Líder de direita reclama de "racismo contra brancos"
A polêmica frase do líder direitista provocou a ira de diversas correntes políticas do país, inclusive da extrema-direita, que o acusou de “cinismo” para ganhar adeptos entre os próprios extremistas conservadores
O secretário-geral da UMP (União Por um Movimento Popular), Jean-François Copé, líder do maior partido de oposição da França e braço-direito do ex-presidente Nicolas Sarkozy, afirmou nesta quarta-feira (26/09), que existe “racismo contra os brancos” em seu país.
“Devemos combater o racismo de maneira implacável. Eu mesmo sempre me coloquei na luta contra toda forma de xenofobia, islamofobia, homofobia, anitssemitismo, de todas as formas de racismo. Mas penso que existe um racismo de que não se fala, e que é um grande sofrimento para muitos de nossos compatriotas, cuja pele é branca e que se sentem apontados com o dedo”, disse o deputado aos jornalistas, ao falar de seu livro, no qual afirma querer quebrar um tabu.
A polêmica frase, que foi dita durante lançamento do livro “Manifeste pour une Droite Décomplexée” (Manifesto por uma Direita Descomplexada), da Editora Fayard, provocou a ira de diversas correntes políticas do país, inclusive da extrema-direita, que o acusou de “cinismo”.
Perguntado se suas frases não refletiriam um desejo de ganhar adeptos entre a extrema-direita, Copé disse que não havia qualquer relação, e que nenhum homem ou partido é “dono de palavras nem de ideias”. “Não vou me desculpar por dizer uma realidade”.
“Nós nos opomos e sempre nos oporemos à uma alainça eleitoral com a Frente Nacional. No entanto, isso não nos impedirá de tratar temas que envolvem, indignam, exasperam e inquietam os franceses”, disse ele no lançamento.
Copé, deputado federal e atual prefeito da luxuosa cidade de Meaux, nos arredores de Paris, disputa a presidência da direita francesa com o ex-primeiro-ministro François Fillon, de perfil mais moderado. É considerado um dos principais aliados do ex-presidente François Sarkozy, cujo grupo político luta por sua eleição, que ocorrerá no dia 18 de novembro. Segundo todas as pesquisas realizadas entre franceses que se dizem simpatizantes do partido ou da direita, Fillon venceria com mais do dobro de votos.
“Gauleses”
“Um racismo anti-brancos se desenvolveu em bairros de nossas cidades onde algumas pessoas – algumas delas com nacionalidade francesa – desprezam os franceses classificados de ‘gauleses’, sob o pretexto que não serem da mesma região, não possuírem a mesma cor de pele nem as mesmas origens”, diz Copé em seu livro.
“Esses fenômenos são impossíveis de serem vistos de dentro de Paris, nas esferas midiáticas e política onde a maioria dos dirigentes é de origem francesa, brancos de pele, filhos de pais franceses. Nesse microcosmo, a falta de diversidade limita a presença de pessoas de cor ou de origem estrangeira. (…) Mas temos de ver a realidade: em muitos bairros, essa situação ocorre ao inverso”.
Repercussões
O termo “racismo anti-brancos”, dito literalmente dessa forma, faz parte há anos dos programas eleitorais da Frente Nacional, principal partido de extrema-direita do país, e nos discursos de sua líder, Marine Le Pen.
Em comunicado, Marine acusou Copé de cinismo: “Durante cinco anos, a UMP e Copé negaram totalmente a existência desse racismo, uivando com os lobos contra a Frente Nacional, que, isolada, teve a coragem de denunciar e reclamar que estas pessoas são perseguidas. O cinismo desse homem não tem limites e, em matéria de mudanças de opinião por motivos eleitorais, ele aprendeu muito bem com Nicolas Sarkozy”.
Seu adversário na disputa pela Presidência do partido, François Fillon, não se disse surpreso, mas defendeu o colega do partido. “Ele descreveu uma situação real, não tenho problemas com isso. (…) É verdade que em esses fenômenos evocados por Copé em seu livro ocorrem em muitos bairros nos últimos anos. Mas esses comportamentos devem ser combatidos coma mesma determinação que todas as outras formas de racismo”. No entanto, Fillon disse que prefere “dar respostas a simplesmente denunciar” esse comportamento.
Já o Partido Socialista, que venceu a UMP nas últimas eleições presidenciais e legislativas, denunciou as propostas do adversário como “muito graves”.
“É muito grave reproduzir essas palavras em determinados contextos quando se é um líder político”, disse Anne Hidalgo, vice-prefeita de Paris à TV5 mundo. O líder do PS (Partido Socialista) no Senado, François Rebsamen, disse estar surpreso como fato do líder da UMP se u8tilizar de tal artifício, o que ele considerou como uma “derrapagem”. “Essas propostas que procuram insuflar os antagonismos tem um objetivo individual, diretamente ligado à eleição interna da UMP”, disse.
As reações reticentes na direita e na centro-esquerda não foram seguidas por Jean-Luc Mélenchon, líder do PG (Partido de Esquerda): “Esse homem é um reacionário! Demonstra uma mudança da mentalidade à direita em que não devemos nos repugnar em responder de tão estúpidos que são esses argumentos, nascidos na extrema-direita. (…) Copé é muito perigoso, um cara desses no comando da direita seria garantia de um incêndio!”, protestou Jean-Luc Mélénchon, principal adversário político da extrema-direita e quarto colocado na última eleição presidencial.
Opera Mundi