A influência do filósofo Giordano Bruno no desaparecimento do jovem no Acre
O que Giordano Bruno tem a ver com o desaparecimento de Bruno Borges no Acre? Estudante de psicologia deixou 14 livros escritos a mão e criptografados antes de sumir. Confira o que se sabe até agora sobre o caso
Aos poucos, vão surgindo respostas para o caso do desaparecimento do estudante de psicologia, Bruno Borges, no Acre. Mas ainda é cedo para afirmar que o desfecho da história está próximo.
Sumido desde o último dia 27, Bruno deixou em seu quarto, onde se mantinha trancado, 14 livros, escritos a mão, criptografados. Trechos da obra que ele escreveu também estão nas paredes do local, assim como quadros e outros desenhos.
Foi também encontrada uma estátua do teólogo italiano Giordano Bruno (1548-1600), adquirida por cerca de R$ 7 mil.
Nas redes sociais, surgiram diversas teorias do que pode ter acontecido com o jovem de 24 anos.
O que diz a polícia
A Polícia Civil do Acre acredita que Bruno saiu de casa voluntariamente e deve voltar em breve. De acordo com o delegado geral do estado, Carlos Flávio Portela, o jovem levou com ele um celular, um HD e algumas peças de roupas. O celular não está sendo utilizado.
O delegado afirma que dois amigos de Bruno revelaram que ele já havia manifestado a intenção de se isolar durante algum tempo, mas sem contar onde. Além disso, algumas das mensagens deixadas por ele, que a polícia está tentando decifrar, demonstrariam a mesma intenção.
“Não há nenhum indício de crime. Aparentemente, ele planejou. Acreditamos que, em breve, devemos ter uma notícia positiva”, garante Carlos.
Mídia internacional
O jornal britânico “Daily Mirror” destacou que o desaparecimento despertou o interesse mundial porque muitas pessoas estão acreditando que ele foi sequestrado por alienígenas após um vídeo bizarro do interior do quarto do jovem ter sido divulgado online.
Já o “Daily Mail” noticiou o caso como “desaparecimento misterioso” e lembrou que o jovem passou o último mês trabalhando no que está sendo noticiado como “um projeto secreto”.
O que diz a família
A última vez que os parentes viram Bruno foi durante o almoço de família na última segunda (27). No fim da tarde, o pai de Bruno, o empresário Athos Borges, retornou à residência da família na capital acreana e percebeu que o filho não estava. “Entrei no quarto e não vi a cama, não vi nada, só vi aquilo tudo. Naquele momento, percebi que ele tinha ido embora”, contou.
As mudanças no quarto, segundo a mãe, a psicóloga Denise Borges, foram feitas durante 22 dias, período em que ela e o marido estavam viajando de férias. O jovem ficou em casa com o irmão gêmeo Rodrigo Borges e Gabriela, irmã mais velha. Durante o tempo, os irmãos perceberam que a porta do quarto permanecia sempre trancada.
“Ele falava que era o projeto dele e disse que iria me contar o que era em duas semanas. As pessoas falam: ‘por que você não foi lá e abriu aquela porta?’. As pessoas têm que entender que não se tratava de uma criança. Ele é um adulto e tem a privacidade dele. Me incomodava, mas eu não podia arrombar a porta”, disse Gabriela.
Junto com os 14 livros criptografados deixados no quarto, o estudante também deixou as “chaves” que servem como guia para a decodificação. De acordo com a família, os escritos foram feitos com a utilização de pelo menos quatro códigos diferentes.
Filósofo Giordano Bruno
Muitas pessoas têm demonstrado admiração à inteligência do jovem e ele virou uma espécie de “gênio irreconhecível” para alguns internautas. “Seu irmão é um desses gênios que nunca são compreendidos em seu próprio tempo e apenas passadas muitas gerações é que são respeitados. Espero que ele esteja bem. Coisa certa é que ele sabe muito mais do que nós sobre muitas coisas”, escreveu um usuário do Facebook no perfil da irmã de Bruno, Gabriela.
Um colunista do Estado de S. Paulo já até percebeu semelhanças entre a vida de Bruno Borges e um conto obscuro de Machado de Assis. Mas quem foi, afinal, Giordano Bruno – ídolo e xará do rapaz desaparecido –, e o que seu pensamento tem a ver com o do estudante?
