Mãe é repreendida por buscar filha na escola com 'roupa curta'
Modelo e professora foi repreendida por buscar filha na escola com 'roupa curta demais'. Desde então, tanto a mãe como a filha passaram a ser perseguidas no colégio (um dos mais tradicionais do Recife). A menina de 6 anos chegou a ser boicotada por outros coleguinhas, possivelmente por orientação dos pais
No último dia 27 de março, o colégio Santa Maria — um dos mais tradicionais de Recife (PE) –, enviou aos pais um comunicado em que dizia ser “pertinente que o responsável por deixar e por buscar os alunos usem roupas menos curtas, menos decotadas, menos extravagantes”.
A mensagem polêmica divulgada pela escola foi duramente criticada nas redes sociais e apontada como ‘abuso do direito’ em representação enviada ao Ministério Público de Pernambuco (relembre aqui).
De acordo com pais de alunos que não quiseram se identificar, a circular foi criada por causa da modelo e professora de ginástica Madelayne Cavalcanti, de 29 anos.
A filha de Madelayne, de seis anos, estuda no primeiro ano do ensino fundamental. A mensalidade na escola custa em torno de R$ 1.200. As informações são da Folha de S. Paulo.
A modelo vai buscar a garota com roupas que costuma usar no dia a dia do calorento Recife. “Às vezes vou com a roupa da academia, às vezes com short jeans, nada de anormal. Tem mães que vão com menos roupa.”
Na circular não estava escrito, mas os fatos que se seguiram reforçam a tese de que o documento foi feito sob medida para Madelayne.
No mesmo dia do envio, a modelo conta ter sido chamada para uma reunião na sala da diretora da escola, Rosa Amélia Muniz.
“Ela disse que aquele era um ambiente familiar e uma escola tradicional e depois pediu para eu falar um pouco da minha vida e da minha filha. Eu disse que trabalho com publicidade, sou modelo, atriz e musa do Santa Cruz. Ela só baixou a bola quando eu disse que meu marido trabalha na Justiça do Trabalho”, relata Madelayne.
Também naquele dia 27 começaram a chover, em grupos de mães em aplicativos de celular, fotos da modelo seminua, em poses sensuais, em postagens que a apontavam como motivo da circular. Desde então, Madelayne diz que a filha é boicotada por colegas.
Uma psicóloga da escola, diz a mãe, tem acompanhado a garota. A modelo também se queixa de que gritam seu nome na rua quando vai caminhando deixar a filha no colégio e que passou a ter de tomar ansiolíticos.
Ela diz que não pretende tirar a filha do Santa Maria.
Uma mãe que participa de três grupos de mães do Santa Maria no WhatsApp, disse que nesses fóruns prevalece um juízo depreciativo sobre Madelayne e há apoio integral à atitude da escola. Antes do envio da circular, um grupo de mães fora à direção reclamar dos trajes da modelo.
“O que incomoda não são minhas roupas, é o meu trabalho”, observa Madelayne.
Ao saber do caso, a professora de direito constitucional e procuradora do Distrito Federal Roberta Fragoso, recifense que vive em Brasília e não conhecia Madeleyne, disse ter ficado revoltada.
“É possível que uma entidade particular discrimine seus consumidores? Que uma loja, por exemplo, por ser cult, só aceite como clientes pessoas bonitas? No Brasil, não. A Constituição não permite essa discriminação.”
“Creio que houve preconceito quanto à origem humilde da moça, que ganha dinheiro hoje com sua profissão, mas não é de uma família tradicional de usineiros falidos”, afirma Roberta Fragoso.
A procuradora formulou, então, uma representação ao Ministério Público de PE, em que pede a investigação do caso e “aplicação de todas as medidas punitivas cabíveis, inclusive indenização por dano moral coletivo”.
A petição foi encaminhada ao promotor de Defesa dos Direitos Humanos Maxwell Vignoli, que não quis se manifestar antes de analisar os autos.