalista Paulo Nogueira comentou a demissão de Villa:
Pessoas como Marco Antonio Villa infestaram as redações das grandes empresas jornalísticas desde que o PT ascendeu ao poder.
Elas foram recrutadas com um único propósito: ajudar os barões da mídia a tirar o PT do poder.
Isto conseguido, elas perdem a valia. Já não servem para nada. É mais ou menos como Cunha: ele foi protegido pela imprensa — e pelo STF — enquanto teve serventia, até o dia da admissão pela Câmara do processo de afastamento de Dilma.
Depois foi jogado aos lobos.
É dentro dessa lógica que se deve ver a demissão de Villa da Veja. Como historiador, ele ofereceu ao público da revista uma contribuição extraordinariamente rasa da história contemporânea nacional.
Mas como caçador de petistas ele se superou. Tornou-se monomaníaco em relação a Lula, sobretudo, a quem foi ofendendo cada vez mais, ao longo dos anos, até ser processado e pensar melhor nos insultos que proferia.
Ele, para a Veja, não serve mais para nada.
É uma tendência que o exército antipetista montado pela mídia plutocrática comece a ser dissolvido agora.
As empresas comportam-se assim. Do ponto de vista administrativo, contratam especialistas em marketing quando têm que crescer. Trocam-nos por especialistas em finanças quando se trata de amarrar os cintos. Cada ciclo é cada ciclo. São as sístoles e as diástoles, na frase marcante do general Golbery.
Villa se comportou com deselegância ao anunciar sua saída. Lembrou que a Veja está passando por uma crise econômica terrível. É verdade. Mas mesmo assim a revista poderia perfeitamente bancar o frila de Villa na TVeja. É pixuleco perto das demais despesas da Abril.
Villa falou bobagem também. Disse que suas aparições na TVeja foram campeãs de audiência.
Ora, ora, ora.
A TVeja é um antiexemplo. É uma mostra da dificuldade brutal que empresas tradicionais de mídia têm ao fazer qualquer coisa na internet.
No YouTube, vá ao canal da TVeja e verifique as visualizações, se tiver disposição. É uma miséria. Ou alguém acha que os internautas suportam uma conversa imóvel de uma hora entre pessoas como Augusto Nunes, Reinaldo Azevedo e o próprio Villa?
Villa não levou à TVeja a profundidada, a inteligência, a sofisticação de raciocínio que se deveria esperar de um historiador.
Levou burrice, ignorância e o preconceito típicos de ativistas de direita.
Seu legado, de zero a cem, não chega a ser zero. É abaixo de zero.