Manifestante que quase perde a vida dá lição de humanidade em 1ª entrevista
Agredido de maneira covarde por um policial durante uma manifestação contra as reformas do governo, estudante ficou 18 dias internado e quase perdeu a vida. "Acho que foi uma violência fora do comum, gratuita, chocante. Mas, especificamente contra ele, não tenho nada"
Agredido por um policial militar em protesto na Greve Geral, em 28 de abril, o estudante de Ciências Sociais Mateus Ferreira, 33 anos, diz que ficou chocado com as imagens da agressão e que no momento chegou a achar que fosse um tiro.
Ele foi atingido no rosto por um cassetete pelo capitão Augusto Sampaio, subcomandante da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar na Praça do Bandeirante com a Avenida Anhanguera, no setor Central, em Goiânia.
Em entrevista exibida neste domingo (28) no Fantástico, programa da TV Globo, Mateus conta que não lembra detalhes do momento da agressão.
“Eu perdi toda essa memória do dia do protesto. Mas a única coisa que eu me lembro foi do momento da agressão, que eu ouvi um estalo. Eu levei a mão à testa, senti o ferimento. E no momento até achei que fosse um tiro, não sabia o que era. Olhando o vídeo, pareceu muito gratuito. É bastante chocante pra mim.”
Uma gravação divulgada nas redes sociais mostra a agressão ao estudante após confusão entre manifestantes e policiais. O protesto era contra as reformas trabalhista e previdenciária, propostas pelo governo de Michel Temer.
O estudante passou 18 dias internado no Hospital de Urgências de Goiânia, sendo 11 dias em estado grave, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O golpe causou traumatismo cranioencefálico e múltiplas fraturas e ele precisou passar por um procedimento de reconstrução facial.
Na primeira cirurgia, os médicos retiraram pedaços do osso quebrado. A segunda cirurgia foi para reconstruir a parte afetada pela pancada na testa. Mateus ainda está com mais de 30 pontos na testa.
Imagens das tomografias tiradas antes e depois do implante mostram o osso da testa de Mateus quebrado em pequenos pedaços, de acordo com o Fantástico. A testa foi reconstruída com pinos e cimento ortopédico.
Na entrevista, Mateus contou que tinha risco de vida que que “muita gente até acreditava que não ia sobreviver ou que ia ter muitas sequelas”. Ele está se recuperando em casa, em Goiânia, com ajuda de amigos.
O estudante disse que participou de outras manifestações antes e que no dia 28 usou um pano no rosto para se proteger. De acordo com investigadores, Mateus não tem antecedentes criminais nem registro de envolvimento em alguma confusão em protestos. anteriores.
“É bastante comum em manifestações ter spray de pimenta, a polícia agir com spray de pimenta, bomba de gás. E, às vezes, a gente coloca um pano para se proteger mesmo. Não faço parte de nenhuma organização, de nenhum grupo, de partido, de nada. Estava lá como cidadão comum.”
Identificado como autor da agressão, o capitão Augusto Sampaio foi afastado do cargo de subcomandante de um batalhão da PM em Goiânia e está exercendo funções administrativas. Em 4 de maio, a Polícia Civil abriu um inquérito para apurar abuso de autoridade do capitão.
Na ficha funciona de Sampaio, constam envolvido em outras quatro ocorrências de agressão em 12 anos, mas nenhuma punição. Também estão registrados elogios ao PM.
Questionado pelo Fantástico sobre como se sente em relação ao agressor, Mateus afirmou que a conduta da polícia é preocupante para a democracia porque pode diminuir a participação em manifestações.
“Não sinto nada. Acho que, para mim, ele estava ali, ele se excedeu. Acho que foi uma violência fora do comum. Mas, especificamente contra ele, não tenho nada. A questão da violência em geral nos protestos é uma coisa que precisa ser debatida publicamente. Eu vejo como uma coisa preocupante para a democracia, para o país, de as pessoas terem esse medo de eventualmente participar de uma manifestação e sofrer uma situação de violência.”
Huffington Post