Governo admite que menosprezar manifestações foi um erro
Assessores de Michel Temer e até o ministro da Casa Civil admitem que foi um erro menosprezar as manifestações de rua contra o governo. Inicialmente, o presidente havia debochado dos protestos: "As 40 pessoas que quebram carros? Inexpressivos!". José Serra também adotou a mesma linha: "Míni, míni, míni, míni, míni, míni"
Na primeira entrevista como presidente efetivo, no lobby de um hotel de Hangzhou, Michel Temer foi questionado sobre as manifestações que começavam a pipocar contra seu governo. “As 40 pessoas que quebram carro?”, ele desdenhou.
Refestelado numa confortável poltrona de couro, o presidente classificou os protestos como “inexpressivos”. “Foram grupos pequenos e depredadores, né? Não foi uma manifestação democrática”, menosprezou. “São 40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso. No conjunto de 204 milhões de brasileiros, acho que isso é inexpressivo”, disse.
Os repórteres enviados à China repetiram a pergunta a José Serra. “Manifestações aonde?”, debochou o ministro. Ao ser lembrado de que o governo começava a ser alvo de protestos em várias cidades brasileiras, ele voltou a esnobar os atos. “Míni, míni, míni, míni, míni, míni”, disse.
Ao jornal “El País“, Serra arriscou uma conta parecida com a do chefe. “São muito pequenas, quase nada. Cinquenta, cem pessoas”.
No dia seguinte às declarações, cerca de 100 mil pessoas marcharam em São Paulo contra o governo. Assessores de Temer reconheceram que ele errou ao depreciar os protestos. Para eles, o presidente passou imagem de soberba e ajudou a inflamar quem estava insatisfeito.
Subestimar a rua não é uma boa tática para governantes impopulares. Em 1992, Fernando Collor chamou a oposição de “minoria que atrapalha” e instou o povo a se vestir de verde e amarelo para defendê-lo. Uma multidão preferiu sair de preto, com os resultados conhecidos.
Nesta quarta (7), Temer foi alvo de vaias e gritos de “Fora” no desfile militar em Brasília. Protegidos por um forte esquema de segurança, seus ministros voltaram a zombar dos manifestantes. “Que protesto? Quinze pessoas?”, perguntou Geddel Vieira Lima. “Não havia mais de 18”, provocou Eliseu Padilha. À noite, o presidente ouviria outra vaia no Maracanã. E não foi míni.
Eliseu Padilha volta atrás
O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse em entrevista à Folha de S.Paulo que foi um erro do governo minimizar os protestos ocorridos no Sete de Setembro, tanto no desfile em Brasília como na cerimônia de abertura da Paraolimpíada do Rio.
“Quero fazer um mea culpa, todo protesto deve ser respeitado, é algo natural da democracia e assim deve ser tratado”, afirmou Padilha.
O governo quer evitar minimizar publicamente as manifestações contra o presidente Temer por avaliar que este comportamento acaba estimulando que mais pessoas participem deste tipo de protesto.
com El País — Bernardo Mello Franco, Folhapress