Filósofo, matemático, astrônomo, poeta e teólogo. O frade italiano nascido em 1548 entrou para a história após questionar abertamente crenças fundamentais da Igreja Católica, como a existência de céu e inferno, a danação eterna e a concepção de Cristo por uma mulher virgem.
Giordano Bruno também era uma espécie de herdeiro intelectual do heliocentrismo de Nicolau Copérnico, e não se limitou a concordar que a Terra é que dava voltas em torno do Sol – o que na época, por si só, era o suficiente para morrer na fogueira dos tribunais eclesiásticos.
Observando o céu, foi além e concluiu que as estrelas não eram só pontos de luz, mas outros “sóis” muito distantes.
Na obra A Causa, o Princípio e o Uno, ele diz: “o universo é, então, uno e infinito (…) Não é possível compreendê-lo e ele não tem limites. Nesse sentido, ele é indeterminável, e consequentemente imóvel.”
O filósofo, apesar da perseguição, chegou a lecionar Aristóteles na Universidade de Halle-Wittenberg, uma instituição de ensino alemã luterana – os protestantes, fiéis a seus princípios de livre interpretação da Bíblia, toleraram sua subversão teórica por mais tempo que católicos tradicionais.
Ele foi queimado em 1600, e se tornou um mártir dos iluministas no século 19. Até hoje é símbolo da liberdade de pensamento e expressão, e suas ideias estão na vanguarda da astronomia contemporânea: o telescópio Kepler, lançado pela Nasa em 2009, já identificou mais de 2,3 mil dos mundos distantes que habitavam os sonhos de Giordano Bruno.
Reencarnação
Ainda é cedo para especular qual foi o tamanho da influência de Giordano Bruno sobre o brasileiro Bruno Borges.
Jorge Rivasplata, escultor de 83 anos a quem o rapaz encomendou a estátua (avaliada em pelo menos R$ 20 mil, o artista diz que acreditou nas ideias de Bruno e, por isso, cobrou R$ 7 mil), declarou à imprensa que deu um desconto especial ao rapaz, e acredita que ele é a própria reencarnação do filósofo – que teria voltado à Terra para terminar sua obra interrompida de forma trágica.
“A maioria não entende, mas eu o conheço há muito tempo. Dá para acreditar que foi reencarnado Giordano Bruno nele. Não posso contar mais, a única coisa que posso dizer é que já terminou os livros que ele [Giordano] deixou inconcluso. Queria falar ao seu pai e mãe que não se preocupem, ele está bem e vem apresentar ao mundo esse projeto lindo, fantástico”, disse o escultor
Uma das últimas pessoas a conversar com o estudante sobre o projeto, o artista afirma que não sabia sobre o plano dele de sair de casa. Ele acredita que os escritos de Bruno são a conclusão das teorias defendidas pelo próprio Giordano.
O conteúdo dos seus livros ainda é um mistério. Um dos volumes, cujo título já foi decifrado, se chama “A teoria da absorção do conhecimento”.
A irmã mais velha do rapaz desaparecido comentou pequenos trechos que já foram decodificados. “Tem um que fala sobre a busca da verdade absoluta. Não temos nenhum texto completo. Acreditamos que vai aparecer alguém em que sintamos essa confiança. Não queremos divulgar imagens para as pessoas tentarem decifrar.”
Alguns detalhes, porém, são reveladores – o principal deles é um autorretrato de Borges ao lado de uma figura genérica de extraterrestre, pendurada sobre o “papel de parede” de inscrições misteriosas. Terá seu interesse por vida alienígena alguma relação com as teorias do Bruno italiano?
“Quem trabalha para si, sua obra não serve para nada, vai para a tumba. Quem trabalha para a humanidade fica perpetuado para toda a vida. A obra dele [de Bruno Borges] é para outros, não é para ele. Tudo foi premeditado para esse projeto, tudo o que está acontecendo já estava escrito. Acredito muito nele. Desde que começamos a conversar sempre acreditei”, conclui Rivasplata.
com informações de revista Super Interessante