Michel Temer recebe prêmio de João Doria: "Líder do Brasil 2016"
Apesar do desmanche no governo, assolado por denúncias de corrupção e pela devastadora delação da Odebrecht, Michel Temer aceita e festeja prêmios de bajuladores. Enquanto 63% dos brasileiros pedem a renúncia do presidente, João Doria concede ao peemedebista "Prêmio Líder do Brasil 2016", em festa com Alckmin e outros tucanos
Vergonha pouca é bobagem para o presidente que chegou ao poder pelo golpe. Mesmo tendo o nome citado em diversas delações premiadas da Lava Jato, que o acusam de ter recebido propina de empreiteiras, na semana passada, a revista Istoé promoveu uma festa para premiar Michel Temer como o “grande brasileiro do ano de 2016“.
Quatro dias depois da “honraria“, espalhou-se como rastilho de pólvora o vazamento da delação premiada de um dos ex-diretores da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que, entre muitas outras afirmações ricas em detalhes, disse que Michel Temer pediu direta e pessoalmente, durante um jantar em sua residência oficial, o Palácio do Jaburu, que Marcelo Odebrecht repassasse R$ 10 milhões para as campanhas do PMDB, em 2014.
Segundo Melo, Temer também se valeu de aliados para operacionalizar recebimentos e distribuição de propinas via Eliseu Padilha e Romero Jucá, respectivamente ministro da Casa Civil e líder do governo no Congresso. Cláudio Melo denunciou ainda a entrega de dinheiro em espécie no escritório do advogado José Yunes. Amigo de Temer há 40 anos, Yunes foi tesoureiro do PMDB em São Paulo e, hoje, é assessor especial do presidente.
No domingo (11), três dias depois, de a delação causar pânico no Planalto, o Datafolha divulgou pesquisa que mostra que a impopularidade do presidente só aumenta. Num levantamento feito antes da divulgação das delações, 63% dos brasileiros querem a renúncia de Temer ainda neste ano para que haja eleição direta.
Pior ainda:
– 65% da população consideram o presidente falso, desonesto e incompetente;
– 75% disseram que Temer é defensor dos mais ricos;
– 50% veem Temer como autoritário;
– 58% como desonesto;
– 51% consideram o governo Temer ruim ou péssimo e para apenas 10% é ótimo ou bom;
– 65% afirmam que a situação econômica do Brasil piorou;
– De zero a dez, a nota média dada ao desempenho do governo de Michel Temer é 3,6.
Para que a população vá às urnas e escolha um novo presidente para o mandato tampão, seria necessário que Temer deixasse o cargo até 31 de dezembro. Conforme o artigo 81 da Constituição Federal, uma nova eleição direta deve ser convocado em 90 dias se os cargos de presidente e vice-presidente ficarem vagos nos primeiros dois anos de mandato. Passado esse prazo, a eleição é indireta – com os novos governantes sendo escolhidos pelo Congresso.
Vergonha 2, a saga continua
Mesmo depois de a imprensa publicar que o governo foi informado por investidores estrangeiros sobre a possibilidade de retirarem investimentos do país caso a sucessão de crises e escândalos continue, o ide – Grupo de Líderes Empresariais – de propriedade do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), promove hoje (12) outra festinha de bajulação explícita.
A sede do governo de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes, abre as portas para receber uma maioria de convidados do PSDB, numa verdadeira confraternização cujo ponto alto será agraciar Michel Temer com o “Prêmio Líder do Brasil 2016“. Segundo nota assinada pelo organizador do evento, João Doria, o prêmio é o maior “reconhecimento nacional do talento, competência e comprometimento dos líderes do País“. No mínimo, o momento é inadequado para o presidente receber tamanha distinção, já que 63% dos brasileiros querem sua renúncia e tantos outros o classificam de desonesto.
Ser bajulado parece ser uma das poucas preocupações do presidente, apesar da crise político-econômica em que seu governo se afunda a cada dia. Em sua agenda oficial, publicada pelo Palácio do Planalto, aparecem apenas dois compromissos para hoje (foto). Às 13h, ele discurso na abertura do “Movimento Falconi 2016”, em São Paulo – uma consultoria que promete “ajudar organizações a construir resultados excepcionais pelo aperfeiçoamento de sistema de gestão“.
O outro “importante” compromisso de Temer, segundo a agenda oficial é justamente “20h30: Receber o Prêmio Líder do Brasil 2016 no Palácio dos Bandeirantes – São Paulo/SP“. Simples assim.
Daqui para a frente Temer vai precisar de muitos prêmios “meia-boca” dos amigos para se sentir longe da crise que se instalou em Brasília desde que pôs em ação seus planos golpistas. Há rumores em Curitiba de que Eduardo Cunha terá seu acordo de delação premiada homologado em breve. Aliás, três perguntas que Cunha fez a Temer e que foram indeferidas por Moro, Claudio Melo respondeu:
– Qual a relação de Vossa Excelência com o Sr. José Yunes?;
– O Sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?;
– Caso Vossa Excelência tenha recebido, as contribuições foram realizadas de forma oficial ou não declarada?;
Aguardemos os próximos capítulos.
Em tempo
Depois de receber em sua residência, em São Paulo, o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, em pleno domingo (11), Temer convocou reunião de emergência com Padilha (Casa Civil), Moreira Franco e outros ministros e seguiu às pressas para Brasília. A pauta da reunião: como anular a delação do executivo da Odebrecht, que atinge em cheio a cúpula do alto escalão do governo.
Temer acredita que o acordo pode ser invalidado e cita como exemplo a suspensão das negociações da delação de Léo Pinheiro, após vazamento na imprensa. Aliados do presidente vão reforçar nesta semana as críticas ao vazamento da delação do ex-executivo da Odebrecht. A estratégia é questionar a legalidade da divulgação, o que, para eles, poderia comprometer a delação. Um dos que vão defender essa tese é o presidente do PMDB e líder do governo no Congresso, Romero Jucá, citado várias vezes, assim como Temer, por Cláudio Melo.
A esperança de Temer, talvez aconselhado pelo advogado, se baseia no anúncio de Janot de que irá investigar o vazamento da delação de ex-dirigente da Odebrecht, conforme nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República ainda ontem. Foi Janot o responsável por suspender a negociação da delação do diretor da OAS Léo Pinheiro, que citava o ministro do STF Dias Toffoli depois de uma série de vazamentos.
Temer fica na torcida.
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